segunda-feira, novembro 30, 2009

Ousar lutar – ousar Vencer.





Não, não virei maoísta ou mrpp, ou algo de semelhante.

Para mim foi mesmo estar à beira de uma estrada: estava bem sossegado, quase que “acomodado” do lado de cá, e não sei dizer quando é que tudo mudou. Só sei que a vontade começou de mansinho e, de repente, quis, desejei, ousei tentar atravessar a estrada.
E tendo conseguindo verdadeiramente passar para o lado de lá e seguindo de novo um necessário caminho sei que darei por mim a murmurar:
Valeu a pena? Sim, completamente!

PS: Tudo a propósito do meu comprometimento com a Manifestação do PNR do 1º de Dezembro e tudo o que vier a seguir.
Iniciamos nesta data os nossos (60) anos de Resistência. Não verei a Libertação, mas posso ajudar a formar as “Almas Ardentes” (de que nos falava o muito nosso Léon) que em devido tempo vão pôr os Andeiros a andar daqui para fora. Seja pela porta, seja pela janela!

Estou a ler



A ler absolutamente. Também eu que vivi algumas (muitas) coisas do que lá está relatado (e disso sou testemunha) estou a ler com olhos de ler. Tem erros, sim tem erros. Mas até agora menores. Mas dá uma visão muito real de tempos bem duros da minha juventude.

PS: Atenção ao comprarem o livro. No Sábado na Bertrand da Baixa quem comprou o livro antes de mim teve direito a um livro com uma série de folhas em branco (no capítulo 12) .Ele ficou danado, mas a Bertrand trocou-lhe o livro. Por sorte o meu estava inteiro.

Velada de Almas, em véspera da Perda da Independência

VELADAS D’ARMAS E D’ALMAS

À memória do 1.º cabo, António de Oliveira
Paulino, meu devoto e sempre lembrado
condutor-auto.


1.

A dois dedos da madrugada
me adianto
para o camarada
morto — e canto, canto

como quem aponta uma espada
ao espaço do próprio espanto!...

Fixar-lhe a face fechada
é agasalhá-lo no manto
do tempo que arrecada
e cujo tampo levanto

É calcorrear uma estrada
com memórias a cada canto,
entoar a mais bela balada
do desencanto.

E não há nada
que valha tanto!

A dois dedos da madrugada
— canto!, canto…
Camarada:
Em pranto, canto!

2.

Quedou sempre manhã cedo
Na vida do camarada
Que o degredo não degrada,
Vem a medo, bem-amada

E singra e sangra em segredo
(E singra e sangra, sagrada)

3.

Pelas alturas se altera
Que outra vida o persuade
A ficar, em sonho, à espera
— À espera da eternidade…

Hoje é indício de enseadas
Além-Morte (A Morte vence-o,
Com o cilício e as ciladas
Do seu solene silêncio…)

4.

Agora, ei-lo a sós
Por trás da muralha
Do sono, e da voz
Que o silêncio agasalha

Da guerra descansa,
Em paz — tal maré
Sobre quem só é lembrança
Ou mais que lembrança é.

5.

Moída mais que por mós
A memória dá recado
De um coração que por nós
Bate apesar de enterrado.

Concha do chão, sonho a sós,
Na morte o encontro marcado
Do silêncio com a voz,
Do presente com o passado.

Veio a noite, e a paz após.
De vala a vala embalado,
Ali jaz, sono sem foz,
Em solidão o soldado

Atrás do remorso atroz
Que punge e chaga do lado
De um coração que por nós
Bate apesar de enterrado…

Pela dádiva desmedida
Do eterno camarada

Levo o tempo de vencida
E trago na minha vida
A morte dele hospedada!

Rodrigo Emílio

Tempo de vésperas

Não venci todas as vezes que lutei;

Mas perdi todas as vezes que deixei de lutar!

Meditação em tempo de vésperas. Hoje às 24 horas Portugal perde o que restava da sua Independência.

Amanhã, às zero horas em ponto inicia-se o combate para reconquistar a Independência.

Ninguém está dispensado dessa tarefa. Não se admitem pessoas que digam que já não vale a pena. Que estamos falidos, que "eles" não merecem...

Como dizia (sempre bem, como é normal) o Rodrigo Emílio, vamos "pôr a andar os Andeiros".

quinta-feira, novembro 26, 2009

Até ele se ri

quando pensa que como seria melhor se em vez de políticos de face oculta, tivéssemos políticos de face culta.

terça-feira, novembro 17, 2009

Boa Poesia, de um Bom Poeta

Soneto de Inês

Dos olhos corre a água do Mondego
os cabelos parecem os choupais
Inês! Inês! Rainha sem sossego
dum rei que por amor não pode mais.

Amor imenso que também é cego
amor que torna os homens imortais.
Inês! Inês! Distância a que não chego
morta tão cedo por viver demais.

Os teus gestos são verdes os teus braços
são gaivotas poisadas no regaço
dum mar azul turquesa intemporal.

As andorinhas seguem os teus passos
e tu morrendo com os olhos baços
Inês! Inês! Inês de Portugal.

(José Carlos Ary dos Santos)

Que belo Poema


Rendas Pretas

O que sinto por ti,
São rendas pretas..
Recordações vagas, indiscretas
De um corpo que conheci.

O que sinto por ti
São rendas pretas..
Volúpias de cetim, sedas secretas
Que tu despias para mim…

Pedaços de fantasia,
Que vestias para estar nua..
Restos de noite que a lua,
Na tua pele descobria.

O que sinto por ti,
São rendas pretas,
Essas renda incompletas,
Que nos dedos descobri..
Quando ao ver-te assim despida..
Me dei…e te possuí.

Dessas nocturnas intrigas,
Que me calaram de espanto
Das meias finas, das ligas
Das rendas que te ofereci,
Lembro ainda o doce encanto,
Das rendas pretas em ti,
Do corpo que me ofereceste,
Quando entre as rendas te deste..
E entre rendas me rendi..
Tão tranparentes macias,
As rendas que tu vestias…
Hoje tão tristes …sem ti!

[Fernando Tavares Rodrigues]

(7 de Março de 1954 – 9 de Março de 2006)

Que belo Poema de um Grande Poeta (e que bem o canta José Campos e Sousa). Lembrei-me muito dele hoje.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Afinal sempre vai ser dia 1º de Dezembro



Pois é o Tratante de Lisboa vai entrar em vigor no 1º de Dezembro.

Cumpriu-se o círculo. Renascemos dia 1º de Dezembro de 1640, trezentos e sessenta e nove anos depois, perdemos - uma vez mais - a Independência.

Praza a Deus que não tenhamos de esperar (outros) 60 anos pelas defenestrações do Terreiro do Paço.

Ou como dizia o nosso Rodrigo Emílio: pôr a andar os andeiros ...

Qualquer semelhança com Portugal...

É pura coincidência, digo eu ...



Ontem, dia de chuvadas (re)vi este filme de Louis de Funés.

Veio-me logo à cabeça a famosa frase « Serei um Presidente como Louis de Funès no Grande Restaurante: servil com os poderosos, ignóbil com os fracos. Adoro!"

terça-feira, novembro 10, 2009

A nova ordem social … no Portugal de hoje

Aos amigos, os cargos; aos inimigos, a lei.

Apostilha: Lembram-se da famosa ameaça? "Quem se mete com o PS leva"!!!

segunda-feira, novembro 09, 2009

Guerra Junqueiro - A actualidade

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.