quinta-feira, novembro 29, 2007

O Céline da Banda Desenhada


No passado dia 16 o Público publicou um artigo de Carlos Pessoa com a “descoberta da pólvora”. Nada mais nada menos de que o famosos autor de Banda Desenhada André Daix, autor da série Professor Nimbus, se tinha refugiado em Portugal em 1948, após a “libertação” de França, e, mais, que tinha continuado a exercer a sua profissão em Portugal.

No tal artigo o autor diz que tal facto era completamente desconhecido de todos. De todos não. Só daqueles que andavam distraídos.

André Daix, de seu verdadeiro nome André Delachenal veio para Portugal nos finais dos anos 40. Refugiado politico fugiu a uma condenação à morte (em ausência) e que depois foi comutada para 20 anos de prisão. O seu crime: ter continuado a sua actividade como desenhador gráfico, sendo autor de uma série de cartazes anti-semitas, anti-capitalistas, anti-americanos e favoráveis ao PPF. Aliás a sua admiração por Doriot era de todos bem conhecida

Veio para Portugal e a certa altura foi morar para a Estrada de Benfica (muito perto da casa de António de Séves). Cultivava a amizade de diversos refugiados políticos franceses e de uma série de intelectuais portugueses. Com o nome de Maniez assinou diversas histórias em revistas especializadas de BD juvenil em Portugal. Isto até os anos 70. Ainda me lembro das suas aventuras no “Cavaleiro Andante”. Colabora também no Jornal do Exército e chega a fazer caricaturas para o “Agora”.

Conheci-o em casa do Comandante Valentin (velho “petainista”) , na Lapa, onde funcionava a Aginter Press. Nunca escondeu o seu verdadeiro nome, apesar do passaporte de que era detentor ser em nome do tal Maniez.

Depois do 25 do 4 resolve (tal como tantos e tantos refugiados políticos franceses) regressar à mãe Pátria, escapando ao prec e previsíveis perseguições.

Recordo o seu lendário sorriso, o porte altivo e sempre impecavelmente vestido, simples no contacto com as vendedoras do supermercado com quem acamaradava, visto detestar a estupidez e amar o povo.

Não, não era o professor distraído e trapalhão com um cabelo em forma de interrogação que definia o seu personagem mais famoso – o Professor Nimbus. Era antes um aristocrata do desenho, com uma cultura geral muito intensa e bem fundada por largo estudo.

O historiador de BD Jean-Claude Faur, coloca Daix numa linha de grandes desenhadores "muito comprometidos à direita", como Saint-Ogan, Sennep ou Hergé.

Morre em 27 de Dezembro de 1976, com pouco mais de 70 anos.

2 comentários:

Flávio Santos disse...

Obrigado por este retrato de alguém que eu, admirador de BD clássica, desconhecia. Vou espiolhar a colecção do Cavaleiro Andante.
Uma correcção: o partido de Doriot era o PPF (e não PNF).

josé carlos disse...

Tem toda a razão. Eu é que ando com a cabeça em água, caso contrário teria dado pelo disparate. Obrigado pela observação que me impediu de dar a barraca que dei.