terça-feira, outubro 02, 2007

BRASILLACH E A SUA OBRA – 4/8

Um ano depois — em 1937 — surge novo romance onde a maturidade do seu autor começa a estar patente. É ainda um drama da juventude com páginas inesquecíveis de romanesco. Mas o escritor amadureceu o seu tema e trouxe para a cena um elemento novo que é de considerar. O anterior autor de Histoire du Cinéma aproveitou essa experiência para nos dar algumas das páginas mais coloridas e vivas do seu romance Comme Le Temps Passe... O tempo da acção divide-se em diversos andamentos e cada andamento tem o seu estilo próprio que, apesar disso, se une ao todo que constitui o romance, onde se conta uma história que começa nos dias despreocupados da infância vivida na Maiorca por dois primos — René e Florence — que dentro da sua ilha constroem a ilha sonhada na sua imaginação. Tudo lhes sabe a novo na descoberta do dia a dia. É um encanto de pureza e de lirismo este primeiro andamento do romance. Surgem ainda os tipos humanos que ligam as idades; e neste romance destacaremos dois que deslizarão sempre ao longo da história, baralhando-se nela e até nela influindo: Matricante, espécie de faz-tudo que a toda a vida moderna se adapta, e Epítome, professor de uma escola de ilusionismo e magia, ele próprio mago e ilusionista. René parte para Paris e é o fim da infância: a “ilha” que ele e Florence criaram não saberá mais ao gosto açucarado do tempo que passou. René cresceu, fez-se homem e vai na troupe cinematográfica. É o princípio do cinema como arte e como exploração comercial. Mas é um mundo preenchido por figurantes novos que vive do sonho de uma Catalunha independente em poemas e em aventuras várias. Nesta figura de anarquista se polarizam os desdobramentos vários de uma adolescência para quem o mundo todo se abre. E é o roteiro do cinema com suas fitas de curta metragem, seus figurantes de acaso, onde se encontra Elsa, que responderá à necessidade do amor físico de René.
Quando a digressão acaba, ficou dela uma experiência válida e a raiz do futuro nessa Elsa que vai procurar vida nova para outros horizontes. É, a seguir, o regresso de René ao amor puro e jovem de Florence, e, por certo, dele brotam as mais belas páginas de amor e da literatura contemporânea na noite de núpcias que ambos vivem em Toledo. Depois é a vida, é o filho que nasce, é o pão de cada dia que tem de ser ganho. Novamente a figura de Matricante, agora agenciário de automóveis, a ajudar o jovem casal e a enviá-lo para a paz podre da província, onde no destino dos dois se cruzará a figura de Passeur, oficial do Exército que tenta o amor de Florence. É quase a queda no súbito despertar das fontes da infância. O que a detém pode ter sido o acaso: mas o acaso não foi tão subtil que não permitisse o ciúme a René. E ele parte, parte para uma longa viagem de que não dá o roteiro a ninguém. É a guerra e René faz a guerra: aí, encontra um camarada que como ele tem um drama na sua vida, Jacques le Sur. E essa vida, que ele ama mais que tudo, abandona-o num ataque inimigo. A paz e o novo reencontro com a vida. O filho de René cresceu e é na Sorbonne que encontra uma rapariga, Geneviève, que para ele representa a juventude que Florence representou para seu pai. Com a agravante: ela é filha de uma das artistas de cinema que seu pai amou e com a qual fez arte. O passado volta sempre à memória de Florence e um dia, quando regressava de um espectáculo dos Pitoëff, encontra colado ao seu vulto no espelho do teatro a figura de um René, mais velho, com os cabelos a grisalharem. Vão para casa como dantes; regressam a casa como à “ilha” da infância... O tempo tinha passado, mas o amor não. É neste romance que se sentem os primeiros toques da nostalgia de uma juventude que ia passando, mas ficarão várias páginas admiráveis, várias experiências, vários comportamentos e ainda um grande e cálido amor à vida, essa vida que todos sorveram — velhos e novos — enquanto o tempo passava, sem às vezes se dar pela sua passagem

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