quarta-feira, outubro 31, 2007

Nunca saberemos tudo - 2

Apesar de na caixa de comentários já ter dado uma primeira resposta ao meu estimado anónimo sobre o caso Duprat não quero deixar de dar mais umas achegas.


Não acompanhei o caso na altura do atentado (1978, por me encontrar em Portugal e com muito poucos contactos internacionais). De conversas tidas com alguns visitantes nos anos posteriores tive as notícias que dei. No entanto convém ver o seguinte: a tecnologia usada parece-me não estar ao alcance de qualquer organização mais ao menos política ou mafiosa. Pode-se argumentar que muitos dos ex-OAS (nomeadamente os oriundos do Exército - 2ª repartição) dominavam essas e outras tecnologias. No entanto todos os atentados levados a cabo pelos ex-OAS ainda activos (nomeadamente em Espanha, França, Itália, etc.) não utilizaram essas tecnologias, mas sim outras bem mais simples. Porquê só naquele caso? Porquê uma bomba que só explodiu numa estrada secundária e sem trânsito em vez de no arranque do carro? Para fazer menos vítimas, sim sem dúvida. E vocês acham que se fosse uma organização terrorista de direita ou um mafioso do "bas fond" se iria preocupar com esse detalhe?


Não podemos excluir o facto muito importante de Duprat estar muito ligado aos palestinianos, sírios e até libaneses.


Mais do que o negacionismo foi talvez essa a causa principal da sua morte. A guerra do Líbano tinha acabado há muito pouco tempo. A Síria reforçava a sua posição como potência regional. A alguém ou a muitos interessava a sua morte. Como diziam os detectives dos livros policiais, a quem interessou o crime?


Confesso que é tudo o que sei. Foram-me ventilados (e eu, como é óbvio, já os esqueci) - confirmo - os nomes de algumas pessoas de uma determinada nacionalidade que tiveram de abandonar a França na altura.

Falei em Caignet porque também no caso dele se tentaram manobras de desinformação para despistar as investigações policiais e retirar a carga política ao crime.


É pois tudo o que sei. É pouco reconheço. Mas, às vezes, vale mais saber o menos possível. É um conselho que dou a todos.

terça-feira, outubro 30, 2007

Nunca saberemos tudo

Um estimado leitor concita-me a comentar a hipótese de François Duprat ter sido vítima de uma vingança interna de jogos de poder em vez de ter sido assassinado por um grupo judaico.
Vamos a ver. Nunca poderemos ter a certeza de tudo na vida. Às vezes nem tudo o que parece é. Lembro-me de ter assistido (com estes olhos e ouvidos) a uma maquinação relaccionada com a guerra de Moçambique e em que um personagem (um figurão, digo eu) queima ostensivamente o exército português e o General Kaulza para poder continuar com o seu maquiavélico plano de ser poder num Moçambique independente. Sobre isso um dia falarei.
Logo, não sendo eu adepto nem entusiasta das "teorias de conspiração" reconheço que elas por vezes existem.
Quanto a Duprat parece não haver dúvida sobre os assassinos. Foram identificados, soube-se o seu "modus operandi". Só não foram detidos e julgados porque (para além de muito pouca vontade de os punir) se escapuliram para um outro estado onde tinham automaticamente a nacionalidade adquirida.
O mesmo, aliás se passou com o atentado contra Michel Caignet. Os meios oficiais de comunicação bem como os do costume lançaram a hipótese de o seu desfiguramento com ácido se ter devido a razões de "costumes". Poderia ter sido se eles não tivessem cometido um erro. Para além de lhe desfazerem o rosto (devo dizer que o conheci - de vista - antes e - presencialmente - depois do atentado. As marcas são do mais horrível que se possa imaginar) também desfizeram com ácido a sua mão direita (para que não voltasse a escrever). Com esta acção sobre a mão (que escrevia e a cabeça que pensava) deitaram por terra todas as versões que espalharam para justificar o injustificável.
Logo e depois disto o que posso dizer é que ao longo destes anos já tenho assistido a tantas coisas (intrigas, bocas, etc) que nada me espanta. Mas quanto a Duprat "eles" não se enganaram. "Eles" sabiam muito bem quem matavam. O alvo não era Le Pen ou outro mediático. O alvo era o pensador, o animador e o organizador. Tudo me leva a crer que sim foram "eles" que o mataram. Se ajudados ou não, isso não tenho nem competência nem conhecimentos para o afirmar ou negar. Estas coisas são meras questões laterais.
Aliás devo dizer que - para além do passado em Portugal - também assisti a guerras de "desinformação" em Itália, Espanha e Bélgica. Sabem uma coisa. Nunca lhes liguei.

Lá vamos cantando e rindo...

Li hoje, sem espanto algum - diga-se de passagem -, que só no mês passado foram vendidos 70 mil milhões de US$ em títulos americanos. Os principais vendedores foram os chineses, japoneses e árabes. A este ritmo de tantos mil milhões por mês dentro de menos de uma ano a economia dos USA rebenta. Como os meus estimados leitores saberão o deficit americano é suportado pela emissão de papel moeda. Com há sempre comprador, nunca há problema... Vantagens de terem imposto ao mundo a mudança do escalão ouro pelo escalão dollar (só com a oposição de De Gaulle, Salazar e Paul Henry Spaak).
O perigo para todas as economias europeias é assustador. Poderemos cair em pior situação do que na crise de 1929. Acreditem que é verdade! E "nós" não estamos preparados!
Apostilha: Porque será que, desde que o Irão declarou querer receber o petróleo em euros em vez de dolares, as ameaças de acção militar não param de crescer. Quanto às armas atómicas, essa história já a conhecemos do Iraque. Inventem outra, sff.

O túmulo do gigante


É aqui que repousa o Gigante. As suas cinzas continuam a pairar sobre todos nós.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Degrelle visto por um americano ...

Jonathan Littell, o norte americano de origem judaica (a família saiu da Polónia para os EUA nos finais do século XIX) e que ganhou o "Goncourt 2006", vai publicar, na Gallimard, e dentro de dias um livro intitulado « Le Sec et l'Humide », (o seco e o molhado) no qual vai responder a críticas que lhe foram feitas a propósito do seu livro « Les Bienveillantes ». Esse livro (que não li - aguardo a tradução portuguesa da D. Quixote) trata do período da segunda grande guerra civil europeia (vulgo IIª Guerra Mundial).

Este novo livro vai tratar de vida de Leon Degrelle, em quem o autor (segundo as suas próprias palavras) se inspirou para escrever o referido romance.
Ora sendo o personagem do livro « Les Bienveillantes » um homossexual, incestuoso, assassino psicopata, não percebemos o que é que Leon Degrelle tem a ver com o assunto. No entanto garanto-vos que vou ler esse livro. Deve ser um "show de bola".
Ou seja eles tentam tudo (mas mesmo tudo) para diminuir Leon Degrelle. No entanto nunca o conseguirão. O Túmulo do Gigante em que estão espalhadas as suas cinzas continua a ser um dos principais destinos das peregrinações dos nacionalistas europeus. A tal ponto que as autoridades belgas ( a título dos interesses ecológicos...) quererem impedir que tal aconteça... A democracia é muito bonita, não é?

"Ganda nóia"

Desde ontem ou anteontem que só me falam de um filme que deu na TV em que um espanhol agride (num comboio) uma sul americana de forma gratuita.

Pensei logo: vai sobrar para a extrema direita. É canja.

E logo, logo o meu primeiro interlocutor afirmou peremptoriamente: Tinha o cabelo cortado (aí assustei-me, eu também uso cabelo curto), logo era um skin head. Elementar meu caro Watson, diriam os Sherlocks da nossa praça.

Mas vai-se a ver não era. Era apenas um desequilibrado mental, drogado, alcoólico. Enfim um rapaz normal desta civilização sub urbana e infra urbana que rodeia as grandes cidades desta Europa decadentista.

Mas olhem que o SOS racismo lá do sítio andou a investigar tudo para ver se encontrava pelo menos um amigo, vizinho ou colega que fosse "um filho da prima da empregada da loja,cuja avó tinha tido um caso com o tio-bisavô de algum fascista". Pois nada. Não conseguiram descobrir nada. Ficaram frustrados.

Mas uma reflexão impõe-se: porque raio é que as TV não mostram (com o mesmo ênfase) as imagens recolhidas pela nossa CP dos "mini-arrastões" diários nos comboios da linha de Sintra?

Porque não é politicamente correcta a cor e o cabelo dos intervenientes? Porque têm medo da filha (jornalista) do Major que dirigia os Serviços Secretos da Legião Portuguesa?

Não deve ser nada disso. Deve ser apenas porque não é notícia importante, digo eu, que (com esta idade) ainda sou muito inocente...

terça-feira, outubro 23, 2007

Não resisto a continuar a falar de Cinatti


Ainda Cinatti e a sua “doença”: “Afundou-se na paixão incurável de uma cultura exótica e fascinante, e ao mesmo tempo portuguesa” :

“Os timorenses comportam-se como heróis camilianos. Serenos e precisos nas suas determinações, por vezes espectacularmente barrocas ... os seus gestos passam, ante os nossos olhos, como o desenrolar de uma Novela do Minho

O “Cravo Singular” e o “Timor – Amor”

Rui Cinatti deu-nos, depois do 25 do 4, dois dos seus melhores livros – os do título deste postal.

O Cravo Singular (livro precioso) foi um dos “desaparecidos” da minha biblioteca. Do Timor – Amor, deixo-vos este poema de 30 de Junho de 1974 (ainda com o “pindérico do pingalim” no poder, e apenas 3 dias após o discurso de 27 de Junho em que ele reconhecia a inevitabilidade da descolonização):

Hei-de chorar
as praias mansas de Tibar e Díli,
as manhãs, mesas de bruma, de Lautém,
os horizontes transmarinhos de Dáre,
as planícies agrícolas
de Same e Suai.

Ao Tat-Mai-Lau
O Avô dos Montes,
hei-de subir
- e descer à châ verdade que todos
negoceiam,
a verdade – minto! – que já tardam
os que por Timor não esqueceram,
pecando por atraso,
malícia, tibieza,
Timor e Timorenses isolados!

“Aqueles que me amam...

... conhecem o mistério que torna a minha voz inesquecível”.

Assim falava Ruy Cinatti. Poeta, etnólogo, antropólogo, e acima de tudo o Homem que amava o Timor Português. A Cinemateca está repleta de testemunhos por ele filmados e fotografados ao longo de anos e anos de dedicação à sua terra de adopção.

Dia 13 deste mês completaram-se 21 anos do seu passamento. Cumpriu-se o seu vaticínio “hei-de morrer como um rato na sarjeta”. Esquecido dos amigos, antagonizado com os intelectuais que tanto o adularam - para o “obrigar” a ir para o campo “anti-salazarista” (nunca conseguiram) – e a quem nunca perdoou o seu alinhamento ideológico com a “exemplar” descolonização.

Cinatti arrastou os seus últimos anos – e o seu cancro - só (não tinha família) e abandonado por todos, visto as suas ideias politicas serem cada vez mais “politicamente incorrectas” e por o declararem “louco” (logo ele que assumia que “tenho uma doença chamada Timor”). Tive o privilégio de poder ter lido uma sua carta a Rodrigo Emílio. Era pungente. Era o reconhecimento de que tudo o que ele tinha sentido e passado ao longo de toda uma vida tinha sido despedaçado em nome dos interesses das grandes potências, a que os “abrilistas se tinham submetido”.

Quem não se recorda do seu périplo por toda a Lisboa tentando impedir o impossível (o abandono de Timor). È dessa data o seu livro de poemas “Timor – Amor” (em edição de autor, visto ninguém o ter querido publicar). O autor da maior colectânea da Poesia tradicional timorense “Um cancioneiro para Timor” nunca se rendeu e lutou até ao fim. Quando ninguém assumia a defesa de Timor (uns por vergonha, outros por motivos ideológicos, outros ainda porque não valia a pena) lá estava ele. As vezes que o vi no Jamor e, no comício de Múrias no Pavilhão dos Desportos e em que os espoliados do Jamor – Timor, se exibiram (para a todos lembrarem o sacrifício das suas gentes), estarão sempre presentes na minha memoria.

Ninguém falou dele nos últimos anos. Nem nos 20 anos da sua morte. E eu, que tanto o admirava também me ia esquecendo (das datas, nunca da sua vida e obra). Ainda vou a tempo, é o que me vale.

21 anos depois da sua morte, em “que se viu livre da sua tarecada” (o seu corpo e os seus bens) e regressado que foi à terra, quero apenas saudar e relembrar este grande português que nos enobreceu pelo amor imenso ao seu Portugal (de Minho a Timor).

O “camisa vermelha” deste país ... ou o émulo de Hugo Chavez

O senhor ministro da saúde resolveu mostrar urbi et orbi que é muito progressista. Vai daí lançou o “diktat”: Ou a Ordem dos Médicos muda o seu Código Deontológico, ou ele obriga-os a mudar.

Garanto-vos que parecia que estava a ouvir o Chavez (o grande amigo do Soares) lá na Venezuela dirigindo-se aos emigrantes portugueses... Para isso baseou-se num parecer, que “parece” ter sido emitido lá na PGR do nosso contentamento.

Das duas, uma. Ou são completamente ignorantes face ao direito ou estão com confusões ideológicas na cabeça. O Código Deontológico da Ordem dos Médicos não é, desde há mais de 20 anos, nenhum diploma legal. Avisadamente os clínicos resolveram não sujeitar o seu código ético a meras conjunturas politico - partidárias, e limitaram-no a um conjunto de orientações éticas, sem força de lei ou sem força disciplinar. Inteligentes, pelo que vemos.

Mas a PGR e os demais progressistas deste país estão danados com uma coisa. Na tal Orientação Ética está a condenação da violação da vida desde a sua concepção. Ora aqui é que a porca torce o rabo. Então “eles” não aprovaram a lei dos abortos. E como é? Os médicos dizem que é errado e “eles” dizem que é certo?. Apaga-se o incómodo dos “disparates dos médicos” (que sabem lá alguma coisa – “nós” é que sabemos!). Assim fica tudo bem!

Não sei qual a reacção que a Ordem vai ter. Se calhar nenhuma. Mas eu, se fosse responsável da Ordem, mandava-os dar uma “voltinha ao bilhar grande” e continuava a ser fiel às minhas ideias e não às ideias impostas por um partido politico. E “eles” que façam o que lhes der na “republicana” gana.

Mas “neste pais” já nada me espanta.

E viva a Revolução Bolivariana (não é senhor ministro)!

segunda-feira, outubro 22, 2007

O Tratado, ou o Tratante, ou lá o que é

Fiquei estarrecido. Não é que a D. Edite Estrela, socialista da nossa praça, veio declarar - alto e bom som (e sem sombra de vergonha) - que nenhum português pode estar contra o tratado, visto o mesmo ter o nome de Lisboa, o que nos vai engrandecer muito.

Eu já não consigo dizer mais nada. Juro, isto é demais. Não sei como se marca uma consulta de psiquiatria, mas isto, a continuar assim, obriga-me, pela certa, a ir parar ao divã!!!!

A culpa afinal foi da pide...

Contei-vos anteontem que tive um encontro com um velho Amigo e ex – camarada. São sempre conversas muito estimulantes. Vemo-nos duas, três vezes por ano, quando ele desce ao povoado lá dos “altos da serra de Bruxelas”.

Desta vez o tema foi (como não poderia deixar de ser) o da liberdade de expressão e de manifestação. Tudo a propósito de eu o ter concitado a ir à manifestação de Sábado (já que eu nesse dia estava a trabalhar) e expressar o seu repúdio por tudo o que tinha acontecido.

Lá lhe expliquei o que se tinha e estava a passar. Pouco sabia, para além do que tinha lido neste espaço.

Mas ele bem me dizia: são “fascistas” o que é que queres? Aliás, a culpa é da pide que estragou a vida ao pai da senhora. E ela agora vinga-se...

Fiquei siderado com a resposta. Lembrei-lhe a fábula do lobo e da ovelha. Mas ele insistia. E que também a Justiça não é vingança (como qualquer licenciado em direito – mesmo da Independente – teria aprendido lá nos bancos das faculdades por onde andou a queimar as pestanas). Não desarmou e disse-me, por fim, para eu não me preocupar, visto que nem conhecia os tipos que estavam “dentro”.

Aí, passei-me.

Referi-lhe os dois casos que mais me chocaram nesta história: a apreensão dos livros (sobre a qual já me pronunciei bastante) e mais ainda o facto da ameaça de mandar varrer os nacionalistas da rua (presumivelmente feita pela referida senhora). E ele continuou a achar bem. A pide fazia o mesmo, referiu.

Lembrei-lhe o facto de – presumivelmente – já não estarmos no mesmo período. Relembrei-lhe também o facto de haver uma constituição. E que para já – e enquanto o tratado (ou tratante ou lá o que é) não entrar em vigor – a lei constitucional prima sobre todas as leis que se façam neste país. E relembrei-lhe que estava expressa no referido documento a possibilidade de “haver ajuntamentos de mais de duas pessoas”.

Mas ele é que continuou a não desarmar. Voltava sempre ao mesmo: a culpa era da pide.

Pronto ficámos assim. Ele na dele e eu na minha. Mas quando voltei para casa fui ler a tal da constituição. E lá estava (... têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização...)

Ou seja, para além do facto de não se poder trazer armas e se ser pacífico, nenhuma limitação é feita ao acto de as pessoas se poderem reunir. Agora expliquem-me lá uma coisa – pois eu não sou jurista: será que os procuradores não tem de cumprir a Lei? E não podem ser responsabilizados por a incumprirem? Então a ameaça de chamar a policia de choque para “varrer” aquela gente não é um ilícito?

A ser verdade que a referida senhora disse o que foi referido, não estaremos nós perante uma ameaça séria e grave a um estado de direito? Ou será que é só o senhor Machado que está a colocar em causa o tal estado? Ou afinal a culpa é mesmo da pide?

Estarão eles mesmo diferentes?

Há poucos dias insurgi-me pelo facto de os jornais terem omitido quase por completo as notícias da morte de João Coito. Por essa mesma data morreu, também, a destacada comunista Julieta Gandra, que para a além da sua militância no PCP foi militante do MPLA, de quem aliás recebia uma pensão.

No mundo nacionalista, e apesar de um certo distanciamento em relação a João Coito, fruto da sua marcelice aguda, ninguém omitiu o seu passamento. Foi mesmo objecto de muitos e variados louvores pelo seu Patriotismo, pelo culto da Língua Portuguesa e outra suas qualidades.

Mas no mundo da nossa esquerda catita (e mais ligada ao PC) a morte de Julieta Gandra passou muito despercebida.

E porquê, perguntarão os meus estimados leitores. Por uma simples razão. Julieta Gandra, para além de uma militância feroz no PC, MPLA e PRP/BR (pelo menos) teve o desplante de assumir uma relação homossexual com outra camarada PC (Fernanda Paiva Tomás) que conheceu na cadeia de Caxias, e enquanto as duas estavam presas. É claro que foram as duas expulsas do PC.

Sim, porque o PCP sempre teve uma relação muito má com a homossexualidade e com “conversões de Fé”. Basta relembrar o ex- secretário geral Júlio Fogaça, afastado porque “gostava muito de marinheiros”, e mesmo o pai de José Miguel Júdice, expulso pela sua conversão ao Catolicismo.

Hoje, contudo, defendem os homossexuais, os comunistas católicos, etc.

Mas será um “aggiornamento” real ou será mesmo cosmética?

Este caso da Gandra leva-nos à conclusão que se calhar é mais para inglês ver. Não nos esqueçamos que Cunhal imprimiu ao PC uma matriz fortemente conservadora. E que a maioria dos seus militantes têm características também elas muito tradicionais.

Aliás este tradicionalismo do eleitorado comunista é um dos temas que hei-de tratar nas minhas “reflexões” (que juro mesmo) quero levar a efeito em próximos postais. Aliás, François Duprat (enquanto Secretário Geral da FN francesa) identificou-o e explorou-o a bem do seu partido.

domingo, outubro 21, 2007

Porreiro pá ...

Temos tratado.

Estamos tão felizeeeeessss !

Apostilha: Este postal é dedicado a um eurófilo, federastra, lojista, Ps, funcionário em Bruxelas, que já foi nosso e que hoje é deles. Apesar de tudo quiz continuar meu Amigo (e não pesando o facto da "porrada" política que lhe dou amiudadamente - "terapêutica tradicional", como lhe chamava o nosso grande Manuel Maria Múrias).

Não, não é a fotografia dele. Coloquei esta só para o chatear. Então não é que o tipo ontem me dizia que assim, com tratado - ou tratante ou lá o que é - se podem controlar melhor os "pretos". (não sei como, mas ele lá deve ter mais informações do que eu!).

No nosso tempo não eras racista. Hoje é o que se vê! Mas olha que se lá na loja descobrem, lá se vão todas as mordomias que tens conquistado ao longo destes mais de trinta anos...

sexta-feira, outubro 19, 2007

Torga e a “descolonização”


Coimbra, 29 de Setembro de 1975 –
Retorno maciço dos portugueses do Ultramar. Na aflição da fuga, até de barco de pesca vieram muitos, a ponto de alguém dizer que fomos descobrir o mundo de caravelas e regressámos dele de traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem grandeza de uma aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade. Os judeus da diáspora ansiavam por regressar a Canaan. Povo messiânico também, mas de sentido exógeno, para nós o regresso é o exílio. A nossa Terra Prometida estava fora de Portugal.

Miguel Torga, Diário XII, 3ª edição revista

O vazadouro

Razão tinha eu – e tantos e tantos outros – quando nos revoltámos com a ida de Aquilino para o Panteão.

O quê?, o tipo ainda fala disso!

Sim é verdade, e falo e continuarei a falar sempre que necessário. Não é que hoje li um artigo de homenagem a um tal de Camossa (recentemente falecido) e que apresenta como principal currículo o anti-fascismo e a fundação do PPM, (e que andou numa tal de Comissão Eleitoral Monárquica, em pleno marcelismo junto com o Rolão Preto) e que se refugiava muito em paraísos provocados. Assinava o dito um tal Luís Coimbra, que também diz ser monárquico.

E qual não é o meu espanto quando vejo o sujeito perguntar na parte final do seu artigo se o Camossa estaria na disposição e pronto para ir dar uma volta para o Panteão.

Eu também vou começar a escrever umas cartas a perguntar a uns certos sujeitinhos se querem ir para o Vazadouro Nacional (em que “eles” querem transformar o Panteão). Começo pelo Zé do Telhado, e vou por aí fora e não acabo no Otelo, seguirei...

Ora tenham vergonha, mas é!

“Mas dói, isso é que dói...”


Conforme prometido aqui vai a Elegia - Gazetilha de Vitorino Nemésio (nome de remédio como ironizava o também Poeta Mário Beirão).

Qualquer dia ainda me atrevo e faço uma compilação dos “Poetas e o Fim Histórico de Portugal”. “Eles” ainda vão ter grandes surpresas...

Mas, entretanto, deliciem-se, fazem favor:

“Vamos a ver se antes de morrer já morro menos,
Hoje 16, da dor e do cansaço
E, senão às duas coisas, pelo menos
À segunda, que o tem, lhe tiro o “aço”.
Cansa (que alivio das três letras!)
Comer, dormir, rezar: MFA,
PPD, CDS, PCP...
Francamente, porque não pelas finais?
Assim, como na álgebra, teríamos:
OSS, ORO, OOL, OAS
E, com mais ós, mais zeros aparentes;
Em Portugal tudo adoece,
Estamos todos doentes
(e esquecia o PS),
Na força do cansaço e dos plurais,
Chego a pensar a qual hei-de aderir:
Mas como “pluralismo” e “pleurisia”
Tudo tem “pl”, e eu estou com a neura,
Não adiro a nenhum:
Aderência é da pleura.
Só estou muito cansado,
Muito cansado ...
Vou-me encurtar em VN
Que dá para as duas coisas: o meu nome,
E envenenado. VN – nado
Na divina fome:
Antes nunca nascesse abreviado!

“Meu Portugal, meu berço de inocente
Lisa estrada que andei” até Leiria:
Oh quem não fosse gente,
Maçã de Dona Maria!
Alem de que, cantar a quarteto é uma chatice
E poeta velho não adianta,
Nada disse.
Esta tristeza é que me mata:
Nacional sem Nação
Nem já razão de a ter
Não tanto porque falte Angola
Mas porque nada me consola
E tudo aos Açores vai ter.
Lembro-me de Moçambique,
Onde estive uma noite afroindolusa, na ilha,
Já lá não estava Camões com o Diogo Couto
Mas era uma maravilha:
As mulheres listadas,
As casas amareladas,
As lanchas amarradas,
Um ar de Alfama nas janelas
E postigos:
Que boa terra pra “viver de Amigos”!
Mas chegou a FRELIMO e o Samora Machel
E eu sinto-me cansado, retornado,
Colonizado e cruel.
Olha nem português nem coisa alguma.
Meia dúzia de siglas num pedaço de papel,
Caravelas de espuma: MFA, CDS, PPD, MDP-CDE, PCP ...

Nem português, nem vátua, nem monhé,
Maometano ou cristino.
Há lá maior desgraça: homem que não sabe quem é!
Há lá mais triste destino.
Cruel aceno:
Só perguntando à Comissão de Moradores
Que é dela, o Poder Popular
E ir para o Campo Pequeno
Na defesa,
Mesmo que não veja anúncio
Fugir das “boas mãos” do Mouro de Veneza,
Mesmo correndo o risco de passar por uma besta,
Com ajudas e olés do pobre João Núncio,
Que tendo os cavalos mortos precisou de cavalos emprestados
(Ofereçamo-nos a Deus nesta metamorfose),
E, enquanto ele ganhe a sua vida a salvo da trombose,
Salve as nossas peles e a dele.
(Pois ainda aqui há alguma? Pátria ou pessoa?).
Eu puxo pela minha.
Eu, o amigo pessoal de Matibejana,
Régulo de Zichacha,
A quem paguei cachaça,
Eu que conheci o Gungunhana
E com Zichacha matei coelhos no Monte Brasil
Com uma bilharda, zás, no sítio da otite média,
Antes de saber ao certo que este mundo é uma comédia.
Afinal para hoje, ainda a pau, não desarmo,
Estar sujeito à G3 da Dª. Isabel do Carmo,
E se não for o nosso Coronel Jaime Neves
E o nosso Capitão Salgueiro Maia,
A pena, rapaz, com que escreves
Talvez cara te saia.

Triste fim do Leão da Gorongosa,
Escoiceado por um burro na Graciosa ,
Que é lá das minhas ilhas quem os tem mais sonoros,
Mais bonitos de felpa ...
Eu que já vi elefantes maiores do que Chaimites
Destroçarem baobás como quem colhe clematites
E vi o pantanal roncado de repente de hipopótamos,
Antílopes coroados em solteiros
Enquanto os Hiperpótamos que vão de helicópteros ao hold-up
Lestos, nas Embaixadas, empunham as taças de cup.

Eu. Que casei há cinquenta anos com a filha do
Antigo ajudante do General Pimenta de Castro,

O da “criminosa ditadura”,
Para que o Pai, republicano de antes quebrar que torcer
Me habituasse a compreender
A linha um pouco dura
E o recta-pala bater
Dos operacionais do Conselho da Revolução,
Na Igrejinha de Celas casei, sem nada de castrense,
Mistérios militares do coração
Que já nem soldo vence!
Agora o terço superior da escala,
Que para ele valia quase um posto,
Não vale dois galões engolidos na encala
Que devia trazer o sangue ao rosto.

Se eu aderisse à CP,
Com 50% todos os dias, Sem pagar o bilhete, já se vê,
Como os soldados desenfreados?
Era uma ideia ... Alma aderias
Aderias aos pouca-terra da Pátria
Que já foi
Em melhores dias.
Ah verso, quanto alivias!
Mas dói, isso é que dói...
Dói de raiz!

Hoje é o que tenho para dar ao meu país:
Esta pequena flor de fel,
Que lhe dedico, meu Coronel.”

Ganharam os federastras

Acabo de ler que (para já) ganharam os federastras.

Mas há 3.000 anos de História da Europa que nos dão alento face aos cinquenta e tal destes "tipos".

Descansem mas a vitória não é definitiva. Digamos que é uma vitória de Pirro!

quinta-feira, outubro 18, 2007

Quem porfia, sempre alcança!

Há uns meses publiquei um poema de Joaquim Paço d’ Arcos sobre o 25 do 4.

Fiquei, contudo, bastante aborrecido por não ter, na altura, encontrado um poema de Vitorino Nemésio sobre a mesma temática, e que é inédito (em livro) e também um dos seus últimos.

Procurei, procurei e sempre debalde. Pois hoje já o descobri. Mal arquivado, é claro.

Mas valeu a pena a procura. Já cá canta e os meus estimados leitores vão tê-lo amanhã (é longo, bem longo...)

Para vos aguçar o apetite digo-vos que se intitula “Ao meu coronel (Elegia-Gazetilha). É datado de 16/17 de Fevereiro de 1976, e com este precioso acrescento à assinatura:

Vitorino Nemésio
“1º cabo de Infantaria R. Atirador de 1ª classe em Kropatchek, mod 1888. Especializado em esgrima de baioneta Mauser Vargueiro e granadas de mão nº 23 (Escola de Instrutores de Infantaria, Tancos, 1919, do comando do Capitão Bento Roma)”

e em NB, acrescentava irónico:

“em tempo se declara que entregou todo o seu armamento limpinho e, despoletadas as granadas, nas mãos dos respectivos quarteleiros. E no bolso da pistola só tem as chaves de casa”.

Com muito prosaísmo e funda amargura sarcástica, lembra certas composições da Sapateia Açoriana, vinda a lume também em 1976.

Este Coronel do Poema segundo Couto Viana deve ser Jaime Neves, que teve papel preponderante no 25 de Novembro e graças a quem (segundo Nemésio) “a pena não lhe saiu cara”.Para mim é a figura de 4/5 Coronéis que colocaram em sentido a capitanagem que por aquela época mandava em Portugal.
Apostilha: Para os menos familiarizados com as coisas militares uma Korpatchek era uma das espingardas usadas nas guerras de África do Século XIX, bem como na I GM. Era uma arma muito grande e pesada, com um calibre bem estúpido e bem difícil de manejar. A Mauser Vergueiro era também uma espingarda alemã, adaptada em Portugal nas oficinas de Braço de Prata. Com baioneta era uma arma bem proporcionada. Também foi usada na Iª GM.

A “decomposição” continua!

Acabado, para eles, o problema do aborto, bem encaminhado como está o problema da homosexualidade – veja-se o novo Código de Processo Penal (está já lá tudo) – está preparada a abertura da nova frente de combate da nossa esquerda catita.

Falamos da eutanásia.

O pontapé de saída coube a uns senhores de uma universidade portuense – muito progressistas – que vieram com um estudo (brutalmente científico, digo eu...) e em que revelam que entre oitocentas e tal pessoas, com mais de 65 anos, ouvidas – principalmente em lares públicos da terceira idade – a maioria era favorável à eutanásia.

Não nos disseram, contudo, quais as perguntas, conteúdos, a sua ordem, a sua inclinação. É o dizes, senão lá ficava o “rabo de fora”.

Mas o bom, mesmo bom, foi o fulano lá do estudo, vir dizer que (“para já”) é cedo, mas que qualquer dia temos de legalizar a eutanásia.

Ou seja, já deram o pontapé de saída. Agora é só esperar pela marcação da grande penalidade, porque o árbitro já está comprado!

E mesmo que os médicos portugueses se armem em “reaccionários conservadores” (e façam objecção de consciência) há sempre uma clínica espanhola que vai ser criada para matar os bons dos velhotes. A 450 euros por bico vai ser um fartote! A Segurança Social agradece penhoradamente! E a PGR obriga a Ordem dos Médicos a alterar o seu Código Deontológico. (quando li o que o sor ministro da saúde disse, não sei porquê, mas lembrei-me logo do Chavez!)

Uma dúvida, contudo. Depois dos abortos, dos maricas, dos drogaditos, da eutanásia, e etc., o que é que lhes resta como “causas fracturantes”?

Só se for obrigar-nos a ter sexo com animais. E olhem que já faltou mais. O que vale é que eu nessa data já estarei morto. (ou eutanasiado – quer eu queira ou não - ou de morte mais ou menos natural, ou ainda de vergonha por teimar em viver nesta súcia...dade )

Na morte de João Coito

Deixei passar uma semana sobre a morte de João Coito para, com certo distanciamento, poder escrever alguma coisa sobre ele.

Nunca privei com ele. Trocámos meras palavras de circunstância umas quantas vezes na vida. Para mim – e para a minha geração Coito foi acima de tudo o homem que ajudou – e sobremaneira – a lançar e consolidar Marcelo Caetano como novo homem do leme no barco à deriva em que se transformou Portugal (desde aquele 27 de Setembro). Lembro-me de (na época “marcelística” lho ter dito assim (na cara) e “tal e qual”. Afinou e disse que eu estava profundamente errado.

Depois disso apenas o revi nalgumas situações de morte de alguns amigos e conhecidos. Cortês, e delicado como era, sempre me saudou com a verdadeira bonomia de um Homem civilizado, educado e crente.

Também se diga que nunca fui um especial adepto do jornal “O Dia” quando ele o dirigia. Coisas há que são difíceis de deixar para trás. Compreendia a sua bondade nos editoriais que ia escrevendo (com o brilhantismo do pensamento e da língua pátria sempre presentes), mas ele por vezes (muitas vezes) exagerava!

No entanto, mudei muito de opinião com a morte de Rodrigo Emílio. João Coito, na Missa de Sétimo Dia veio ter comigo e falou-me com o coração nas mãos. Do que me disse – em privado – guardo tudo e comovo-me a recordá-lo. A partir desse momento João Coito passou a ter para mim um lugar de relevo na minha consideração.

E a verdade é que a partir dessa infausta data João Coito várias vezes se referiu ao nosso Rodrigo Emílio, citando-o amiudadamente. Essa sua atitude em relação a um “ultra anti-marcelista” calou-me profundamente na minha alma.

Era um cavalheiro num “país” de carroceiros. Aristocrático de alma e de porte nunca seria bem aceite num mundo em decomposição. A última que lhe fizeram (típica dos dias de hoje) foi a recusa de o homenagearem (na data em que fazia 50 anos que entrara como jornalista no Diário de Notícias). Honra a quem propôs a homenagem – José António Santos – desprezo e nojo para quem impediu o gesto – o então director Mário Bettencourt Resende.

Expulso do Diário de Notícias em 1975, vítima da troika comunista constituída por Luís de Barros (ex - Jovem Portugal, que depois migrou para o PC), Saramago e Mário Ventura Henriques, nunca a eles se referiu com ódio, mas sempre com a condescendência cristã que sempre praticou.

Há e houve poucos Homens como ele!

Apostilha: Jornais houve, como o Público, que nem umas meras 4 ou 5 linhas lhe dedicaram na data da sua morte. É típico e banal neste “mundo cão”!

quarta-feira, outubro 17, 2007

O climatério

Ou o mal da idade ...

Pois é: isto de ser Nobel (nalgumas categorias) tem que se lhe diga. Nestes últimos anos, tem por lá passado desde os maiores facínoras até às personagens mais ridículas. Mediáticos, todos, sem dúvida. Mas espremido aquilo vale muito pouco. Parece que os de Estocolmo entraram no climatério.

A última novidade foi o da “Paz” para um tal de Gore que resolveu abichar umas massas à conta do clima. Conferências (pagas a preço de ouro) é com ele, e agora ainda vão ser bem mais esdrúxula e opiparamente cobradas. E vão ver se eu não tenho razão.

No dia seguinte a um Tribunal inglês ter declarado que os erros grosseiros do seu filme não inibiam a exibição do mesmo (com royalties pagas, como é óbvio) nas Escolas Inglesas, “desde que os professores expliquem aos alunos esses erros” (de palmatória, digo eu), lá os de Estocolmo lhe deram o referido “nobelito” ( e correspondente milhão)

E assim vai o mundo. Os maiores dislates são premiados. Depois, daqui a uns anos todos se vão rir destes personagens.

Não acreditam. Vejamos três de vários exemplos que eu poderia invocar:

Em 1970, o holandês Addeke Boerman, director geral da FAO (organismo da ONU, responsável pela alimentação) afirmava alto e bom som que em 1985 “faltarão 2,6 milhões de toneladas de proteínas para alimentar a humanidade” a menos que se reduzisse substancialmente a população humana.

Por essa altura também o cientista alemão Paul Ralph Ehrlich declarava que a poucos anos de distância a água seria racionada nos Estados Unidos e que em 1980 chegaria a altura do racionamento de alimentos. De recordar que nos anos 60/70 a população usa era de cerca de 200 milhões e que hoje se aproxima dos 300 milhões. E quanto a racionamento estamos falados.

Ainda nos anos 70 quem não se recorda dos muitos e variados catastrofistas (do MIT, ou como diziam os nossos intelectuais "eme ai ti" que diziam que o petróleo se extinguiria definitivamente nos finais de 1996, máximo 1997. Vê-se. Hoje conhecem-se mais reservas de petróleo do que nos anos 70, apesar do brutal consumo em mais de três décadas.

O que isto tem de dramático não são as patacoadas de uns “cientistas”. Só não erra quem nada faz. O que custa é o silêncio dos “media” e dos “políticos” sobre estes disparates. Sempre que alguém (no campo científico) contesta estas maravilhosas opiniões é logo apodado de “estar ao serviço dos lobbies do petróleo, etc”. Ou seja cria-se a ideia, no público, que de um lado estão os bons – os que pensam e dizem coisas certas – e do outro estão uns sujeitinhos pagos pelos interesses financeiros dos capitalistas gananciosos e cujas opiniões são meros disparates cobrados a peso de ouro.

O que custa, repito, é que já houve (por causa de todos esses disparates dos anos 60 e 70 do passado século e em que também os neo-malthusianos e os da “geografia da fome” prevaleciam) consequências bem graves para os países (oficialmente mais bem “informados”) europeus, com quedas dramáticas de natalidade, que colocam em causa a sustentabilidade cultural, económica e rácica de todo um continente (o que nos vale é o Leste que não sofreu esta desinformação toda).

Vamos ser racionais. É óbvio que tem de haver contenção. É óbvio que tem de haver alternativas. É óbvio que não se pode continuar (impunemente) a deitar toneladas e toneladas de gases para a atmosfera.

Mas também é óbvio que quem decide tem de ter informação correcta. De todos os lados, sujeita a escrutínio e acompanhamento permanente. O que não se pode é continuar a aceitar, sem qualquer contraditório, afirmações que podem (e a experiência já nos demonstrou que sim) serem completos disparates. Porque se pode cair noutro erro. Que é o de pensar que tudo o que “eles” dizem são completos disparates. (acho que a posição americana sobre Quioto tem muito a ver com isto...)

Ou seja não podemos acreditar, repito, sem escrutínio, tudo o que de um lado e do outro nos dizem. E aí é que se poderá distinguir quem está de boa fé ou quem apenas quer abichar umas massas ou à conta dos papalvos ou dos da indústria.
Como em tudo na vida tem de haver bom senso e acima de tudo bons estudos!

Num Outubro de há 25 anos

Fez este mês 25 anos que o italiano e membro da Avanguardia Nazionale foi morto, pelas costas, por um policia italiano. Um silêncio sepulcral comemorou esta data. Nem nos “locais” italianos vi grande coisa sobre esta morte.

Falamos de Pierluigi Pagliai.

No exílio, como tantos e tantos que tiveram de abandonar a sua Pátria para não serem presos pelo regime (judiciário) que então vigorava em Itália e fruto dos “anos de chumbo” que percorreram a “bota” nos idos de 70 a 80 (e em que ser “fascista” era um perigo de morte permanente), Pierluigi foi, em determinada altura, buscar exílio na Bolívia, seguindo Stefano della Chiae (fundador em 25 de Abril de 1959, da referida organização nacionalista).

A policia italiana tentou ir buscá-los a La Paz. Para isso contou com o apoio das autoridades bolivianas.

Dia 9 de Outubro de 1982, um grupo de policias e agentes secretos italianos dirigem-se ao carro em que Pierluigi tinha acabado de entrar. Apontaram-lhe as pistolas. O camarada levanta as mãos em sinal de rendição (não estava armado, nem tinha fuga possível). Logo um dos policias lhe dá um tiro na nuca (pelas costas) e com ele sentado no lugar de motorista e com as mãos ao alto e bem visíveis.

Pierluigi entra logo em coma, fruto de uma bala de pequeno calibre (.22) alojada no cérebro. É metido num avião (italiano e já pronto na pista para o levar para Roma) e transportado (nessas condições e sem assistência médica) para Itália. Morre – no avião – quase à vista do solo Pátrio (já era dia 11).

Nunca houve inquérito a este assassinato, nem qualquer punição ao assassino. Segundo a policia foi uma arma que se avariou e disparou sozinha. Segundo os seus próximos foi morto porque percebeu (naquele momento) quem era o traidor infiltrado e tê-lo-ia dito em voz alta.

Por isso recusaram a sua admissão num hospital boliviano, onde num momento de lucidez, poderia revelar esse nome à equipa médica que o acompanharia.

terça-feira, outubro 16, 2007

Invictus

“INVICTUS”

Aqui, na noite que me cobre, negra
Como o abismo, de pólo a pólo,
estou grato a todos os deuses, sejam quais forem,
pela minha Alma que sei invencível.

Na garra tão cruel das circunstâncias,
Nada pedi, nunca vacilei.
E alvo dos ataques do acaso
A minha cabeça ficou em sangue, mas não se curvou

Para alem deste lugar de choro e ira
Nada mais há: só o horror da sombra,
mas, no entanto, a ameaça dos anos
encontrar-me-á sempre destemido

Não me importo com a estreiteza da porta,
quantos castigos estão no meu rol
eu sou o Senhor do meu próprio destino
Eu sou o Capitão da minha Alma!

William Ernest Henley
Inglaterra, 1849 – 1903

(última oração de Timothy Mc Veigh, antes de ser morto)

O Pai extremoso

Longa vai a guerra quanto ao perdão de uma dívida ao filho de um banqueiro. Não sou accionista, não sou cliente, nada tenho a ver com o assunto.

Mas só uma pergunta: o senhor Jardim Gonçalves é, ao que sei, do Opus Dei. Organização católica muito estrita nos comportamentos e Valores dos seus associados. Como é que um homem com esta formação diz (para se descartar do problema) que “as questões de clientes não passaram por ele”, reduzindo e relegando um seu filho – carne da sua carne – para a figura de um mero cliente?

Parafraseando um amigo meu: “com pais assim, mais valia ter padrastos”...

Ou então, um outro, que dizia: “quem não tem vergonha tem o mundo nas mãos”!

Apostilha (importante para os accionistas e clientes): mas afinal quantos filhos tem o banqueiro?

Maria Antonieta

Faz hoje anos que em 1793 os “bons” mataram, na guilhotina, a Rainha Maria Antonieta. Depois de um processo mirabolante. Pouco tempo depois do regicídio de seu marido tocou a vez à Rainha.

Depois de ser exibida numa gaiola (tal como os “bons americanos” fizeram, em 1945, ao Poeta Ezra Pound) a Rainha, com dignidade e altivez, foi executada perante uma multidão (de bons, claro) ululante e fanatizada.

E depois são os outros que são os maus! E ainda hoje se glorifica a revolução francesa como uma grande vitória da humanidade... Ao que nós chegámos!

A Guerra vista por eles

Inicia-se hoje na RTP 1 uma série de documentários sobre a Guerra do Ultramar (para os portugueses), Guerra Colonial (para “eles”).

O seu autor é Joaquim Furtado. Pelo indivíduo que organiza esta série (e a conduz) nada de bom se espera. Como tenho a minha TV avariada (já vai em 12 anos) não vou assistir. Ainda bem que a TV se avariou e eu ainda não tive tempo (ou pachorra) para a mandar arranjar.

Senão ia-me chatear muito!

sexta-feira, outubro 12, 2007

Os impolutos

Li hoje no jornal – sem qualquer espanto, esclareça-se - que uns bons de uns “funcionários públicos” se recusam a ir buscar malandrins à estranja em virtude se só receberam 1 dia de ajudas de custo (vinte contitos...) em vez dos dois a que estavam habituados.

Não me custa a acreditar que tal seja verdade. Aliás nunca percebi qual a vantagem – num determinado caso bem famoso na história da malandragem portuguesa – de terem ido prender um desgraçado ao Algarve (para logo de seguida o trazerem para Lisboa) em vez de o deterem à porta da sua casa da capital “deste país”.

Cheirou-me logo (se calhar estou a ser mauzinho) a que assim o pessoal lá teria direito a abichar mais umas massitas para arredondar o seu fim do mês.

É uma cultura perigosa. Em vez de pagarem o que deviam a pessoas – que para todos os efeitos correm perigos, e, alguns deles bem graves – refugiam-se em subterfúgios (mais ou menos legalistas) para os compensarem dos parcos vencimentos auferidos.

É evidente que só por espírito de abnegação se vai para determinadas “profissões” (melhor diria, missões): militar, eclesiástica, policial, educação, etc. Ninguém vai para uma “profissão” destas por mero espírito de arranjar um trabalhinho. São “profissões” complicadas, com riscos, com espírito de entrega total e muitas outras vertentes que deviam condicionar as admissões de qualquer pessoa nessas “carreiras”. Quem para lá se encaminha, sabe ao que vai!

Mas a tentação da sociedade de consumo é grande – é desmesurada. Ou se tem estofo para aguentar-se “remediadamente” na vida, ou então dá disparate.

A imagem que esta gente dá é bem negativa para a sociedade. Há “papel”, há trabalho. Não há dinheiro não há “palhaços”. E logo num sector vital para a sociedade (e uma das principais razões de existência das sociedades organizadas) que é o da segurança.

Sejamos claros: que autoridade moral tem esta gente de andar a correr atrás de uns indivíduos que não jogam na legalidade (ou andam num limbo muito perigoso), para de seguida darem a ideia que também eles não passam de uns “avidadollars”, como diria, anagramaticamente, Salvador Dali.

Ou como diriam os mais “cultos”: à mulher de César ...

Apostilha:
eles são capazes de pensar que “todos nós” somos malandrins em potência. Se calhar, qualquer dia, (e a continuarem assim) nós também passamos a pensar o mesmo “deles”.

Vende-se tudo, até a degradação!




Mão amiga fez-me chegar este anúncio. Faz furor nos States. Fez aumentar exponencialmente a venda de diamantes.

Pode ser tudo muito verdade, mas olhem que é demasiado degradante para poder ser verdade.

Alguém tem de parar esta sociedade hedonista e consumidora criada por verdadeiros “monstros” publicitários.

Já que não há sequer um resquício de vergonha, bom senso e dignidade, que haja alguém que diga que não estamos dispostos a “abrir as pernas” a todos os dislates desses senhoritos.

Nem que sejam as verdadeiras Mulheres deste mundo!!!

Mais actual não podia ser!



Relembrava eu – ainda ontem – Amândio César quando, de imediato, se perfilou na minha mente – o também Poeta - Alfredo Pimenta, seu grande Mestre e Amigo.

Deixo-vos aqui alguns dos seus versos. Que tem uma actualidade absoluta.

Deliciem-se:

“Vivo num mundo de algodão em rama,
en’tre alcatifas moles e almofadadas;
não ouço a voz que ao longe por mim chama,
nem o rumor da rua agitada”

Alfredo Pimenta, 1941 – “Últimos Ecos de um Violino Partido”.

A Ténia

Com aquela insónia que agora - e nos últimos tempos -me tem assaltado dei por mim sem capacidade de continuar (pelo menos hoje) as minhas reflexões sobre o como regressar a uma actuação política em Portugal. Penso ter capacidade - e tempo - lá para Sábado.

Até lá fico pelo fait divers. É mais seguro. Roubo, se necessário, as ideias dos outros. Assim não danifico nada.

Li - agora mesmo - um postal de um blogue francês que frequento diariamente. Trata-se de um blogue feminino de uma maurrasiana inteligente e muito dedicada, de seu nome Ivane.

Falava de Henry de Montherlant. Um dos seus - e meus - autores de cabeceira. Há livros - dizia Maurras que só convém aos sábios, outros podem, sem perigo, "correr a rua". Os livros de Montherland podem correr a rua, mas convém salvaguardar alguns pontos. Um deles - importante para o caso - tem a ver com a dignificação da homosexualidade, e a sua ligação à "tradição" grego romana da pederastria. Convém, neste caso, fazer já uma declaração de princípios: nem tudo foi belo, nem tudo foi grande, nem tudo é "analógico" (parafraseando Evola) no mundo grego - romano.
Leiam Montherland, mas lembrem-se de que os mitos são eles mesmo um misto de valores, de belezas, de fraquezas, e ainda que seria estultícia pensar que todo e qualquer autor não tenha algum vício, que não tenha conhecido a derrota, e que não tenha as suas dúvidas ... A Vida é feita de tudo isso ...

Apostilha:
Ivanne - uma mulher -, dá-me pela primeira vez uma leitura feminina da pederastria. Gostei, não seria capaz de ser tão sagaz como ela. Roubo-lhe as palavras. Para mim é um pensamento definitivo. Pois aqui vão:
"Detesto tudo que rebaixa o homem. Odeio o temperamento feminino daqueles que cedem às suas tendências, mesmo à custa de uma mancha na sua honra. Tudo o que toca na homosexualidade parece-me ser um sinal não somente de fraqueza, mas também de inferioridade. Mas, também é verdade que não podemos obrigar ninguém a ser superior ... Penso que cada um é livre de se subordinar os seus desejos como lhe convenha. Digo apenas, e simplesmente, que a forma de tratar os seus desejos é um modo, um modo entre outros, de se elevar ou se rebaixar".

terça-feira, outubro 09, 2007

Eu procuro, tu procuras, ela procura(dora)

Vai para aí um frenesim estouvado por causa de uma tal de carta aberta que um “desgraçado que se encontra engavetado nas cárceres da democracia” resolveu publicar na Internet. Peço desculpa pela minha ignorância (em termos da rede) mas não a li por não saber onde a procurar.

Mas os estimados jornalistas, sindicalistas e outros istas resolveram falar e publicar excertos da referida missiva. Por aí pude ter uma ideia do que lá se encontrava. Como não li a totalidade, tudo pode ter sido descontextualizado, não sei, repito, não li (mas a prática leva-me também a acreditar que tal possa ter acontecido).

Não conheço pessoalmente o autor da missiva. A crer nos jornais trata-se de um “hammerskin” (eu nem sei o que é isso... a tradução literal seria pele de martelo...).

Algumas reflexões sobre o assunto: Houve uma carta aberta publicada. Surgiu um nome de uma Senhora (que procura ser Procuradora). Estes são os factos:

A referida Senhora parece que é filha de um indivíduo que terá passado “as passas do Algarve” no anterior regime. Pelo nome pode ser filha de um tal E (representante oficial dos maoístas em Portugal no pós 25, e que, depois, aderiu ao PSD ou ao PS, já nem me recordo...). Pode também ser filha de um PC, o C; pode ainda - quiçá – descender de um tal A. a quem o seu homónimo (que ocupava a cadeira de S. Bento), obrigou – contra a sua vontade, é claro – a protagonizar uns filmes execráveis (em que era galã de serviço) quer em Portugal quer na fascista Espanha. Pode até ter nascido em Vilar de Perdizes, terra de bruxos e feiticeiros, não sei. Mas isso não interessa.

A referida Senhora no dia das detenções dos “fascistas” terá (?) eventualmente declarado que chamaria o corpo de intervenção da psp para varrer os tipos que lá estavam fora caso eles não saíssem. (e viva a liberdade de expressão!!!)

A referida Senhora acusou n indivíduos (não sei quantos) de muitas malfeitorias.

A referida Senhora tem hoje (e por muito tempo, calculo) um corpo de guarda permanente para a defender não sei de quê. Porque da própria consciência a psp não protege... E o Orwell? E o Triunfo dos Porcos? Meu Deus, ou Meu Mao, ou ainda Meu Estaline (desconheço a quem invoca) !!!

Mesmo antes da referida carta corria à boca cheia por todo o mundo nacionalista o nome da referida Senhora sem que quem quer que fosse tivesse atentado contra a sua vida, fazenda, honra ou dignidade. (Nem sequer lhe atiraram uma gramática para eventualmente – e caso precise - poder aprender a escrever português, - esta contaram-me, não li o texto em que se basearam)

Também – no mundo nacionalista – toda a gente conhece o nome de um juiz que um dia condenou um inocente a pesada pena de prisão. E de outro que condenou um traficante de droga a uma pequena pena por ele “apenas” ter morto um nacionalista. Foram alguma vez ameaçados? Foram alguma vez atacados? Foram alguma vez atacadas – publicamente – a sua honra e dignidade? Parece-me bem que não.

Não, não foram atacados, nem serão! Para memória futura – como eles gostam de dizer – regista-se os nomes e os factos: porque razão, perguntam já pressurosos os investigadores “deles”.? Pois simplesmente para que um dia – quando houver Justiça em Portugal – possam explicar as suas atitudes. E se tiverem sido correctas, ainda bem, acaba tudo assim. Caso contrário, (e se houve dolo e não mera ignorância) a Justiça que resolva.

Apostilha: no anterior regime “fascista, concentracionário, repressor, e outros mimos quejandos” o Avante publicava os nomes dos Juízes dos Tribunais Plenários que julgavam os PC, bem como nomes e moradas de “pides”. Nunca ninguém se lembrou sequer de os acusar de “ameaças” . E nunca o Estado gastou dinheiro (o nosso) com protecções especiais para os “ameaçados”. Mas isso era no tempo do obscurantismo fascista. Agora é tudo muito democrático. E há o Correio da Manhã e o 24 Horas...

quinta-feira, outubro 04, 2007

Reflexões – Vamos a jogo?

Há poucos dias disse que a breve (ou menos breve) prazo, terá de haver uma reformulação das forças politico partidárias “deste país”. E que era uma oportunidade de ouro para os nacionalistas portugueses.

Esperava, sinceramente, algumas reflexões dos meus prováveis leitores.

Tal não aconteceu, mas esse facto não me esmorece.

Entenda-se: eu nunca fui o chamado “intelectual” ou “chefe” capaz de mobilizar ideologicamente ou estrategicamente fosse quem fosse. Eu sou (ou fui) um mero soldado, quanto muito (e com boa vontade) um sargento. Vultos nacionais houve (e começa a haver de novo) muitos. A eles competiria indicar-nos o caminho.

No entanto nada me impede de explanar algumas reflexões que tenho feito a propósito da situação actual e a minha visão do futuro (alicerçada também no passado).

Não, não é nenhum Mestre a indicar-nos o caminho. Que isso fique bem claro. Se calhar é apenas um pontapé de saída para distribuir o “jogo” pelos “craques”, e acima de tudo obrigá-los a marcar golos!

Este é o primeiro postal. Outros se lhe seguirão. Contarei factos e darei as (minhas) explicações. Só a mim me comprometem. A mais ninguém.

E comecemos pelo 25 de Abril. Não, não começo antes porque acho que não vale a pena! O período anterior só nos deu – aos da minha geração - traquejo para enfrentar o que aí vinha. Não havia uma visão do futuro. Ou seja só reacção contra a paz podre instalada num Portugal em Guerra!

Todos nós dizemos: o 25 do 4 foi uma revolta militar abarbatada pelos marxistas que tentaram estabelecer um regime socialista soviético em Portugal.

De facto foi o que apareceu à visão pública de todo o mundo. Mas analisado o movimento, no período em que decorreu, rapidamente se chegou à conclusão (na altura e ainda hoje) que era uma inevitabilidade. Essa certeza teve-a o Rodrigo Emílio, o António de Séves e tantos e tantos outros (até eu...) logo logo nos últimos dias de Abril de 74.

E porquê?

Os “militares” (quais Cristóvãos de Moura, quais Miguéis de Vasconcelos) que a fizeram provinham de todo um espectro ideológico, social e politico muito diversificado. O que os unia a todos (para além das questões do vil metal, fundamentais para que avançassem) era o fim da Guerra que lhes estava a dar cabo da “vidinha”. A qualquer preço e de qualquer modo. Fosse como fosse.

Para isso precisavam de uma legitimação politica e popular. Caso contrário – pensavam - seria o seu fim como “força viva da Nação” (e foi...).

Ora face à questão ultramarina só havia duas vias: a nacional e a “internacional”. Não, aqui não poderia haver qualquer terceira via (que o herói de Massamá tentou, junto com seus muchachos encontrar na lógica do federalismo – mas para isso era necessário que a troupe que tinha substituído a tropa estivesse com qualquer vontade de dar o corpo ao manifesto, o que “manifestamente” não era o caso).

Nós, na (chamemos-lhe) “direita nacional” não tínhamos qualquer dúvida. Só havia um caminho. O da vitória! Não, não tínhamos visões estrategistas próprias do gaulismo e dos seus adesivos no caso da Argélia. Por aí nunca iríamos! Por diversas e imensas razões. Tínhamos certezas e sabíamos que o que estava em causa era a própria existência de Portugal e a defesa de toda uma população – tão portuguesa como nós – que tinha confiado na palavra dos seus dirigentes. Logo, não nos viessem com estratégias muito manhosas para trazer para o nosso lado uns “tropozoários” que de tão cobardes nem mereciam respirar o mesmo ar dos portugueses.

A chamada “direita burguesa e/ou dos interesses” estava na corda bamba. Sem saber para onde ir. Tentou a adesão mais ou menos gaulista ao pindérico do pingalim. Sem honra, e, claro, sem qualquer glória, ou proveito que se visse, com excepção de uns votitos nas eleições que de seguida vieram e que lhes tem permitido ao longo destes anos “governar este pais”.

Restava, pois, àquela gente, o apoio dos cunhais, soares e similares. E beberam a taça da cicuta de um trago e sem pestanejar. Foi “lindo” ver aqueles tipos todos a jurarem marxismo, a jurarem que sempre tinham sido bastamente progressistas. Logo a abrilada só poderia dar em marxista. Otelo (pobre diabo), o vendedor de apartamentos, converteu-se, num ápice, numa espécie de che guevara de pacotilha (com idêntico desprezo pelos pés descalços que o incomodavam). E muitos, mas mesmo muitos poderia citar. (só um exemplo, que eu sou mauzinho, um famoso militar de abril que antes da data (por volta de 1965/66) me repreendia pela minha pouca fé em Salazar e que, segundo dizia, tinha a melhor biblioteca salazarista de Portugal, deu-nos, a seguir ao 11 de Março, um espectáculo dantesco de um antifascista com dezenas de anos de actividade...)

Logo é óbvio que o mito fundador do novo regime implantado em Portugal teria de ser marxista. E ainda hoje o é. Erro nosso, gritam alguns (até que foram da nossa área). Não, não foi. Mesmo que tenhamos perdido 30 ou 40 anos, de nós ninguém poderá dizer que traímos. Fomos conscientes e seguimos o nosso caminho bem certos do que poderia ocorrer. Sabíamos e enfrentámos a situação com as únicas armas que nos restavam e que nos distinguem: a Honra, a Fidelidade, a Palavra, e sempre pensando na Lealdade que devemos à perenidade da Pátria.

Perdemos 30 a 40 anos, mas não perdemos a vergonha! Essa é a verdade! E acima de tudo não perdemos o futuro!

Resta agora pensar como voltar. Mas antes ainda vamos dar uns passeios no tempo. São essenciais para perceber o que pretendo dizer. Voltarei a estas reflexões!

BRASILLACH E A SUA OBRA – 8/8

Pretendi dar uma panorâmica da obra romanesca de Robert Brasillach através da análise feita a seus sete romances, romances que são a trajectória de uma espiral que começa na juventude e que acaba na maturidade dessa mesma juventude. O autor morreu antes dos 35 anos. Daí, os seus romances saberem sempre a um fruto jovem e fresco, quando às vezes não mesmo amargo. Desde a aprendizagem da vida de Lazare Mir, que vê presa ao Roussillon onde nascera a sua vida, por um acaso fortuito, acaso que lhe prova a sua dependência com a sua gente — no Voleur d‘Etincelles — até à vida aprendida em profundidade por Marie-Ange, sozinha num mundo hostil, como folha tenra levada na torrente, uma torrente que não se sabe de onde a trouxe, nem para onde a leva, toda a obra romanesca de Robert Brasillach respira um forte sopro de verdade, de clareza, de juventude. Tudo isto foi procurado na sua vida e por isso, ou daí, a sua autenticidade e o seu estranho e obsidiante poder de penetração no leitor. De resto, a vida do seu tempo está lá toda, pois Robert Brasillach não fugiu nunca aos apelos altissonantes dessa vida que tinha por denominador comum o heróico que ele tinha no sangue, o heróico que lhe fora entregue como dádiva ou testemunho por Virgílio, por Corneille, pelos poetas helénicos, por Chénier. Mas um heróico sempre juvenil, esse mesmo que levou René Lalou a afirmar na Histoire de la Littérature Française Contemporaine: “Le romanesque, on ne s‘étonne pas qu‘un jeune écrivain le cherche d‘abord dans les souvenirs de son enfance”.

Morreu jovem Brasillach... Essa floração juvenil fica diante de todos nós sob qualquer ângulo por que a desejemos observar. Aqui fica o ângulo romanesco num romancista que, lido uma vez, se pega a nós, adere a nós como a própria juventude que nenhum de nós quisera perder, que nenhum de nós desejaria ultrapassar ou deixar ultrapassar pelos anos amargos que fatalmente lhe sucedem.

Amândio César - 1960

BRASILLACH E A SUA OBRA – 7/8

Marco intencionalmente esta data. Porque representa o fim da juventude? Porque representa um viragem na vida de Brasillach? Porque a partir dela se abrem perspectivas novas? Talvez isso tudo e ainda mais: a mudança de temática que vai deixar de ser uma crença absoluta no destino para se lançar na frustação e no desespero da solitude. Vejamos esta observação de Bernard de Fallois a propósito do romance que se segue a Les Sept Couleurs.
Ao ligar o primeiro romance de Brasillach ao último, Six Heures à Perdre, diz o autor: “Entre le jeune homme qui nous quitte pour entrer dans le cimetière de ses parents à la fin de son premier recit, Le Voleur d‘Etincelles (romance que Brasillach classificava desta maneira pitoresca — pseudo-roman, album d‘images de mon pays méditerranéen — como o assinala André Brissaud) et la jeune fille qui nous sourit à la portière d‘un wagon de la guerre, dans les dernières pages de Six Heures à Perdre (à quoi sentons-nous que nous ne les reverrons jamais, que c‘est Brasillach lui-même qui nous dit adieu), près de quinze ans se sont écoulés, une destinée s‘est jouée dont nous pouvons, de l‘un à l‘autre de ses romans, suivre la courbe”.
A explicação ou a descoberta marquei-a eu ao explicar a evolução do seu romanesco. Mas sinto-me bem acompanhado, quando me não sinto sozinho de todo, ao fazer afirmativas sobre um terreno quase virgem. Sim: alguma coisa se aproximava do fim ou percebia que o fim estava próximo. E isto explicará mutações de desenvolvimento na temática que surge no penúltimo romance, La Conquérante.
Repare-se que a temática de Brasillach evoluía dentro de uma adolescência que se ia descobrindo e revelando no dia a dia. O interesse tinha sempre três faces fundamentais: uma rapariga e dois jovens, diante dos quais ela tinha de optar. Ora, a rapariga optava sempre contra a miragem, nunca supondo que ela voltasse mais tarde a ocupar lugar na sua vida. Na trama psicológica e dramática de La Conquérante não sucede assim. E volto a citar Bernard de Fallois: “Et c‘est ici qu‘aparaît le motif cornélien qu‘on retrouvera plus nettement encore, puisque l‘un des protagonistes meurt, dans La Conquérante, non sans une modification subtile toutefois, puisque c‘est le plus solide et le plus réel des deux jeunes gens qui disparaît, et le jeune séducteur qui subsiste”.
E isto contrapõe-se a todo o passado temático dos romances de Brasillach onde “presque toujours nous y voyons une jeune fille hésitant entre deux jeunes, dont l‘un représente le vertige de l‘adolescence fuyant, l‘ivresse d‘un bonheur entr‘aperçu mais insaisisable (c‘est um militaire, dans Comme le Temps Passe et dans La Conquérante), tandis que l‘autre lui offre l‘appui solide et les constructions durables d‘un univers plus réel. Et presque toujours c‘est celui-là que la jeune fille choisit, et au bout de quelques années voit revenir l‘adolescent d‘autrefois, pour "tenter" celle qui a préféré le mariage, et tout ce qu‘elle avait édifié s‘écroule alors longtemps”.
Está pois marcada a diversidade do comportamento, para chegarmos ao fim da análise à obra de romancista de Robert Brasillach. O adolescente não morrera nele, mas o homem adulto e amadurecido tinha tomado o seu lugar. As preocupações do quotidiano tinham roubado beleza e encanto à vida. A guerra é agora o motivo dominante e todos lhe estão presos — ou dela e do seu desfecho dependem —. Eis porque se compreende a observação acima citada do adeus à beira de um comboio de guerra. Era realmente uma despedida, uma despedida em definitivo. Por isso se pode chamar a este romance, Six Heures à Perdre, o romance da solitude. O estilo atraiu a si um poder mais vasto de dramaticidade; o opaco do tempo, o cinzento das horas, o abandono de tudo, a fauna que já não é pícara (como anteriormente era) e a sensação de abandono, de se ser sozinho e único, dá-os Brasillach com uma emoção, um rigor esquemático, com um abandono de supérfluos, com uma autenticidade verdadeiramente dignos de reparo.
O texto surge na primeira pessoa, denotando um profunda experiência pessoal. Trata-se de um prisioneiro que regressa com a sua farda coçada de um campo de prisioneiros na Westfália e que tem de viver seis horas em Paris à espera de um comboio que o há-de levar para outro sítio qualquer. A confiança no futuro esboroa-se diante de uma Paris diferente, diante de uma Paris ocupada. A data desse encontro é 1943 e o prisioneiro que regressa sente até ao cerne a sua solitude. Estranha o café que tem para beber, estranha o clima em que se arrastam os seus passos e só há uma solução: fazer alguma coisa, tentar dialogar com alguém. É assim que se lembra do seu caderno de apontamentos de moradas e é este que vai levá-lo até uma casa suspeita, meio pensão, meio casa de passe, a cuja dona, Madame Bizard, vai pedir informações. Que informações pedia? Apenas saber o destino de uma rapariga, Marie-Ange Olivier, para quem um companheiro de prisão mandava recados, mandava saudades, prometendo continuar o sonho que tinham iniciado antes de cair prisioneiro das tropas inimigas.
Só isto. E isto vai ser o motivo do romance. Pois é a uma passagem acidental de um homem na vida de uma rapariga que se vai seguir todo o entrelaçado da França ocupada, onde a guerra no Leste despertou o súbito aparecimento das actividades comunistas — até aí inertes — onde o mercado negro passa a organizar-se em autênticas troupes de exploração comercial em grande, onde os produtos que faltam são o incentivo ao engajamento nos diversos gangs. Marie-Ange desapareceu quando o prisioneiro regressado a procura. Este frente a frente na pensão/casa-de-passe é monumental de aticismo, de maneiras de estilo.
Depois, há o encontro com o inspector Gillier que também procura Marie-Ange... mas por outros motivos. E o tempo passa, as seis horas que vão ser perdidas tornam-se mais curtas. O prisioneiro vai seguindo o seu rumo: procura mesmo o seu antigo restaurante escolar. Sente-se só, tremendamente só, quase como aquele jovem oficial alemão que lá almoça também. Depois, há a sua passagem pelo Jardim do Luxemburgo, um Luxemburgo diferente dos seus anos escolares. E voltam as recordações do campo de prisioneiros, inclusive do Gilles, de Drieu La Rochelle, que o seu companheiro Berthier levara consigo. O prisioneiro-liberto regressa a casa de Madame Bizard e desta vez encontra Marie-Ange. É um encontro penoso ou um encontro alegre? É sobretudo o fim de uma dupla solidão. E então ele sabe o seu drama, aquele drama que não poderá contar ao seu amigo distante do campo de prisioneiros. Marie-Ange, que fora casada, que tivera um filho, que vira morrer o filho pela maldade do marido, era aquela mocinha que estava diante de si com a acusação de ter matado (ou pelo menos a suspeita) um tal Hooten que estava metido em câmbios negros vários. E assistimos ao confessionalismo da história. E compreendemos até as razões profundas da morte que ela deu a um homem que todos supunham seu amante, a um homem que fora seu marido e que lhe crucificava a vida para além da separação. É o crime justo ou a morte justa? Talvez... Mas representada numa época em que todos os valores morais viraram de sentido, ou então perderam todos os sentidos. E sentimo-la com as mãos puras apesar de ter disparado sobre o homem que fora a causa da morte intencional de seu filho, um filho que fora dele também e que ele odiava. Quando saem os dois do quarto de Madame Bizard, sente-se que o que fica para trás ficou de facto para trás. Sente-se que, ao despedirem-se, nunca mais se verão. Que ele vai continuar a sua vida a caminho de um destino ignoto; que ela vai voltar aos grupos juvenis de comunistas, talvez procurando Cresnay, que é a aventura do desconhecido (um Cresnay que seu marido denunciara à polícia), ou então esperando Brenno Berthier, que é a floração da esperança, o sonho longínquo, o concreto já realizado ou o realizado à espera de concretizar-se para sempre. O seu adeus — o mútuo adeus — é também o regresso à solitude, o regresso a ficar cada um sozinho com os seus problemas, com o seu destino incerto.

DOCUMENTO PARA A HISTÓRIA

Em 14 de Setembro de 1974 Manuel Maria Múrias publicou no Jornal Bandarra o fabuloso texto que abaixo reproduzo. Lembro-me perfeitamente desse dia – sei que chorei quando li este libelo tão enormemente acusador e arrasador.

Também sei que o referido texto já foi anteriormente publicado no mundo bloguístico nacional. Só não me lembro onde. Por isso resolvi batê-lo à máquina e colocá-lo (também eu) na blogosfera.

Porque é um documento histórico obrigatório e que deve ser conhecido por todos os nacionalistas e patriotas de Portugal.

Múrias no seu melhor, sem dúvida. Mas um Múrias que soube (como ninguém) interpretar e descrever o fim histórico de Portugal que iria ser transformado “neste pais” (como eles dizem...).

Já seu Pai foi determinante para a história, ao redigir o Manifesto do Movimento do 28 de Maio. Que agregou, na altura, todos os patriotas portugueses. E é bom que isso se diga!

Manuel Maria Múrias inspirou-se no discurso que Shakespeare escreveu para Marco António, na tragédia «Júlio César». (coisa que os nossos copcães nem faziam ideia o que fosse... – o assunto é recorrente, os de agora também não sabem quem foi Orwell)

Duas semanas depois seria preso pela malta cavernícola dos COPCONs, que o arrecadou no “democrático estabelecimento de férias de Caxias” durante 14 meses (não nos esqueçamos que a famosa Amnistia Internacional declarou - em Novembro de 1974 - alto e bom som que em Portugal não havia presos políticos).

Para memória futura de todos os portugueses aqui vai a prova do crime:

“Frontaria da Assembleia Nacional. Manhã cinzenta e triste. A multidão sussurrante transborda do grande largo. Trazendo nos braços um corpo exangue, Marco António surge no topo das escadarias. Arenga ao povo.

— Amigos, Portugueses, compatriotas:

Trago-vos Portugal nos braços. Venho para os seus funerais — e não para o louvar. O mal das pátrias sustenta-se além da morte. O bem enterra-se com elas. Ninguém se lembra das glórias do Aragão, nem das da Navarra — nem sequer das da Sabóia. Recordam-se, porém, sensivelmente, os seus pecados... Seja assim com Portugal. Os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro (três honradíssimos cidadãos) permitiram que vos falasse. Disseram eles que a nossa Pátria, em oito séculos de história, quase só se portou mal. Reconheçamo-lo contristadamente sem discutir: — os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro são três grandes personalidades que nos restituíram a liberdade. Quem somos nós para os contestar?

Vós tínheis orgulho neste velho Portugal. Julgastes que era honra pertencer-lhe e acompanhar na memória a gesta dos seus santos e heróis, conquistadores e navegadores, que, mares além, nos tempos dantes, por todo o orbe, dilataram a Fé e o Império. Os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro acusam-no agora da maior cobiça. Castigaram-no severamente. São três homens justos, três nobres, e honrados, e incorruptos cidadãos. Veneremo-los. Esqueçamo-nos do que nossos país nos ensinaram: — depois de Ceuta, largado mundo fora, Portugal, com uma ou outra excepcionalíssima excepção, só cometeu crimes. Paga hoje as suas faltas — faltas do povo e dos chefes. Do Infante, de Vasco da Gama, de Albuquerque, de Camões, de Vieira e de Mouzinho. Penitenciemo-nos. Até a Santa Madre Igreja, pela augusta voz dos nossos bispos, já se penitenciou. Porque não o faremos nós? Construamos humildemente, sem fumos de grandeza, o futuro que merecemos. Reduzamo-nos.

Durante séculos, no silêncio dos corações, rezámos a S. Francisco Xavier, a S. João de Brito e a S. Gonçalo da Silveira. Supusemo-los no céu, sentados à direita de Deus Pai. — Sabemos hoje de ciência certa que foram apenas agentes do nosso torpe imperialismo, do nosso orgulhoso amor à guerra, da nossa cupidez mercantilista. Isso, sabiamente, nos ensinam os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro — três impolutos cidadãos, três homens sem mancha, honrados e verdadeiros campeões da liberdade. Que podem as nossas memórias contra a sua veracidade munificente?

Imaginámos (durante cinco séculos — imaginámo-lo apaixonadamente) que andávamos pelo mundo a continuar Portugal, cientes de ser essa a sua missão, o seu destino, a sua glória. Reconhecemos hoje pela voz honrada dos drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro — que por esse mundo de Cristo destruímos civilizações, arrasámos metrópoles, cometemos genocídios. Que as cidades, vilas e aldeias que erguemos não são nossas, mas de gente estranha — e que os povos nossos irmãos, trazidos para nós, em nós confiantes, eram traidores à Pátria deles que, em verdade e em boa hora, vai deixar de ser a nossa.

Com infinito orgulho, com altíssima devoção, sentimo-nos, centúria após centúria, o décimo terceiro apóstolo, povo do Espírito Santo, farol de palavra divina. Oh! O orgulho dos homens! A petulância das gentes! A hipocrisia paranóica! Fomos uns rapinantes sem escrúpulos, vorazes comerciantes, mercadores astuciosos, criminosos sem perdão, exploradores insensíveis, bandidos sem coração, ladrões desavergonhados, piratas do alto mar, canalhas sem remissão. Caridosamente, sem o afirmarem (para não nos chocarem mais) insinuam isso os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro — três eminentes senhores, fiadores da nossa liberdade, desta paz democrática, desta prosperidade que vamos a desfrutar. Devemos acreditá-los, e agradecer-lhes, e defendê-los. Reconheceram as nossas culpas — e andam a remi-las. Vão acordar Portugal da longa noite em que o adormecemos.

A partir de 1961, ferozmente dominados por Salazar (parolo seminarista, tortuoso financeiro...) vós acompanhastes ao cais os melhores de todos vós — e, em espírito, embrenhastes-vos, com eles, nos matagais africanos. Muitos deles regressaram ou mortos, e povoam inermes os cemitérios do rectângulo, ou estropiados, ou meio doidos. Vós julgastes que eles tinham ido defender Portugal e os Portugueses. Exceptuando os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro — a maior parte de vós supôs que Portugal defendia o seu direito, e que as carnificinas de Angola, da Guiné e de Moçambique tinham sido perpetradas pela UPA, pelo PAIGC e pela FRELIMO. Sabemos agora que não; fomos nós os matadores, fomos nós os assassinos, somos nós os responsáveis, somos nós os grandes réus. A UPA, o PAIGC e a FRELIMO limitaram-se, honradamente, a proceder em legítima defesa, a reagir heroicamente aos nossos ataques cavilosos, às nossas agressões mal intencionadas, à nossa fúria colonialista. Não o confessando há treze anos, não abandonando Angola nessa altura — ofendemos a paz, a liberdade e a democracia. Quem quiser continuar Portugal — está contra o mundo inteiro, orgulhosamente só e nós queremos estar acompanhados, e ser cumprimentados, e aplaudidos, e cortejados, e bajulados por todos os deste mundo. Queremos ser Holanda, Suécia, Dinamarca ou Finlândia, gente respeitada, pacíficos produtores de margarinas, ricaços. Para isso nos encaminham gloriosamente os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro — três sábios, e prudentes, e sensatos cidadãos.

Quisemos que as gentes achadas pelos mareantes fossem portuguesas. Honrávamo-nos com isso, julgávamos honrá-las. Deixamo-las agora entregues a si próprias, nuclear e financeiramente protegidas pelos Estados Unidos, pela União Soviética e pela China. Deixámos de as explorar; vamos poupar milhões. Seremos prósperos, e bem educados, e respeitados por todo o mundo civilizado e pela moral prevalecente. Vão elas deixar de ser portuguesas — vamos nós humilissimamente esforçar-nos por continuar a sê-lo.

Se eu tivesse as qualidades oratórias do dr. Mário Soares, a capacidade organizativa do dr. Álvaro Cunhal, a distinção aristocrática do dr. Francisco Lumbralles de Sá Carneiro — poderia ambicionar, talvez, conduzir-vos à revolta, mostrando-vos as cicatrizes sangrentas deste velho Portugal vencido. Mas eu sou, apenas, um pobre homem com poucos estudos e pouco pensamento, um desgraçado — e eles, três notáveis, honrados e proeminentes cidadãos. Têm o poder, a força e a vitória; prender-me-ão quando quiserem sem ninguém protestar; calar-me-ão. Vós, meus Amigos, meus amados Portugueses, meus queridos compatriotas, sede indulgentes comigo; parece que a alma me vai com o Portugal antigo. Já que não o podemos louvar — choremo-lo com honradez. Quantas vezes o aclamámos e o levámos em triunfo?

Alguém nos impedirá de o chorar?

O silêncio aumenta a velha praça. Acolá e além um soluço risca o muro da tristeza. O povo volta as costas à casa da representação nacional. 0 pano desce lentissimamente. Portugal, arfante, parece morrer devagar.”

BRASILLACH E A SUA OBRA – 6/8

O romance Les Septs Couleurs é, com exactidão, o romance de uma juventude que não tendo ainda determinado o seu futuro se vê perante esse futuro de modo a ser obrigada a tomar partido. A primeira parte, escrita no género popularizado do récit, começa numa pensão heterógenea — a pensão Souris — onde se encontram as personagens que depois serão o corpo da história. É aí que reside Patrice. É aí que o visitará, às vezes, Catherine. A acção tem início em 1926. Os filmes em voga que ambos vêem ou que ambos discutem são o En Rade, de Cavalcanti, o Variétés, o Jazz, o Rapaces e La Charrette Fantôme tirado de um romance de Selma Lagerloff. O actor em voga é Rudolfo Valentino e o cinema preferido o Vieux Colombier. Em literatura, firma-se com o prestígio da novidade a Nouvelle Revue Française e a moda literária à cette époque naïve était aux voyages et à l‘évasion. Eis porque Patrice e Catherine decidem seguir a seu modo as directrizes epocais — décidait ensemble de la suivre, de voyager dans Paris, de s‘évader en eux-mêmes —.
Um terno fio de amor sem consequências os une na mesma aventura maravilhosa de viver a juventude. E é essa juventude que se apercebe do drama dos mais velhos que foram ter à Pensão Souris como navios cansados a um porto de abrigo: essa velhice, porém, não os ensombra. Para eles, há apenas a maravilhosa vivência do dia a dia claro da sua mocidade. Vivem a mocidade numa posse mútua que é a possession dans la puretê. São simples, imaginosos e livres. Por isso a vida os vai separar, determinando o destino diferente de cada um deles, destino que quando volte a pô-los frente a frente já não os deixará reconhecer. Patrice parte para Itália como professor particular e em Itália descobre um comportamento novo, o Fascismo. A descoberta diária que a sua juventude vai fazendo do rejuvenescer italiano é mencionada em cartas sucessivas para Catherine, que vive numa surdina longínqua. É a segunda parte do romance, em que o estilo escolhido é o epistolográfico. Uma saudade existe nesta separação: o não terem visto juntos um filme que empolgou a juventude, O Couraçado Potenkine. Pensam ainda que o hão-de ver. Mas quando? Catherine participa-lhe o despertar de um novo amor, Courtet, amor que a separação motivou ou tornou possível. Ficará o passado, ficarão as cartas, essas que são des miroirs si imparfaits que nous n‘avons de nous qu‘une idée fragmentaire.
O romance entra em novo ritmo. Patrice vai para Marrocos e enfileira na Legião Estrangeira, onde vai conhecer um alemão que constituirá o complemento do apelo à heroicidade que a Europa Nova traz consigo e que o velho mundo liberal não pode comportar. A amizade que liga Patrice a Siegfrid Kast terá consequências. E estas estão marcadas no novo ritmo escolhido por Brasillach — o Journal — diário íntimo em que assistimos ao moldar de uma personalidade e ao amadurecimento de um corpo. O tempo passa-se na caserna em mútuas confissões. Fala-se da Alemanha, das anedotas políticas do Nazismo que vem para o grande tablado da política mundial, da necessária compreensão entre os povos. A guerra de Espanha estala. Em França governa a balbúrdia da Frente Popular e as fotografias que chegam a Marrocos dos acontecimentos franceses lembram a Patrice as imagens da revolução russa, aquela revolução que ele não viu no filme sobre o couraçado Potenkine... É então que tudo o encaminha para a juventude despreocupada do passado: até ao encontro com um dos comparsas da pensão Souris, Sénèque, que o faz retornar aos vinte anos, quando ele ainda não tinha tomado partido. Mas é aqui que surgem as páginas mais vibrantes do Journal: a partida de Patrice para Nuremberga, onde assistirá ao congresso das Juventudes Europeias. É uma féerie de cores, de cânticos, de fraternal camaradagem; é aí que veremos a aparição de Hitler, é aí que regressará à juventude empolgado pela juventude da Nova Alemanha, é aí que descobrirá uma nova mulher que preencherá o vazio do seu passado sentimental, Lisbeth. Mas essa Lisbeth não vai avivar esse passado?
Novo andamento dramático que se realiza em diálogo teatral. Catherine e o marido vão discutir o passado e o presente. Ele está também empolgado pela jovem Alemanha, mas num plano diferente do de Patrice. Para trás ficaram as Réflexions; agora é apenas a vida sem máscara. E é essa vida sem máscara que altera os destinos. Courtet vai meter-se como voluntário na guerra de Espanha, pois ali se jogam os destinos dos homens que acreditam ainda na Europa ou a renegam. Ele acredita e por isso se vai bater com o nome suposto de Herbillo. É no seu espólio que se encontrarão os Documentos — recortes de jornal — em que encontramos as ideias do autor desse espólio e a marcação dos nacionalismos que renascem em toda a Europa rejuvesnecida. E Herbillo ou Courtet é ferido. No hospital pretende saber de sua esposa, último documento deste andamento.
O derradeiro encontro de Catherine consigo mesma dá-se no comboio em que ela segue a caminho do hospital em que o seu marido está internado. É o encontro com a sua adolescência frustrada, mas é também o encontro com a vida. A adolescência com Patrice fora fraterna. A vida com Courtet fora apenas a vida. Por isso ela ia ao encontro dessa vida com este sentido, em diálogo interior: “Comme en pense que toute la vie on va rouler ainsi à travers les loumièrs tournantes, sur ces rails lisses et invisibles, un peu de sueur aux épaules, dans l‘odeur de la poussière, du drap tiède et du charbon, engourdi sans effort pour lever les paupières et livré sans défense à toues les images de la vie”.
A acção termina em 1939.

BRASILLACH E A SUA OBRA – 5/8

O romance que se lhe segue tem uma tonalidade diferente. No anterior, surgira uma força que subtilmente penetrara na acção: o aparecimento em qualidade e número dos partidos políticos das direitas. Em Les Sept Couleurs surge o Fascismo, o Nacional-Socialismo, a guerra de Espanha, como elementos da acção, como força impulsionadora das personagens que preenchem a história, a vivem e dela fazem parte. Para além do tema, surge uma inovação técnica: cada uma das partes da acção utiliza um processo diferente tendo em conta, como o explicou Brasillach, que “la technique du roman...” tem “une extrême liberté” e daí “la facilité à admettre toutes les formes”. Daí, a posição do autor perante o material que tinha em mãos para construir este novo livro, que abre caminho a uma renovação: “Dans la plupart des romans, d‘ailleurs récit, dialogue (même le dialogue transposé), essai ou maximes, documents, lettres, pages de journal, monologue intérieur, se mêlent en une même oeuvre”. Eis que isso vai ser aplicado a este romance em que se chocam todos os grandes movimentos das direitas no desejo de criação de um mundo novo. Pode dizer-se que o autor, ao fim e ao cabo, não realizou uma obra que resiste ao tempo? Mas será isso por causa das inovações ou por ódio às ideias fascistas que neste romance palpitam página a página? Eis a questão que muitas vezes se desloca intencionalmente para que o público não se aperceba do logro. Mas a verdade é que as páginas todas resistiram ao tempo que, passando por elas, não as sepultou em cinza.
Este romance, como toda a obra de arte, tem de ser localizado no seu tempo, pois obedece exactamente a um comportamento temporal. Pierre-Henri Simon viu bem o problema, ainda que só o tocasse nas generalidades. Precisamente no capítulo Les nouvelles tendances critiques et refus de la civilisation bourgeoise da obra já referida, o ensaísta francês declara:
“Pour comprende le mouvement de l‘esprit entre les deux guerres, il est important de remarquer qu‘autour de l´anné 1930 le vent a tourné. La géneration littéraire qui commence à s‘exprimer vers cette date est plus sérieuse, moins egoiste, moins joueuse que celle de ses aînés, elle préfere souvent l‘essai au poème, elle charge le roman de discussions politiques ou d´intentions sociales; dégoûtée par l‘anarchie morale et intellectuelle mais non ralliée aux solutions traditionelles, elle cherche les principes d‘un humanisme nouveau, voulant passer, a écrit Robert Brasillach, à d‘autres jeux que l‘evasion, l‘inquietitude et sourtout leur explication”.
Ora, este inconformismo político e social era tomado em oposição a Maritain, a Gide, a Valery, a Alain, a Roger Martin du Gard, a Duhamel, a Jules Romains, a Chardonne, a Maurois, a Giraudoux, a Mauriac e a Bernanos. Era o comportamento geracional e não podemos atacar a posição de Brasillach só porque ela obedecia às vozes profundas e sinceras da sua jovem geração que pretendia abrir caminho através da floresta espessa daquilo que todos supunham como ultrapassado ou então como um logro. Repare-se que neste romance ou nas reportagens da guerra de Espanha Brasillach está frontalmente em oposição aos antigos mestres do romanesco francês, mestres que tomaram posição pelos vermelhos apesar dos seus compromissos religiosos e morais! É bem sintomática essa posição. E é essa posição que vai determinar o seu comportamento futuro até ao pelotão executório.

terça-feira, outubro 02, 2007

Laicos ou jacobinos?

Grande vai a alegria dos nossos brilhantes esquerdalhos de serviço. Estão a dar porrada consecutivamente na Igreja (agora são as capelanias hospitalares). Provam assim que são (muito) de esquerda. O avô cantigas – vulgo Vital Moreira – está eufórico (diria mesmo está com um espírito orgasmático).

Assim a seguir aos abortos, aos direitos dos maricas, dos drogados, vem a demonstração do estado laico! Laicismo, laicismo, gritam eles!

Pois a mim (adepto de um estado laico muito pouco interventivo nessa área) parece-me que eles estão a cair num estado jacobino – tipo Afonso Costa, ou tipo mexicano – muito mais do que no tal estado laico. As diatribes do avô cantigas contra a universidade católica – ditas e repetidas ao longo destes anos – ainda não tiveram consequência. Mas esperem-lhe pela pancada.

Ou seja nem as demonstrações (benzeduras canhestras, é certo) de um “certo catolicismo” (por parte do licenciado em engenharia Sousa) lhes vão salvar da situação.

Eu pensava que os do Bairro Alto já tinham aprendido a lição. Afinal parece que não.

Vamos acompanhar a situação. Mas acho que eles estão a meter (muito) a pata na poça.

E o que tem mais piada é que está tudo muito caladinho. Oposição oficial do regime e tudo... Acho que eles – os do PS - já caíram na armadilha...

Erros nossos, má fortuna?

Voz amiga chamou-me a atenção que devo parar de dar porrada nos dois jovens que cometeram uma acção descabelada, e que se calhar já estão arrependidos. (ou seja, bem à portuguesa: não há rapazes maus, dizia o Padre Américo...)

Pois eu continuo a achar que essa voz amiga não tem razão. E porquê?

Porque um erro (quando despropositado e irresponsável) pode deitar a perder todo o trabalho de muita gente!

A título de exemplo, vou contar uma história – verdadeira – que a todos nós nos encheu de júbilo, nos idos de 1975.

A acção passa-se no Aeroporto de Lisboa. Meados de Julho de 1975. O Arcebispo de Braga – Primaz das Espanhas, não nos esqueçamos – vai de visita ao Brasil.

Os mfa e os copcães resolvem revistá-lo porque tinham tido a informação (caíram que nem uns patinhos na armadilha, segundo consta) que ele levava dinheiro (muito) para o estrangeiro.

Ou seja despiram totalmente o desgraçado ao Arcebispo. Chegaram a fazer o toque rectal para se certificarem que o tipo não tinha metido o dinheiro no “ânus”. Ou seja, humilharam-no até mais não! Fartaram-se de rir. Recordo que quando tive conhecimento do caso (já em Madrid) foi-me relatada detalhadamente uma conversa tida numa messe de oficiais de uma unidade de cavalaria em que os mfa(iosos) se divertiram à grande e à “moscovita” a contar os detalhes do caso. O embaraço do bom do Arcebispo, etc.

Todos nós tivemos imediatamente a certeza que tinha sido o princípio do fim deles. Era um erro demasiado grande para não ter consequências!

A história conta o resto. Regressado a Portugal logo deu luz verde a um empenhamento profundo da organização católica contra os mfas. O que nunca – até à data – sequer lhe tinha passado pela cabeça.

Repito. Um erro de uns malucos do mfa deitou tudo a perder para eles - a partir daquele momento foi tudo muito mais fácil. (ainda bem, dizemos nós...)

Mas a analogia é gritante!

Ou seja reitero o que já disse:

haja cabeça, ideias, organização e disciplina! E pensem (ou obriguem-nos a pensar) antes de agir!

BRASILLACH E A SUA OBRA – 4/8

Um ano depois — em 1937 — surge novo romance onde a maturidade do seu autor começa a estar patente. É ainda um drama da juventude com páginas inesquecíveis de romanesco. Mas o escritor amadureceu o seu tema e trouxe para a cena um elemento novo que é de considerar. O anterior autor de Histoire du Cinéma aproveitou essa experiência para nos dar algumas das páginas mais coloridas e vivas do seu romance Comme Le Temps Passe... O tempo da acção divide-se em diversos andamentos e cada andamento tem o seu estilo próprio que, apesar disso, se une ao todo que constitui o romance, onde se conta uma história que começa nos dias despreocupados da infância vivida na Maiorca por dois primos — René e Florence — que dentro da sua ilha constroem a ilha sonhada na sua imaginação. Tudo lhes sabe a novo na descoberta do dia a dia. É um encanto de pureza e de lirismo este primeiro andamento do romance. Surgem ainda os tipos humanos que ligam as idades; e neste romance destacaremos dois que deslizarão sempre ao longo da história, baralhando-se nela e até nela influindo: Matricante, espécie de faz-tudo que a toda a vida moderna se adapta, e Epítome, professor de uma escola de ilusionismo e magia, ele próprio mago e ilusionista. René parte para Paris e é o fim da infância: a “ilha” que ele e Florence criaram não saberá mais ao gosto açucarado do tempo que passou. René cresceu, fez-se homem e vai na troupe cinematográfica. É o princípio do cinema como arte e como exploração comercial. Mas é um mundo preenchido por figurantes novos que vive do sonho de uma Catalunha independente em poemas e em aventuras várias. Nesta figura de anarquista se polarizam os desdobramentos vários de uma adolescência para quem o mundo todo se abre. E é o roteiro do cinema com suas fitas de curta metragem, seus figurantes de acaso, onde se encontra Elsa, que responderá à necessidade do amor físico de René.
Quando a digressão acaba, ficou dela uma experiência válida e a raiz do futuro nessa Elsa que vai procurar vida nova para outros horizontes. É, a seguir, o regresso de René ao amor puro e jovem de Florence, e, por certo, dele brotam as mais belas páginas de amor e da literatura contemporânea na noite de núpcias que ambos vivem em Toledo. Depois é a vida, é o filho que nasce, é o pão de cada dia que tem de ser ganho. Novamente a figura de Matricante, agora agenciário de automóveis, a ajudar o jovem casal e a enviá-lo para a paz podre da província, onde no destino dos dois se cruzará a figura de Passeur, oficial do Exército que tenta o amor de Florence. É quase a queda no súbito despertar das fontes da infância. O que a detém pode ter sido o acaso: mas o acaso não foi tão subtil que não permitisse o ciúme a René. E ele parte, parte para uma longa viagem de que não dá o roteiro a ninguém. É a guerra e René faz a guerra: aí, encontra um camarada que como ele tem um drama na sua vida, Jacques le Sur. E essa vida, que ele ama mais que tudo, abandona-o num ataque inimigo. A paz e o novo reencontro com a vida. O filho de René cresceu e é na Sorbonne que encontra uma rapariga, Geneviève, que para ele representa a juventude que Florence representou para seu pai. Com a agravante: ela é filha de uma das artistas de cinema que seu pai amou e com a qual fez arte. O passado volta sempre à memória de Florence e um dia, quando regressava de um espectáculo dos Pitoëff, encontra colado ao seu vulto no espelho do teatro a figura de um René, mais velho, com os cabelos a grisalharem. Vão para casa como dantes; regressam a casa como à “ilha” da infância... O tempo tinha passado, mas o amor não. É neste romance que se sentem os primeiros toques da nostalgia de uma juventude que ia passando, mas ficarão várias páginas admiráveis, várias experiências, vários comportamentos e ainda um grande e cálido amor à vida, essa vida que todos sorveram — velhos e novos — enquanto o tempo passava, sem às vezes se dar pela sua passagem