sexta-feira, setembro 14, 2007

O vento mudou e ele virou...

Ou o "viracasaquismo" no seu melhor...

Ontem lembrei-me muito do Amândio César. Contador de histórias ímpar. Com uma memória invejável. Igual, igual (para não dizer melhor) só me lembro do António Manuel Couto Viana. E eu, mais novo, e com a minha memória neste estado.(não é justo)

Bem este pequeno intróito tem a ver com um personagem bem desconhecido quer nos meios nacionalistas quer até nos do "reviralho". Mas que teve a sua importância.

Falo do advogado e escritor Dr. Virgílio Godinho (Prémio Ricardo Malheiros de 1942).

E quem era o indivíduo.

Estudou em Coimbra. Nunca se aproximou muito dos Integralistas. No entanto frequentava assiduamente os ambientes católicos. Ajudou Rolão Preto a formar os "Camisas Azuis" portugueses, de quem foi um dos principais apoiantes. O seu braço começou a ser levantado assiduamente.

No entanto e com a sua personalidade pouco dada a papéis subalternos, decide, por volta dos meados de 1941, criar um novo movimento. O Movimento Nacional-Corporativista dos Trabalhadores Portugueses. Igualzinho ao NSDAP, só que em vez de socialista se lia corporativista. Estava, na época por Coimbra. No entanto em 1942 já o movimento está bem implantado não só em Coimbra mas também em Lisboa, Porto, Barreiro e Covilhã (dois dos principais pólos operários portugueses da época). Conta com muitos apoios. Amândio César também por lá anda. Luís de Quadros também, e etc.
Nessa altura Hitler era poderoso e parecia invencível.

Só que o "vento mudou e ele virou".

Enfim a rotina habitual nos sem coluna vertebral. E para onde?, para um salazarismo versão soft? para a Acção Católica? Não nada disso. Foi logo para os que ele pensava serem os vencedores de amanhã. Vêmo-lo frenético em tudo o que é democracia, oposição, chega a ligar-se aos comunistas (que felizmente tinham vergonha e lá o escorraçaram um bocadinho).

Em 1958 vemos o nosso homem com Humberto Delgado (um dia conto-vos umas histórias de um dos mais fiéis de Delgado - o dr. Rodrigo de Abreu). Ainda frenético. Dizendo mal de Salazar, da Democracia Orgância pela qual se tinha tanto batido. A fé católica já tinha ido também às urtigas. (diz-se que passou a usar avental...). Em pleno marcelismo tenta uma aproximação à União Nova (designação que Marcelo e sus muchachos queriam colocar à antiga União Nacional de Salazar, até chegarem à versão final de ANP). Mas nem esse albergue espanhol o aceita. Vai então para o Congresso da Oposição Democrática de Aveiro, como representante do PC de Castelo Branco. Como vêem carreira bonita!

Enfim um regabofe. Ou seja, como diria Manuel Múrias (pai): "ele foi nosso, hoje é deles e amanhã (se não tivermos vergonha) será outra vez nosso".

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