quarta-feira, setembro 05, 2007

E por falar em Rebatet



Ou fez - ou está a fazer - 35 anos que nos deixou fisicamente Lucien Rebatet. Sei-o porque na altura estava em Moçambique e recebi a informação de Dominique de Roux que nessa altura por lá andava. Situo a conversa em princípios de Setembro de 1972.

Rebatet foi um escritor famoso por duas obras: Os Escombros e as Duas Bandeiras.

Começou, contudo, na Action Française como crítico musical, sob o pseudónimo de François Vinneuil. Passa depois pelo Je suis partout, onde acolhe, com entusiasmo, as Bagatelles de Céline. Para além de um antisemitismo feroz, Rebatet contesta também o catolicismo, o comunismo e a democracia. Proclama-se fascista.

Após a derrota da França aproxima-se de Doriot, mas depressa regressa ao Je suis Partout.

Publica em 1942 Les Décombres (os escombros) onde designa como responsáveis pela derrota de 40 os judeus, os políticos e os militares. Atira-se mesmo aos mais débeis de Vichy.

O seu último artigo publicado na Pátria intitula-se "Fidelidade ao Nacional Socialismo". Foge então para Sigmaringen.

Condenado à morte em Novembro de 46, alguns meses depois vê comutada a sua sentença para trabalhos forçados. Na cadeia de Clairvaux acaba "o" seu Romance. Les deux etendards (as duas bandeiras), publicado pela Gallimard.

Libertado em 1952 escreve mais uns romances (sem a garra do anterior) Continua o seu combate no Rivarol e nos Valeurs actuelles. Até ao fim continuará "fascista".

3 comentários:

Flávio Santos disse...

Não esquecer "Une Histoire de la Musique", de grande nível, embora com algumas injustiças flagrantes (Bruckner e Shostakovitch, por exemplo). Também conseguiu afugentar alguns leitores do Rivarol quando exaltou a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias...

josé carlos disse...

Eu sei, eu sei. E tudo por causa da vitória sobre os árabes! Por causa da Blitz (que lhe lembrava as Waffens) e outras razões. Não esquecer que renegou também o seu antisemitismo. ... E votar no Miterand em vez do De Gaulle. Não por anti gaulismo militante (que seria admissível), mas sim porque acreditava que a CEE defendida pelo "mon ami" era o futuro da Europa e que ela substituiria o sonho europeu pelo qual tinha lutado.

Li há bem pouco tempo - em Junho/Julho - (emprestado pelo Nonas) a História da Música, já editada depois da sua libertação. Bem, digamos que tem umas partes menos conseguidas. A música vocal francesa também sai muito maltratada. Mas gostos são gostos.

Depois de ler o seu interesse em Rebatet vou fazer um postal sobre Les deux Etendarts e sobre uma das suas últimas entrevistas.

Para lhe aguçar o apetite tive a oportunidade de o visitar na sua modesta casa (com uma biblioteca portentosa - como dizia). Foram horas de puro deleite.

Flávio Santos disse...

Que inveja, meu caro! E note que boa parte da sua biblioteca foi confiscada pelos "libertadores".
Li "Les Décombres" em edição de 1942, ainda com a banda que Denoël apôs ao volume, com os dizeres: «De la polémique? Non, l'histoire de notre temps!» A foto que ilustra o seu postal representa uma sessão de autógrafos por ocasião do lançamento desta obra. Como o autor diz nas "Mémoires d'un Fasciste" (póstumo), a fila para um autógrafo dava a volta ao quarteirão.
Ainda não me "atirei" a "Les deux Etendards", que tenho em edição original, com o comentário do editor que a dita edição não tinha sido revista pelo autor, por sua impossibilidade (estava preso).
Ando a preparar um texto para a Alameda Digital sobre Rebatet, esta troca de comentários vem mesmo a calhar.