sábado, setembro 29, 2007

Ainda as atitudes “descabeladas”

“O que se escreve sobre nós nunca é justo: ou é de um amigo ou de um inimigo”. Este brilhante aforismo foi escrito um dia por António Ferro (quem mais?).

E veio-me este aforismo à cabeça quando ontem à noite recebi, da África do Sul, um “mail” de uma Amiga “faccetta nera, bella angolana” que sempre se bateu (como poucas) por um Portugal do Minho a Timor e espalhado pelo Mundo, através da nossa diáspora.

Pois a minha Amiga - horrorizada – falava-me no ataque ao cemitério de Lisboa. Chamava-me a atenção para um artigo que eu tinha escrito – e publicado na África do Sul – sobre a destruição de um cemitério militar (na RAS e feito pelas entidades oficiais) em que estavam a dormir o sono dos justos uma série de combatentes portugueses pretos, mestiços e brancos, mortos ao serviço da Causa.

Pedia-me a mesma indignação que eu tinha exposto nesse artigo. Exigia-mo, digamos em linguagem mais correcta. E pedia-me “a mesma e justa indignação, que originou o teu brilhante artigo (sic)”. Ou seja transformou um pequeno texto meu num “brilhante artigo” (coisas de Amiga).

Mas ela tem toda a razão sobre o que está subjacente a tudo isto! E que o que eu já tinha escrito neste blogue e no dia de ontem era pouco claro e só destinado a “iniciados”.

Nós os mais velhos temos o direito e a obrigação de chamar os bois pelos nomes. Pois aqui vai!

Sou Nacionalista assumido (com muita, alguma e quase nenhuma militância ao longo dessas décadas) há mais de 45 anos (cumpridos em Março). Já dei provas de não ter medo de dizer aquilo que penso (e de actuar em conformidade). E o que penso é que se a Lei não castigar devidamente os “energúmenos”, deve ser criado um mecanismo legal que imponha uma “reeducação” dessa gente. Nem que sejam os campos de reeducação iguais aos da Frelimo ou do Mpla!

Não há – em Portugal – qualquer problema judaico! Isto é importante ser dito! Até a porta voz deles é bem fraquinha, coitada! Não se pode confundir uma oposição a uma politica de um Estado – Israel, no caso – com posturas contra religiões ou outras. Podem dizer-me que os sionistas isto e aquilo, etc, mas a mim isso não me interessa no que diz respeito a Portugal. Se eles mandam no mundo, nada do que aqui se diga ou faça vai mudar seja o que for. Demos tempo ao tempo. A emergência das duas futuras grandes potências mundiais – a China e a Índia - vai menorizar o poder norte americano, e concomitantemente o poder sionista. (vai ser uma implosão, como a da antiga URSS) . Vai dar luta, mas neste momento já é irreversível.

Sobre o significado de um cemitério quero apenas dizer que desde a maior antiguidade conhecida o culto dos mortos – nas sociedades indo – europeias, e não só – teve sempre um lugar de destaque. São as raízes genéticas e culturais que lá se encontram. Ou seja tudo aquilo que nós somos e que transmitiremos aos nossos. Não se percebe, nem se aceita, pois uma atitude destas. Como não se aceitaria nunca que um grupo de energúmenos dos berloquistas atacasse um cemitério militar português! Seriam também por mim chamados “energúmenos”! E se calhar não me ficaria pelas palavras ...

Convém também esclarecer que “rituais de iniciação” dos mais jovens tem também uma função pedagógica. Veja-se qualquer ritual de iniciação nas terras transmontanas ou em qualquer tribo africana. Não é criando os disparates de “praxes” importadas que se educam os futuros militantes. Só dão ideias completamente idiotas a jovens que ainda não tem grande capacidade de avaliação das suas atitudes (notem que eu em muito jovem também fiz muitos disparates, mas tive sempre quem me enquadrasse, me corrigisse e me punisse, quando o caso assim o exigia)!

Outra coisa, sou Nacionalista – acima de tudo Nacionalista Português – e não gosto muito de “importações globalizantes” de outros países europeus ou não! Não, não sou inglês, não, não sou russo! E olhem que tive várias conversas com destacados militantes skins desses países, que muito bem aceitaram a minha postura.

Não queiram, pois, ser mais papistas que o Papa!

Tenham juízo, não copiem, sejam Portugueses e batam-se por Portugal (como alguns - muitos - dos vossos têm feito ao longo destas últimas décadas)!
Nota: o mesmo epíteto de “energúmenos” se aplica, por exemplo, aos responsáveis do Cemitério Alemão de Lisboa que desrespeitaram o sono dos mortos com “censuras” e “ocultações” do que estava escrito nas lajes das campas! Como vêem sou eclético quando chamo nomes aos bois!

sexta-feira, setembro 28, 2007

A vida de um “blogueador” é tramada. – Ou a “Floração Juvenil do Jovem Brasillach”


Um tipo começa a falar de um assunto e as ideias saltam, saltam. Queremos colocar alguma ordem no assunto e não conseguimos. É tramado! Principalmente para mim que sou um pouco (para não dizer muito) desorganizado. Eu bem me tento disciplinar, mas estou – uma vez mais – a ver que não consigo.

De tudo o que falei verifiquei que devia ter dito mais, pela importância do assunto.

E o assunto aqui é Robert Brasillach. E são muitos dos meus Mestres.

Como poderia deixar de fora Amândio César. Impensável. Foi ele que me deu todas as oportunidades na vida para que eu escrevinhasse alguma coisita. Foi ele que me incentivou. Foi ele que me ensinou. Foi mesmo – e afirmo-o com orgulho – um segundo Pai! E logo eu que tive a sorte de ter tido um verdadeiramente excelente Pai! (cujo único “pecado” foi ter partido desta vida demasiadamente cedo)

E eu, meus caros, aprendi com Cervantes que o maior crime que se pode cometer é o da ingratidão. E esse crime não tem perdão! (e nem sequer está tipificado no Código Penal – nem sequer posso ser preso pela Judite. Não posso cumprir prisão). Mas mesmo assim não o quero cometer.

Escolhi um texto de Amândio sobre a obra de Brasillach. Sobre os seus 7 romances. É grande, é enorme (no ponto de vista de um blogue) mas é essencial para iniciar muitos jovens na obra do mártir de Fresnes.

Vou dividi-lo por diversos postais. Caso contrário seria uma seca horrível, apesar da elevadíssima qualidade do texto. Tinha que ter uma opção, foi esta que prevaleceu. O texto é essencial e tenho de o partir aos pedaços (oito mais precisamente). Peço desculpas antecipadas.

Nota: Eu sei que devia deixar este assunto para relembrar o 6 de Fevereiro. Mas há tanta coisa ainda a dizer que posso impunemente publicar - desde já - tudo isto!

E por falar em Goulart e Brasillach




Isto volta a ser como a história das cerejas... Nas minhas buscas de escritos do Goulart apareceu-me esta delicia. Este “bolo” (com direito a cereja cristalizada em cima e muito, mas mesmo muito, chatilly).

Um texto do Francisco Lucas Pires sobre o Brasillach. Sim, dele mesmo, do próprio, do legítimo. Do tal que depois do 25 se afirmava “democrata desde pequenino” (para aí desde que foi desmamado, digo eu...):

Este texto não é recomendado a almas pouco dadas a experiências e emoções fortes. (pernas fofas – como lhes chamava o Goulart - façam favor de se abster...)


BRASILLACH CUMPRIU-SE...

Brasillach veio declarar a violência ao seu mundo e mataram-no.

Desde Cristo que é assim: os que vieram para escandalizar são mortos, mas depois regressam e já ninguém se pode libertar da sua escandalosa presença.

Aos carrascos deixou a sua morte, o remorso; a nós deixou-nos a sua vida, o exemplo.

Exemplo de juventude que se identifica pela insolência e pelo espírito, ele foi novo até na generosidade com que dispersou os seus talentos. Até nisso, integral.

A juventude é uma coisa e a idade outra. Mas a Brasillach nem sequer foi permitido atingir a idade em que os homens se costumam tornar velhos. Melhor: assim nos ficou a memória de uma imagem de juventude inteira: da física e da espiritual.

Foi ainda dessa maneira total que ficou connosco. O seu testemunho não está destinado à guarda de um erudito conservador de museu, está destinado à fidelidade dos seus voluntários camaradas.

Por isso, melhor cumpriremos colectivamente a tarefa e o cinismo de o testemunhar. É a melhor homenagem que devemos à sua magnífica lição de camaradagem, a nossa própria camaradagem.

A sua permanente atitude de afronta contra a hipocrisia e o cinismo e a audácia com que se manifestou a coragem reúnem-nos de novo, para confirmar a unidade original do espírito na unidade da acção.

Brasillach cumpriu-se: “Daqui a 20 anos ouvirão outra vez falar de nós”.

Ele preveniu-os.

Francisco Lucas Pires

E então o Goulart Nogueira?

Isto vem às catadupas. Recordo Rodrigo, Conde Veiga, Soveral e logo, logo vem Goulart à minha presença! A “moribundar-se” impotentemente há mais de três (longos) anos numa agonia que não merecia. Mas não merecia mesmo! Mais valia que tivesse ido como o seu grande Amigo Ernesto Sampaio.

Como o recordo, como sinto falta do seu génio, do seu mestrado, da sua vizinhança, da sua amizade!

Aqui já não há memória que aguente. Tenho de consultar os meus papéis. E escolher um texto:

Pois junto o útil ao agradável: vai um texto sobre o nosso Brasillach (de que Conde Veiga nos falava no poema anterior) e que também é uma minha homenagem ao Homem de Teatro que sempre foi o nosso Goulart. É isso mesmo:



BRASILLACH E O TEATRO

Há cinquenta anos foi assassinado um dos maiores autores franceses do nosso tempo. Há cinquenta anos as balas matavam Brasillach e, como assinalou Marcel Aymé, “a nossa vida, agora que ele já aqui não está, é como descolorida paisagem”, porque “ele nos trouxera a alegria, guardava-lhe o segredo”. No entanto, a sua obra continua viva, cada vez mais se ilumina, intensifica, enriquece de significado, servindo de alimento e de luzeiro e de fortaleza e de apoio às novas gerações. À medida que nos debruçamos para o que ele escreveu, descobrimos a rara qualidade da sua obra, a palpitação fraterna que a impulsiona, o senso poético que a trespassa, a finura psicológica que a desenha, a inteligência, a harmonia, a forma delicada e firme em que ela se realiza. E, depois, encontramos ali o melhor e o mais profundo de nós próprios, vemo-lo na fidelidade à permanência e na vibração renovadora, activa, comungamo-lo na actualidade e no actualismo, no desejo de pureza e amizade, reconhecemo-lo na juventude constante e no louvor da sabedoria.

Brasillach foi romancista, poeta, crítico, dramaturgo, cronista, jornalista, doutrinador, homem de acção. Escreveu sobre literatura, cinema, teatro, os vários acontecimentos da sua época. E em tudo deixou a marca de uma personalidade exemplar e não apenas significativa, foi e é, não um simples sinal dos tempos, mas um de nós e um nosso condutor. Esta dupla qualidade de companheiro e guia, esta vitória de nos exprimir, de se nos comunicar e ter sobre nós uma função formativa, estabelecem-no como um verdadeiro autor no sentido original do termo.

Graham Greene observa que o teatro, especialmente um teatro como o de Shakespeare, teatro alquímico, está ligado a épocas conturbadas como a nossa. O teatro, realmente, é conflito, drama, obra agónica, debate. Poderá Robert Brasillach entender-se com isto? Terá sido ele um homem de teatro? Ao observarmos a sua vida e ao lermos a sua obra, concluímos que sim. Como foi possível, então?

Brasillach sentia com percepção aguda e subtil os cortes do tempo em geral e os retalhamentos da sua época em especial. Ele tinha a consciência da caducidade, sabia como o tempo passa e sofria pelas divisões e pelas lutas. Mas o seu ideal de harmonia e permanência manifestava-se na afirmação, na vivência, na obra de juventude e amizade. Sem ignorar os conflitos, sem se lhes furtar, quer ultrapassá-los, conhece que a essência e a resolução de tudo estão no amor e na graça. A sua nostalgia de infância transporta-se e transmuda-se em apetite de futuro. Como notou Henri Massis, “num mundo onde se desenrola a cadeia das revoluções e das guerras, Robert Brasillach não queria, no entanto, senão pensar no futuro, naqueles que viriam, que um dia haviam de ter vinte anos”.

Brasillach vivia e insuflou na sua obra as limitações, as divisões, os golpes, as perdas, as dores, os males da natureza e da História, metafísicos ou físicos, mas tornados psíquicos, imprimidos e expressos na alma humana. Este realismo que dá uma leve respiração melancólica ao que escreveu este reconhecimento das oposições, conduz-se, porém, ao optimismo e busca a felicidade, a alegria em que acredita de que fala, que constrói sem desfalecimento. Como o Génesis, como Stº Agostinho, como o Cristianismo, ele sabe que o mal entrou no mundo, mas que tudo quanto Deus criou é bom. Em toda a Paixão está subentendida e triunfante uma florida Páscoa de ressurreição. O problema e o dever é reencontrar para além dos golpes a saúde, a inocência e a sabedoria, o equilíbrio terrestre e perdido. Brasillach acredita no nascimento daquela palavra que “é frágil”, mas que ele quer ver “inscrita nos corações dos homens” e que se chama felicidade. Compreende-se, pois, que ele se tenha referido ao “seu fraternal adversário” que ele tanto tenha falado em amizade e a louvasse maravilhosamente.

O teatro é debate, mas o conflito há-de ter um desenlace, uma justiça que traz uma paz. Com a vontade e o coração, com a sua energia ordenadora e o amor, vai-se construindo o equilíbrio e a paz. Por isso, encontramos no seu teatro, como nas suas críticas teatrais, como na sua actividade ao teatro ligada, como em toda a sua obra, aliás, a presença da vida real, mas o seu domínio também numa consecução de forma, tanto que a obtém calma e ágil límpida e sensível, perfeita imagem da perpétua criação e da esperança, da rectidão e da alegria, enfim, da juventude.

Goulart Nogueira

Recordações

A nossa cabeça prega-nos partidas imensas. Quando acabei de escrever o postal anterior, e, ainda sem os meus documentos, veio-me à memória todo um poema de João Conde Veiga, Homem e Poeta que nos abandonou fisicamente no mesmo dia do Rodrigo Emílio. Talvez por isso – e acima de tudo por isso – o seu passamento na sua Vila do Conde natal, “passou ao lado” de todas as homenagens a que tinha total e inteiro direito pelo seu labor, pelo seu saber, pelo seu talento, pelo seu militantismo.

Trata-se de um poema de homenagem a Brasillach. Belo, belíssimo e muito sentido. Só peço desculpa se não sair tal e qual, mas é como o recordo:

Seara do Céu

Levanto-me como a espiga
Ao sol de antigamente
Com o dom de agricultura
De ser uma semente.

Levanto-me entre as ervas
Que crescem pelo prado
E trago a dor humana
De não sofrer calado.

Liberto-me, ergo a voz
Da minha condição
Num grito que mais vale
O som da multidão.

A quem lhes rouba o fogo
Os deuses são adversos:
Chénier ficou morto
Suspenso entre dois versos.

Os homens não perdoam
Os verbos no futuro:
Brasillach vive ainda
Caído junto ao muro.

Erguemo-nos, cantamos
A alegria inteira
Da morte vir e termos
No corpo uma bandeira.

Crescendo com as espigas
Ao sol de antigamente
Com o dom de trazermos
No corpo uma semente.


João Conde Veiga

As “cenas” dos últimos dias

Cito de cor: (não tenho comigo os meus documentos) “ a nossa gente não tem de mudar de ideias, mas as nossa ideias é que tem de mudar de (alguma) gente”.

Quem o disse – e repetiu dezenas de vezes - foi o nosso inesquecível Rodrigo Emílio (como sempre, mas mesmo sempre, com carradas de razão).

Também me apetece citar o nosso Ortega Y Gasset, Mestre de tantos nós (e tão difundido em Portugal por Carlos Eduardo do Soveral). E que dizia:

“O homem excepcional não é o petulante que se crê superior aos outros, mas aquele que exige mais a si próprio que aos demais.

A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem o desplante de afirmar o direito à vulgaridade e de a impor em toda a parte.”

E mais (sobre este assunto) não me apetece, para já, dizer. Fico-me!

Haja quem enquadre e discipline essa gente!

Ou então ...

quarta-feira, setembro 26, 2007

FUI ENTREGUE À FRELIMO

Como fora prometido, eis as declarações de Luís Fernandes , preso por militares portugueses e por eles entregues à Frelimo, quando Moçambique ainda era terra portuguesa. Uma página vergonhosa da nossa «descolonização exemplar» que a correcção política que ora se vive, a brandura consabida dos nossos costumes e alguns compadrios de circunstância tentam fazer esquecer. Luís Fernandes , licenciado em Ciências Sociais e Política Ultramarina, oficial miliciano com o curso de Acção Psicológica, ofereceu-se na Região Militar de Moçambique para os Grupos Especiais Pára-quedistas, onde, concluído o respectivo curso, combateu no mato, meses a fio, os terroristas da Frelimo, primeiro como alferes e depois graduado em capitão. Não aderiu ao MFA e mantém-se coerentemente fiel às suas ideias. Leccionou durante dez anos na Universidade Autónoma de Lisboa, onde foi regente das cadeiras de Introdução às Ciências Sociais, e Ciência Política. Presentemente prepara uma tese de mestrado. Foi um dos fundadores da Associação dos Grupos Especiais e Grupos Especiais Pára-quedistas, de cuja mesa da assembleia-geral é vice-presidente. Continua fascista.

“Mantenho o que disse”
Porém, como se viu na carte que enviou a “O Diabo”, publicada na semana passada, o agora general Lopes Camilo, refuta todas as tuas acusações. Ele invoca, até, uma carreira prestigiante e sem mácula.

Que o senhor major-general Lopes Camilo, no decorrer da sua longa carreira militar, possa ter feito coisas muito meritórias, não o questiono. Nem lhe contesto o valor daquilo que, digno de louvor, eventualmente tenha feito até se envolver na conspiração dos capitães, durante a qual, segundo o então capitão José C. Pais, acompanhou esse oficial, hoje coronel, e outros dois camaradas, os então capitães Lobato Faria e Mariz Fernandes, entregar na Presidência do Conselho o texto aprovado na assembleia de Évora de 9 de Setembro de 1973. Nessa altura, ele, capitão Lopes Camilo aguardou corajosamente num carro, com os então capitão Vasco Lourenço e tenente Marques Júnior, que os outros fossem eventualmente presos.

O que está aqui em causa, e me interessa salientar, reporta-se exclusivamente ao comportamento que teve em Moçambique nesse conturbado período de 1974/75.

Dou testemunho da verdade, nua e crua, sem o menor manto diáfano de fantasia. E não há nada mais brutal do que um facto. Aconteceu. É assim, sem tirar nem pôr. Só mentindo com quantos dentes tem, poderá o senhor major-general Lopes Camilo negar a evidência.

Terá sido um caso de dupla personalidade? Um remake do Dr. Jekill and Hyde? O brioso oficial, em noites de luar, transformar-se-ia em lobisomem? Mistério…

É realmente inacreditável que alguém com o perfil de militar impoluto, apresentado pelo próprio na sua carta de 17 de Outubro de 2003, nascido numa boa família, educado, ao que parece, no culto da honra e do dever militar, temente a Deus e devotado à Pátria, possa ter assumido comportamentos e atitudes em tão flagrante contradição com os mesmos princípios e valores que a Família e a Escola lhe haviam, aparentemente, incutido.

Foi apanhado pela voragem tresloucada do PREC em África? Ultrapassado pelos acontecimentos? Ou responsável consciente e determinado da tragédia que foi a “exemplar descolonização”, com o arrastar da bandeira das quinas na lama, pelas ruas da amargura?

Passando por cima das suas declarações acerca da sua carreira militar, como analisas o pouco que diz realmente relacionado com os acontecimentos de 1974, em Lourenço Marques?

O que é que o senhor major-general entende por “nunca ter pertencido a qualquer estrutura organizativa do movimento das forças armadas”? Valha-me Deus! Eu nunca disse que ele tivesse pertencido ao Conselho dos Vinte ou ao Conselho da Revolução. Mas havia outras estruturas menos conhecidas, mais informais, a nível local, que assumiam uma importância bem superior às “inseridas na cadeia hierárquica e funcional existente”.

Era público e notório, em Lourenço Marques, que o então capitão Camilo era, de facto, uma figura proeminente do MFA local e um esteio fundamental da diabólica “aliança MFA/Frelimo”, fizesse ou não parte oficialmente da Comissão Militar Mista. Conheço por aí muita gente que afirma o mesmo.

Oficiais superiores do Exército Português houve que foram vistos “a tiritar de coragem” face aos bravos rapazes do MFA, cujo poder paralelo ao da hierarquia formal constituía esse Novíssimo Príncipe, denunciado pelo Prof. Adriano Moreira; uma estrutura de carácter revolucionário, omnipresente e omnipotente, que controlava tudo e todos. Quem – só para ser desautorizado, desobedecido, saneado ou até preso – corria o risco de desafiar a autoridade dos “homens sem sono” que, de facto, mandavam, sem se preocuparem com as opiniões, as sensibilidades, ou os pruridos das altas patentes do velho Exército?

Que o senhor major-general Lopes Camilo tenha bem presente que à sua volta, em Lourenço Marques, havia muitos militares que observavam e não compartilhavam das suas ideias, muita gente que não sentia nenhuma afinidade com o MFA e muito menos com a Frelimo…

Havia de facto bastantes oficiais que se sentiam incomodados, e até chocados, com as manifestações de amizade e confraternização ao “seu camarada” Jacinto Veloso que, para todos os efeitos, não passa de um desertor das Forças Armadas Portuguesas, um tenente piloto aviador (PQP) da Força Aérea Portuguesa que havia desertado, aterrando com um bombardeiro T-6 na Tanzânia onde fora recebido com braços abertos “pelos seus camaradas da Frelimo”. (Será que também teve direito a alguma comendazita da Ordem da Liberdade, por exemplo). Em suma, um traidor que tinha passado ao Inimigo e se tornara deste modo cúmplice, senão autor directo, da morte de muitos dos nossos soldados.

O senhor major-coronel Lopes Camilo terá de entender que a maioria dos militares portugueses, dos antigos e dos actuais, não compartilham da opinião do meu amigo (sem ironia) major (sem general…) Mário Tomé, quando este defendeu num artigo inserido no Público de 18 de Agosto de 2003 que “houve milhares de desertores do Exército Português, dignos do maior respeito, porque não aceitaram lutar contra a liberdade no exército colonial ao serviço de um estado colonialista e fascista.”

Manténs, portanto, todas as tuas acusações? Que esperas conseguir?

Mantenho o que disse, com toda a minha veemência, até aos finais dos meus dias. Esperar, espero muito pouco. Que o general Lopes Camilo abandone a Direcção da Liga dos Combatentes. A sua permanência na Direcção é um insulto para todos os que se bateram por um Portugal que ele ajudou a destruir.

In O Diabo, 11.09.2003, págs. 6/7.

A Prisão e as provações de Luís Fernandes

“Levado sob escolta militar para o Comando Territorial Sul, fui conduzido a uma vasta sala do edifício. Deparei com dois sujeitos: um, sentado atrás de uma secretária, fardado, com galões de capitão, que se identificou como sendo o capitão Camilo, ... Os soldados portugueses retiraram-se e enquanto o capitão Camilo me mandava sentar numa cadeira à sua frente, colocaram-se à minha esquerda e à minha direita, dois jovens guerrilheiros da FRELIMO, andrajosos e sujos, apontando-me as suas Kalashnikovs.
Como reagiste?
Surpreendido ainda protestei, perguntando ao capitão Camilo se não tinha soldados nossos para me guardar e se era preciso que o Inimigo o fizesse. Conservo bem viva na memória a resposta do hoje major-general: “Então você não leu o tratado (sic) de Lusaca? Eles agora são as nossas tropas.” E acrescentou com um sorriso sarcástico: “O Inimigo é você!”
...
Foste interrogado?
Nem por isso. Não com pés e cabeça. O capitão Camilo, satisfeito com o efeito da sua inesperada declaração, perante o meu ar de espanto, folheou a minha agenda e revistou a minha carteira, fazendo-me diversas perguntas a que eu invariavelmente respondia: “não me lembro”. Concluiu, sempre com o mesmo sorriso sarcástico na face, que “eu comia demasiado queijo e que talvez a Frelimo conseguisse que eu recuperasse a memória….”.
Fez-te ameaças?
Não de olhos nos olhos. Só insinuações como a que reproduzi acima. Lá foi dizendo que o tratamento que poderia esperar da Frelimo não seria exactamente aquele que a Declaração Universal dos Direitos do Homem preconizava. Por isso, indignado, protestei com veemência e disse-lhe textualmente que “parecia impossível que um capitão do Exército Português pudesse entregar ao inimigo antigos camaradas de armas” e acrescentei que me mantinha nesta situação “sem terem, em termos jurídicos, encontrado a menor prova contra mim.” O capitão Camilo encolheu os ombros e disse displicentemente que, na presente situação, “se não tinha provas, também não tinha dúvidas, pelo que em termos revolucionários, faria de mim o que entendesse.”
...
Terminado o interrogatório, ficaste preso?
Dada a avançada hora, o interrogatório foi dado por findo e fui levado, com os mesmo aparato militar, para a antiga cadeia da Machava, ...
Fui fechado numa cela que, para além da porta de grades tinha uma porta de madeira, pelo que não vias o que se passava no exterior. A alimentação era o rancho da tropa portuguesa, ... O oficial português que comandava essa tropa e que vim a conhecer, era cortês.
Voltaste a ver o capitão Camilo?
Duas ou três vezes apareceu o capitão Camilo na cadeia para me interrogar. Nada conseguindo saber pela minha parte. Vinha fardado, conduzindo ele próprio o jipe militar e trazendo como guarda-costas um guerrilheiro armado no banco de trás, como se tivesse aproveitado uma boleia.
Terminado o isolamento juntei-me aos meus companheiros de cárcere no pavilhão onde nos encontrávamos detidos e que tinha as portas abertas.
A prisão ia-se enchendo com a entrada de novos presos e fiquei na mesma cela em que se encontravam um juiz de direito e um engenheiro doutorado por uma universidade sul-africana. O meio era realmente selecto.
Tiveste direito a advogado? Que soubeste do enquadramento legal da tua situação?
Fui visitado por um advogado de Lourenço Marques, Dr. Antero Sobral, pertencente ao grupo dos “Democratas de Moçambique” e que fora um dos signatários dos acordos de Lusaca (a que o capitão Camilo chamava pomposamente de tratado), mas que se dava com amigos meus entretanto refugiados na África do Sul. Mostrou-me a legislação revolucionária entretanto elaborada pelo alto-comissário Vítor Crespo: em dois decretos-lei publicados no Boletim Oficial da Província que “instituíam os crimes contra a descolonização! Como a lei penal não tem efeitos retroactivos se não para benefício dos réus e como já me encontrava preso à data da publicação desses diplomas, não se me aplicavam. Disse-me então o Dr. Antero Sobral, visivelmente constrangido, dada a sua formação jurídica, que nem valia a pena constituí-lo como defensor porque “tudo era feito à margem da Lei, e até contra os princípios gerais do Direito». Agradeci a visita e o seu interesse, tanto mais que éramos adversários políticos.
Além de ti e dos outros seis ex-militares detidos pela mesma altura, houve mais prisões?
Em dada altura juntou-se a nós outro grupo de prisioneiros, também presos pelo MFA. Esses eram todos negros e, se bem que, pessoalmente, não conhecesse nenhum deles, sabia quem eram, pois eram figuras públicas. Todos eles ou quase todos tinham pertencido à Frelimo e tinham, por diversos motivos, abandonado o movimento terrorista, vindo a acolher-se à protecção das autoridades militares portuguesas, bem antes do 25 de Abril. Confiados nas promessas então feitas, tinham permanecido em Moçambique vindo agora ser presos pelo Exército Português. Entre eles, estavam Joana Simeão, Dr. Júlio Razão, Paulo Mondlane, Paulo Gumane, Mateus Gwengere, fomos, mais tardem brancos e negros, levados para a cadeia penitenciária, onde começaram a afluir, em Dezembro de 1974, vagas sucessivas de presos, maioritariamente brancos, sendo muitos deles antigos combatentes oriundos do recrutamento provincial, que haviam passado à disponibilidade, como eu, muito recentemente. Já não havia sequer interrogatórios: aquilo era “um depósito de reaccionários”. Escusado será dizer que o ambiente entre os presos, brancos e negros, era de sã camaradagem e que gozávamos da camaradagem dos soldados portugueses que nos guardavam conjuntamente com o destacamento armado da Frelimo.
O comandante da penitenciária era um capitão de cavalaria que manteve um comportamento correcto connosco, dadas as circunstâncias. Hoje é coronel na reserva e também teve atritos com os turbulentos guerrilheiros da FRELIMO, pelo que regressou à Metrópole farto dos tiranetes do MFA, entre os quais o capitão Camilo, e os “libertadores” de Samora Machel.

Fome e “trabalhos agrícolas”

Foi então que foram entregues à Frelimo e levados para os famigerados “campos de reeducação”?
Sim, cerca de três meses antes da independência de Moçambique. Um dia, de madrugada, apareceu na penitenciária o recém nomeado inspector da PJ Jorge Costa, antigo estudante contestatário de Coimbra, também ele desertor, à civil e com una pistola-metralhadora a tiracolo que, escoltado por guerrilheiros, nos veio buscar a mim, ao capitão miliciano na disponibilidade Rui Leal Marques e mais cinco metropolitanos, escolhidos a dedo, bem como a um grupo de negros, cuja lista, disse-me ele durante a viagem, fora elaborada pelo capitão Camilo e pelo “camarada” Veloso. Levaram-nos para o aeroporto e daí seguimos viagem até Cabo Delgado num bimotor civil, com escala técnica no aeroporto da Beira. Em Porto Amélia, entregaram-nos ao comando local da FRELIMO e dali seguimos, em Land Rovers,..., passando por Macomia, Chai, Mocímboa da Praia (onde pernoitámos), Diaca, Nacatar, Sagal, Nangololo, até atingirmos finalmente Mueda. Mueda, onde já não havia tropa portuguesa, tinha-se tornado o epicentro da ocupação frelimista de Cabo Delgado. ...
Reunidos guerrilheiros e elementos da população autóctone em número apreciável, fomos submetidos a um “julgamento popular”, pelos crimes supostamente cometidos. O comandante Mingas, que era então a autoridade máxima da Frelimo em Mueda, proferiu um longo discurso em maconde, entrecortado por palavras de ordem. Não entendemos nada do que ele disse, mas não gostámos. Seguidamente, “perfilou-se” diante de nós um pelotão de fuzilamento. Mas a nossa hora ainda não tinha chegado. Tratava-se de uma encenação, imprópria para cardíacos.
Recolhemos à nossa prisão provisória, que era uma antiga caserna. No dia seguinte, aterrou na pista de Mueda um Nord Atlas da FAP, pilotado por oficiais portugueses, e os detidos negros (Joana Simeão e todos os outros), foram embarcados, contra sua vontade, para a Tanzânia. Alegavam a sua cidadania portuguesa e, embora o seu portuguesismo de fresca data pudesse ser oportunista. Seja como for, foram levados na Nachingwea e todos eles mortos.
Quanto a nós, os sete brancos e metropolitanos, fomos separados e enviados para “campos de reeducação” situados nas antigas bases Beira, Gungunhana, Central, etc. Longos meses depois, fomos reagrupados em Porto Amélia, onde um casal de médicos búlgaros, cooperantes em Cabo Delgado, mandaram-nos dar injecções, suponho que de vitaminas, para termos um aspecto menos depauperado, e deram-nos também bastante comida para recuperar algo do peso perdido.
Entretanto, na Metrópole tinha-se gerado um movimento para a nossa libertação, tendo até o Dr. Jaime Gama tido uma intervenção nesse sentido na Assembleia Constituinte. A derrota da extrema-esquerda militar em 25 de Novembro de 1975 tornou possível que o ministério dos Negócios Estrangeiros começasse finalmente a actuar e obtivesse, com a ida a Lourenço Marques de um alto funcionário, a nossa libertação.
Como era o dia-a-dia nesses campos?
Fome. Sobretudo fome. E cerca de 14 horas diárias de “trabalhos agrícolas” que, na verdade, nada produziam dada a forma rudimentar como era praticada. Claro que não havia medicamentos nem qualquer tipo de assistência.
Maus tratos?
Sobretudo à nossa dignidade. Mas quase nunca maus tratos físicos. Isto em relação aos brancos. Com os negros, as coisas já eram bastante diferentes.
No entanto, ficaste muito debilitado e vieste a ter problemas de saúde.
Já na Metrópole tive um forte ataque de paludismo e depois de ter feito análises, foi-me diagnosticado uma hepatite não-A e não-B, devida, sem dúvida, à quase inexistente assepsia nos tratamentos a que fomos submetidos em Cabo Delgado. Mais tarde, em 1994, submeti-me a uma biopsia hepática e foi então confirmada uma hepatite C, crónica, com a qual tenho vivido com a graça de Deus.
Passados estes quase trinta anos, como recordas o capitão Lopes Camilo?
Tenho o privilégio de ser sócio da Liga dos Combatentes, com as quotas em dia, desde 1978. Se há sócios que não têm pejo em cumprimentar o major-general Lopes Camilo, considerando de somenos importância as provações que outros combatentes por culpa dele passaram em Moçambique, que lhes faça bom proveito. Quanto a mim não me deixo obnubilar pelo brilho da grã-cruz da Ordem da Liberdade que ele ostenta ... no seu uniforme ... Não sou obrigado a apertar-lhe a mão, assim como não tive possibilidade de lhe apertar o pescoço quando tão alegremente confraternizava com um desertor.
Mas, como diz o Poeta “a mim ninguém me cala”, que fique aqui registado para “memória futura” (como hoje parece ser moda) o meu depoimento sobre as façanhas do major-general Lopes Camilo em Moçambique nos longínquos anos da vergonha de 1974 e 1975. Decerto o alto-comissário e comandante-chefe de Moçambique que lhe terá outorgado generosamente um ou dois “louvorzinhos” por relevantes serviços ao Exército Português, que se foram agregar à sua já reluzente folha de serviços.

Ainda a propósito do amigo do Portas (Paulo, que não Miguel)

Pois é, ainda ontem ouvi o bom do Portas (Paulo, que não o Miguel), do cds/pp, falar da honra, lealdade, valores, etc. Ou seja um “direitinhas” em potência. Aparentemente, claro. Esgravata-se um pouco e sai o que sai. Deve ser de família...

E digo isto pensando num tal Camilo que ele nomeou (ou manteve nomeado) na Liga dos Combatentes. E isso apesar de saber (ou ter obrigação de saber) de toda uma “exemplar história” do tal mfa Camilo.

O tal tipo está na Liga dos Combatentes então eu não estou. É tão simples e vertical como isto. “Eu não sou monstro ...”, como disse e muito bem Alfredo Pimenta.

Para recordar a todos nós quem é (ou foi) o tal Camilo, nada melhor do que reproduzir a entrevista dada pelo Luís Fernandes a Walter Ventura no Diabo.

Eu bem tinha avisado que havia de descobrir a entrevista e publicá-la. Como é muito grande vou apenas transcrever as partes mais “sumarentas”. Disso peço desculpa ao Luís e ao Walter.

Por isso o próximo postal trata da prisão e provações do muito nosso Luís Fernandes em território sobre administração portuguesa de Moçambique.

Fica melhor no retrato o Dr. Jaime Gama, do PS, que teve a absoluta ousadia de falar deste caso na Assembleia da República quando todos os outros se calavam, “tiritantes de coragem”. Sei que o Luís lhe agradeceu pessoalmente a sua corajosa atitude, tendo como resposta de que “só tinha feito aquilo que devia”. Honra lhe reconheçamos!

Os maus investigadores e os maus jornalistas

ou ainda:

Um cheiro intenso a cadáver

Não percam o artigo hoje inserido no Público com a opinião do Advogado António Marinho Pinho.

É uma pedrada no charco. Imperdível!

Desde o caso “Grilo” que penso exactamente o mesmo que o referido Advogado. Só que ele soube colocar por escrito – e com mestria – todas as minhas perplexidades e dúvidas sobre a nossa querida judiciária e mais o ministério público.

Exemplar!

Para vos abrir o apetite não quero deixar de vos deixar à consideração apenas um parágrafo do referido artigo:

... “O resultado está à vista: paira no ar um imenso cheiro a cadáver. E não é o da criança desaparecida. É o cadáver da presunção da inocência; é o cadáver do dever jornalístico de ouvir todas as partes com interesses atendíveis. É o cadáver do segredo de justiça. Todos já em adiantado estado de decomposição...”

Voltei, voltei!

Depois deste período sabático a que me vi constrangido a nada publicar neste blogue volto hoje. Os problemas (de carácter profissional) que me inibiram de ter tempo ou disposição para aqui verter alguns dos meus pensamentos estão hoje um pouco ultrapassados.

Tive também o azar de profissionalmente ter de gramar a nova lei dos abortos. Sabiam (eu não!) que as abortistas têm direito a dez dias de licença com vencimento!

E a que os desgraçados dos colegas tem de dar cobertura fazendo também o trabalho dos que faltam?

Enfim, coisas!

quinta-feira, setembro 20, 2007

A PERFEITA ACTUALIDADE O MANIFESTO SOBRE A PÁTRIA



Recordei ontem o tão esquecido Movimento 57.

Hoje vou transcrever parte (é muito longo) do seu “Manifesto sobre a Pátria” (merece leitura atenta - recomendo-a vivamente) publicado no número 2 , de Agosto de 1957, na revista 57.

“Aboliram a palavra do vocabulário e fecharam-na no recôndito mais profundo do subconsciente. Conhecem-na tanta como a receiam. Sabem que ela está lá, no seu lugar de exílio, sempre estranhamente viva, sempre estranhamente desperta. Dir-se-ia uma palavra mágica que eles têm medo de pronunciar, não vá ela por em movimento insuspeitadas forças. Se a encontram ao acaso de uma leitura, logo a repudiam com um frémito de ódio, de vergonha ou apenas de intranquilidade. ...

... nós também não temos medo de a dizer: porque é na Pátria e pela Pátria que o nosso destino será mais do que um esbracejar sem sentido na lama do quotidiano. Esta é a ditosa Pátria minha amada: Camões poderia continuar a ser o amável cantor de versos líricos, mas quando viu a Pátria Imperial alvitada pela ambição, pelo ouro, pelo amolecimento do ideal, deu-nos os Lusíadas e ensinou-nos que uma Pátria é uma razão viva a mover-se para um fim e não um aglomerado de interesses egoístas....

E Fernando Pessoa? ... Quanto não disseram para renegar a Mensagem, a nossa terceira grande epopeia e a maior teoria poética e transcendental da história portuguesa, para o último lugar, para trás de todas as expressões líricas a que Fernando Pessoa, como Camões, havia confiado a amargura e a angústia do seu isolamento, que levara aos limites extremos a situação antropológica do homem moderno, perdido de qualquer tradição ou e qualquer movimento teleológico.

Reconciliando-se com a tradição, reconciliando-se com o movimento teleológico da Pátria, que justamente procuravam diagnosticar e impulsionar, o indivíduo – Camões, o indivíduo – Junqueiro, o indivíduo - Pessoa, resolveram em “os Lusíadas”, em “A Pátria” e na “Mensagem” aquela perturbação lírica que neles, como nos grandes poetas, não é senão o choro imóvel perante os sofrimentos da condição humana.

No nível mais alto, que é o nível epopeico, os nossos épicos antigos ou contemporâneos aprendem enfim que, se esses sofrimentos se podem transcender, é pela acção, pelo movimento, pela viagem em direcção a um fim no qual o homem se possa redimir. Aqui reside o carácter específico e absolutamente original do génio épico português....”

(Continua)

Nota: Ao transcrever para o ficheiro este Manifesto relembrei-me de um facto que ainda hoje me vem vastas vezes à memoria com grande desprazer, para não dizer pior.

Numa das homenagens a Rodrigo Emílio, lírico de excepção, mas épico de igual ou maior valia, ouvi (em conversa final e informal) de um dos destacados membros da “inteligência” deste país presente na sala - e que fez uma das mais tristes intervenções recordatórias do nosso Rodrigo - as seguintes palavras: “temos de colocar alguém a ver toda a produção do Rodrigo e republicar toda a sua obra lírica, que o resto é para esquecer...”.

Garanto-vos que não saltei logo por deferência para com a Terá e demais família do Rodrigo. Mas que cá ficou, ficou.

Revejo agora que estas atitudes já estavam bem descritas 50 anos antes.

E que as palavras do Manifesto têm uma actualidade absoluta e permanecente.

É também por isso que voltarei ao tema.

Conversa de café e o panteão deles ...

Ontem, almoçava uma sandes (à pressa) num café perto do meu trabalho, quando a certa altura sou surpreendido por dois indivíduos com ar muito adamado que falavam do tal do panteão.

E a conversa decorria à volta dos tipos que mereciam lá estar. A Amália, sim, diziam, mas faz lá falta o Variações, visto também ter sido cantor e ser o primeiro português a morrer de sida, (eles pronunciaram em brasileiro áidesse). E além de mais era “um ícone gay”...

Meditei um pouco nas palavras dos adamados vizinhos de mesa. Se calhar eles é que tem razão. Como aquilo está, são os variações, os fernandos kás, os otelos, os charais, os pezarates, os Gonçalves, os palmas inácios, etc, que lá deviam estar. Até o Soares. E porque não o Virgolino das FP 25? Ou ainda o Antunes dos PRP/BR e mais a sua diestista mulher?

Agora tirem de lá é os monumentos do Condestável, do Infante, de Vasco da Gama, etc. Ou seja dos verdadeiros Portugueses Patriotas.

Quanto mais não seja por uma questão higiénica. De contágio, de saúde pública.

Assim é que fica bem o panteão do regime!!!!

quarta-feira, setembro 19, 2007

MOVIMENTO 57 – 50 ANOS




Faz este ano 50 anos que António Quadros lançou, juntamente com um grande grupo de intelectuais portugueses a revista “57” e o seu movimento 57 (de 1957).

Tratou-se de uma pedrada no charco da mediocridade que se desenhava em Portugal com o fim do consulado de Ferro à frente dos destinos culturais da nossa Pátria.

Juntando-se a grandes valores da nossa intelectualidade (nos campos da pintura, da filosofia, da literatura, da arte e da ciência) António Quadros lançou o seu movimento. Com ele estiveram, entre outros Orlando Vitorino, António Telmo, Ernesto Palma., Afonso Botelho, Azinhal Abelho, Rui Carvalho dos Santos, etc.

Claro que um movimento destes em que os seus autores afirmavam “esta é a ditosa Pátria nossa amada e ao seu serviço colocamos aqui o nosso corpo, a nossa alma e o nosso espírito” não passaria incólume aos instalados do regime e aos seus directos opositores.

Ficou célebre a crítica de Francisco de Sousa Tavares (o Tareco) no debate sobre o movimento realizado no Centro Nacional de Cultura. Nesse debate o Tareco assumiu as funções de Torquemada, fazendo-se acusador público do partido dos potentados conformistas Parecia que tinha sido cometido um crime lesa pátria contra os instalados. O jesuíta Pe Dias de Magalhães, que presidiu à sessão condenou veementemente o movimento como coisa de ignaros e perigosos agitadores. Os vossas excelências estavam eufóricos. Tinham condenado às galés esses perigosos agitadores da “extrema direita, com ares de intelectualidade – tareco dixit” João Gaspar Simões, o papa da crítica literária cedo se juntou aos acusadores com um artigo demolidor no Jornal de Notícias. E até o Diário da Manhã (órgão oficial da União Nacional) pela pena do Pe (também jesuíta) Gustavo de Almeida se lhe seguiu (é preciso não esquecer que para os marcelistas, que estavam na sua caminhada rumo à (sua) vitória (de Pirro), qualquer coisa que pudesse cheirar a Ferro era para destruir e rapidamente.

Passado pouco tempo o Movimento e a Revista foram extintos. O imobilismo conservador e a dificuldade de evolução intelectual de certos indivíduos da nossa cultura não lhes permitiu aguentar com mais um Almada em cima. Pessoa (muito) e Almada (ainda mais) já lhes tinham sido muito difíceis de digerir. E não chegaram a “levar” com o Rodrigo Emílio (senão o que seria...).

Essa é que foi a verdade. Na realidade a história repete-se!

Os maratonistas

Quando os funcionários públicos querem trabalhar depressa e bem – trabalham! E não venha ninguém dizer o contrário.

E se necessário for fazer uma maratona contra o tempo, aí somos mesmo bons (lembrem-se da Rosa Mota e do Carlos Lopes). Somos campeões, somos os melhores!

Pois a nossa querida policia e o nosso querido ministério público vieram agora apresentar o trabalho do desmantelamento de uma perigosa organização de extrema – direita. Cinco meses (só) levaram eles para procederem à acusação de 36 marmanjos. (12 activos e 24 passivos – não, não tem carácter sexual...).

Assim é que eu gosto. A partir desta data vamos ver todos os “crimes” resolvidos e “acusados” neste prazo. Grande vitória! Assaltos a bancos – 5 meses! Assassinatos – 5 meses!, Violações – 5 meses! Criminalidade económica – 5 meses! Etc. – 5 meses!

Isto é que é o verdadeiro simplex! Aleluia!

A verdade, doa a quem doer, é que este governo funciona. Nada mais poderá demorar do que 5 meses, caso contrário será objecto de chacota de toda a judiciária contra os incompetentes que não sabem trabalhar.

Nota: como é óbvio esta maratona nada teve a ver com a lei agora aprovada do novo código do processo penal. Poderia lá ter tido!

Afinal há mais colossos na nossa Judite!

Para além dos “colossos culturais” dos anti – bandidos soubemos agora que há também noutros departamentos da PJ outros colossos. Desta vez os “colossos bíblícos”. Não, não são das Testemunhas ou das seitas brasileiras. São mesmo da Policia.

No caso de um rapto/assassinato que tem dominado as atenções dos nossos queridos jornais, tv e outras que tais, soube-se agora que a PJ apreendeu a Bíblia da mãe da raptada / assassinada.

Estou estupefacto. Que eles apreendam livros de Orwell é normal. Sabem lá quem é o gajo. Agora a Bíblia...

Garanto-vos que a assim continuarmos ainda vamos ver o Cardeal Patriarca na choldra e o Núncio Apostólico com pulseira electrónica (porque o tal livro da Bíblia deve conter informações fidedignas sobre como cometer homicídios e/ou raptos).

Sim porque ou há moralidade ou comem todos!

Locais (absolutamente) a evitar:


Santa Engrácia em primeiríssimo lugar.

Aquilino já lá está. O sr. Silva foi (ou vai) lá hoje assinar o papel.

Próximos candidatos:

- Mário Soares
- Bin Laden

O quê? Bin Laden? O terrorista! (sim, porque não? – já lá está o Aquilino!). Não pode ser! (gritam os puristas). E se o corpo nunca aparecer? Não faz mal põe-se um cenotáfio (para os menos entendidos um cenotáfio é um monumento fúnebre de homenagem a alguém em que o paradeiro do corpo é desconhecido). Não, não aceitamos! Não se esqueçam que face à lei 28/2000 só lá podem estar cidadãos portugueses.

Não há problemas naturaliza-se o tipo (nem que seja a título póstumo).

Como vêem pode acontecer! Basta o parlamento aprovar!

E não nos esqueçamos que ainda há dois lugares vagos na capela do Aquilino e do Delgado.

Quanto a Mário Soares. Alguém tem dúvidas?

A minha dúvida é qual a orquestra que eles arranjam para o tal do Laden

terça-feira, setembro 18, 2007

De luto carregado

Voz amiga deu-me, agora mesmo, a notícia da morte de Henrique Pinho.

Grande camarada, valorosíssimo. Disposto a levar até ao fim as suas ideias e ideais. Lutou, desde 1962 (data em que o conheci) até aos anos 80, após a sua saída da prisão.

Depois manteve-se fiel. Víamo-nos (pelo menos) sempre no 10 de Junho, no Monumento aos Combatentes do Ultramar.

Vai estar em câmara ardente a partir das 18 horas na Igreja da Praça de Londres.

Que finalmente descanses em paz!

E a tua vida foi uma vida vivida e uma vida que valeu a pena.

Na hora da perda de mais um grande camarada, só posso gritar:

HENRIQUE PINHO PRESENTE!

Afinal é tudo igual!


Luís de Sttau Monteiro, conhecido "pequeno e médio intelectual" ligado ao PC dizia antes do 25 do 4 que "todos os anos pela Primavera havia prisões em Abril e cargas policiais em Maio".

Dei-me conta disto depois de ter lido o postal de Pacheco Pereira. Na realidade os "colossos culturais" dos "anti-bandidos" também começaram as suas prisões (em massa) em Abril. E a tal procuradora bem ameaçou chamar o corpo de intervenção da PSP (na altura a esquerda chamava-lhe a polícia de choque) para varrer os nacionalistas da rua.

Como vêem é tudo igual. Mijas fora do penico (ou seja não reverencias as autoridades), logo levas, e mais, se for preciso fazer horas extraordinárias para os manter presos, fazem-se (que os palermas dos contribuintes pagam).

Mas afinal porque é que os gajos não violaram, assaltaram ou mataram. Assim já estavam cá fora. Conclusão:

Não percebem nada de direito!

Limito-me a transcrever Pacheco Pereira


LENDO, VENDO, OUVINDO
ÁTOMOS E BITS
de 17 de Setembro de 2007

Uma das áreas em que há situações calamitosas em Portugal (e são várias) é a da justiça. Nada parece melhorar apesar da contínua agitação governamental. Basta ouvir um noticiário para perceber a crise:

- temos dois ministros da justiça: Alberto Costa e Maria José Morgado;

- temos um interessante critério político na "pressa" em evitar a saída de alguns presos preventivos. Alguém, pressuroso, informou os órgãos de comunicação social que o país pode estar calmo: saíram ou vão sair acusados de assassinatos, violações, etc., mas não será libertado Mário Machado, o dirigente dos skinheads, que é acusado de incitar ao ódio racial, algo que em países genuinamente liberais não é crime, nem sequer delito de opinião. Tudo na longa manutenção de prisão preventiva de Mário Machado é estranho e aponta para razões puramente políticas, o que é inadmissível numa democracia.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Os crimes dos "bons"



No seguimento do meu postal de hoje sobre os "bons e os maus" vejam este pequeno filme. (não recomendável a pessoas mais sensíveis). Trata-se do fuzilamento de alguns prisioneiros de guerra da X Mas, executados pelo novo exército italiano, com supervisão americana.

Querias julgamento, querias... Levas umas doses de democracia e liberdade em cima que te lixas...

Georgios Karatzaferis

















Pois é. Passo a passo lá se vai amealhando uns pontitos. O bom do Georgios Karatzaferis lá conseguiu na Grécia levar o seu partido Laos ao Parlamento.

Não são nacionalistas - tal como os entendemos em Portugal. Mas são mais uma pedrada no charco partidocrático em que vivemos nesta Europa de Bruxelas.

Bom exemplo. Descomplexado e descontraído. Dizendo as verdades que o povo pensa mas é incapaz (por medo) de dizer em voz alta. à consideração de quem anda nessas vidas.

O feitiço contra o feiticeiro...

Não não se trata de qualquer apreciação anti-semita, meu caro anónimo (que pensa - e engana-se - que eu sou anti-judeu).

Trata-se apenas de uma notícia que nunca chegará a Portugal por outras formas que não através deste meio.

Ao fim e ao cabo é uma confirmação daquilo que eu várias vezes já escrevi. Numa guerra nunca há os bons e os maus (são todos maus!).

E que notícia é essa:

Um general israelita, antigo director do memorial Yad Vashem, em Jerusalém, de seu nome Isaac Arad, de 81 anos, é suspeito de crimes de guerra contra o população civil e prisioneiros lituanos durante e após a IIª GM. O Procurador lituano Rimvydas Valentukevicius pediu às autoridades israelitas para o interrogar. É como cá se diz, um arguido.

Segundo o procurador o inquérito está ligado ao assassinato de dezenas de civis e de prisioneiros de guerra. O sr Arad, segundo o inquérito iniciado em Maio de 2006, terá participado em execuções (até de resistentes lituanos), enquanto membro do NKVD (polícia política soviética).

O Sr Arad, interrogado na passada terça feira pelo jornal polaco Rzeczpospolita, nega as acusações e afirma tratar-se de uma tentativa de vingança por parte dos herdeiros dos colaboracionistas lituanos, dos nacionalistas e de radicais de todas as cores.

Como historiador reconhecido pelas autoridades vencedoras participou em todas as acusações contra os nazis e recentemente deslocou-se aos EUA para participar no julgamento dos lituanos Alexandras Lilejkis e de Algimantas Dajlide, que perderam a nacionalidade americana e foram expulsos dos EUA.

Agora tocou-lhe a ele. Vamos ver o que isto dá, ou seja, nada! Apesar dos documentos encontrados. (não, não se trata de depoimentos de historiadores ou de testemunhas!)

Fontes: AFP, RIA e Novosti.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Ainda Luis Fernandes

Pois, eu passo a vida a dar o dito por não dito. Disse que encerrava - para já - o dossier Moçambique e eis que encontro na minha papelada a primeira entrevista dada por Luís Fernandes sobre o seu calvário. Não resisto a publicá-la na íntegra. Também há entrevista ao Diabo. Vou ver se a encontro.

Pois aqui vai:

"MOÇAMBIQUE POR DETRÁS DAS GRADES - ANTES E DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA

Andava eu, algures, por terras do Algarve, cumprindo o meu roteiro profissional, quando por felicidade inesperada encontrei um velho Amigo e Camarada – o termo é militar – que supunha irremediavelmente perdido pelas latitudes tropicais de Moçambique, nos campos de concentração da Frelimo, malgrado as afirmações peremptórias do ministro Vítor Crespo, a 7 de Dezembro do ano, negando a existência de prisioneiros portugueses no paraíso de Machel.
Recordo-me da última vez que nos abraçámos. Foi no Hospital Militar de Lourenço Marques, onde, em circunstâncias diferentes nos encontrávamos. Eu com baixa e ele de consulta, mas cercado por antigos companheiros de armas como se de um criminoso se tratasse.
Luís Fernandes, capitão miliciano do “GEP`s”, era uma das muitas vítimas imoladas no holocausto da descolonização concebida pelos “moscovozinhos” da nossa Pátria. Mas deixemos que seja Luís Fernandes a fazer-nos o relato do nosso Portugal oitocentos anos secular, reduzido como está agora, às dimensões anãs do ano de 1400.

DETIDO COM APARATO EM LOURENÇO MARQUES

Século – Quando e onde se deu a detenção que se prolongou num cativeiro de 16 meses?
Cap. Luís Fernandes – Foi em Lourenço Marques e no Hotel Polana, em 18 de Outubro de 1974. A detenção foi efectuada por dois capitães do Exército Português, que se encontravam acompanhados por cerca de quinze miltares da Polícia Militar.
Século – Perante tamanho aparato militar a surpresa decerto não foi pequena, até porque, aparentemente, nada justificava a referida actuação por parte das Forças Armadas…
Cap. Luís Fernandes – Exactamente, eu estava hospedado no Hotel Polana, sem problemas de ordem jurídica, porquanto pagava as minhas contas e não provocava desacatos, pelo que não havia alguma razão que motivasse qualquer medida a tomar pelas autoridades civis ou militares da Província de Moçambique.
Século – Quais foram os motivos alegados para a detenção que obrigou à mobilização espalhafatosa de mais de uma dezena de militares?
Cap. Luís Fernandes – Os motivos não foram de ordem jurídica mas do que se pode considerar de ordem revolucionária. Foram fundamentados em suspeitas que se afirmavam existir a meu respeito, quanto a supostos “crimes” contra a descolonização, o que constitui matéria não prevista no Código Penal Português em vigor, nem em qualquer diploma existente naquela altura.
Século – Portanto, não houve acusação de um delito concreto…
Cap. Luís Fernandes – Não havia qualquer acusação concreta. Havia, sim e apenas, o termo genérico de “crimes contra a descolonização” que era uma matéria que justificava ou pretendia justificar todas as prisões arbitrárias que se sucederam a partir da minha detenção em Lourenço Marques, e foram em crescendo até ao período da entrega total da Província de Moçambique à Frelimo, por altura da independência.

DESERTORES E GUERRILHEIROS – “AS NOSSAS TROPAS”

Século – Verificada a detenção foi-lhe facultada a assistência de um advogado, ou terão decorrido os interrogatórios sem a satisfação dessa norma elementar?
Cap. Luís Fernandes – Fui preso, como anteriormente afirmei, por indivíduos trajando civilmente, mas identificados como elementos da Polícia Militar Portuguesa e oficiais do Exército, nomeadamente dois capitães. Estes transportaram-me para o Quartel-General do Comando Territorial do Sul, onde cheguei às 4 horas da madrugada do dia da minha detenção, tendo seguido escoltado pela P.M. para uma sala que era, se não erro, a 2.ª Repartição. Nessa sala aguardava-me um representante da Frelimo, recém-instalada em Lourenço Marques, que não era nada menos que um desertor da Força Aérea Portuguesa, concretamente, Jacinto Veloso, ex-tenente da F.A.P., que anos antes se tinha passado para Dar-es-Salam a bordo de um bombardeiro “T/6” que entregou ao inimigo, estando assim dentro do estabelecido pelo Código de Justiça Militar para os casos de pena de morte.
Concluindo, não me foi permitido um advogado e como inquiridor nomearam um desertor das Forças Armadas Portuguesas.
Século – Quer dizer então que foi interrogado por Jacinto Veloso?
Cap. Luís Fernandes – Não. Aquele desertor pretendeu de facto interrogar-me, mas como recusou identificar-se, quando por mim instado, também me neguei ao diálogo por ele proposto. Fiquei assim a aguardar interrogatório posterior entre dois guerrilheiros uniformizados da Frelimo, e de resto mal uniformizados, os quais me apontavam ameaçadoramente as suas espingardas “kalashs”.
Ante atitude tão insólita, porque era um antigo combatente português, preso por oficiais portugueses e pela Polícia Militar do meu país, perguntei a um dos capitães que interveio na minha detenção – capitão Camilo – se não havia ninguém mais, para além dos guerrilheiros da Frelimo, para me guardar, ao que me respondeu, ironicamente, dizendo eu estar a leste do Acordo de Lusaka, porque naquele momento os guerrilheiros eram “as nossas tropas”. Não haja espanto, porque as “ironias” do capitão Camilo não ficaram por aqui, antes se salientaram quando, no primeiro interrogatório, não obtendo o que pretendia, como afirmações susceptíveis de comprometer determinadas individualidades civis e militares, me ameaçou com a entrega à Frelimo que poderia ocasionar uma atitude mais colaborante da minha parte.
Perante a minha indignação – que se expressou do seguinte modo: será você capaz de entregar à Frelimo antigos camaradas de guerra? – respondeu o capitão Camilo que, naquele momento, o inimigo era eu.

ROTEIRO DO PRISIONEIRO

Século – Foi sujeito ao longo dos interrogatórios levados a cabo pelo capitão Camilo a uma persuasão agressiva, com ameaças físicas?
Cap. Luís Fernandes – Ele não me ameaçou propriamente com maus tratos físicos, mas deixou entender, para quem não fosse desprovido de imaginação que o tratamento dado pela Frelimo não seria o previsto na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Século – Relate-nos, cronologicamente, o seu primeiro roteiro como prisioneiro.
Cap. Luís Fernandes – Fui detido às 3 horas da madrugada de 18 de Outubro de 1974 e no próprio dia transferido para a cadeia da Machava onde me mantiveram no mais absoluto segredo durante quatro dias. Ao cabo de dois ou três interrogatórios ao estilo daquele que já citei, fui conservado em regime de menor vigilância dentro dessa prisão, tendo em seguida sido transferido, com outro companheiros entretanto presos, para a Penitenciária de Lourenço Marques.
Mas, deixe-me referir, no que respeita às atitudes dos inquiridores durante o processo instrutório que o tal capitão Camilo reconheceu não haver contra mim qualquer prova de ordem jurídica mas, acrescentou, que no período revolucionário as provas jurídicas não tinham importância relativa e se era verdade que a meu respeito não tinham provas, também não tinham dúvidas. Isto significava, nos termos do “revolucionário” Camilo que podiam fazer de mim o que desejassem e achassem mais útil. E fizeram…
Século – Portanto, situa-se este relato que faz em período anterior à independência de Moçambique…
Cap. Luís Fernandes – Precisamente. Todo o relato que acabo de fazer situa-se no período do chamado Governo de Transição, em que a autoridade era exercida em nome do Presidente da República por um Alto-Comissário que representava a Soberania de Portugal em Moçambique, na medida em que era a Bandeira Verde-Rubra que lá se içava legal e legitimamente.
Século – Quando foi entregue à Frelimo e como se verificou a transferência dos prisioneiros portugueses sob a alçada da responsabilidade do Alto-Comissário para os carcereiros de Machel?
Cap. Luís Fernandes – Houve vagas sucessivas, seguidas de dois em dois dias, em que alguns elementos escolhidos, não sei com que critério, mas habitualmente antigos militares passados à disponibilidade em alturas muito recentes foram transferidos das autoridades portuguesas do Comando Territorial do Sul, em Lourenço Marques, para as pseudoautoridades da Frelimo. Muitos foram enviados para Porto Amélia e dali para as chamadas “zonas libertadas”, no interior do Distrito de Cabo Delgado.
Século – A vossa ida para os campos de concentração existentes nas “zonas libertadas” efectuou-se antes ou depois do 25 de Junho de 1975?
Cap. Luís Fernandes – Fomos enviados para os campos de concentração como prisioneiros da Frelimo cerca de três meses antes da data da independência de Moçambique, ou seja, em plena vigência da autoridade do Alto-Comissário. Em plena vigência da autoridade do hoje general Melo Egídio, então Comandante do Comando Territorial do Sul, a quem os presos estavam confiados e, portanto, esta transferência nunca se poderia ter dado sem o consentimento do Alto-Comissário da República Portuguesa, Vítor Crespo.

AVIÃO DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA TRANSPORTOU PRISIONEIROS DE MUEDA PARA A TANZÂNIA

Século – Para que “campos de recuperação” foram posteriormente conduzidos?
Cap. Luís Fernandes – Antes de sermos enviados para os chamados “campos de reeducação” da Frelimo, transferiram-nos para Mueda, onde em bloco fomos submetidos a julgamento popular, que teve por consequência a nossa condenação à morte sob as acusações mais diversas e caricatas, tendo a referida pena sido substituída, ulteriormente, por trabalhos forçados indefinidos.
O grupo de prisioneiros era então constituído por portugueses originários da Metrópole e alguns elementos oriundos da Província de Moçambique, dos quais citarei a dr.ª Joana Simião, Pedro Mondlane e outros dirigentes indígenas que haviam desertado das fileiras da Frelimo e recolhido às autoridades portuguesas para se reintegrarem na Comunidade Lusíada, e depois por estas entregues aos apaniguados de Samora Machel. Lembro-me de alguns nomes destes últimos: dr. Júlio Razão e o eng. Paulo Marquesa.
Após o julgamento popular foram os portugueses originários da Metrópole dispersos por diversas bases que serviam de campos de concentração, nomeadamente a Base Beira, próximo de Nangade e de Omar, a Base Moçambique –. A também conhecida por Base Central, localizada relativamente perto do Nangololo, a Base Gungunhana é outras cujo indicativo não recordo.
Quanto ao grupo formado por elementos naturais da Província Portuguesa de Moçambique, foi-lhes dado como destino o Campo de Nashingwea, no território da Tanzânia, sendo para ali transportados em avião militar português, Nord/Atlas da Força Aérea Portuguesa, que rumou da pista de Mueda para Dar-es-Salam.

PRISIONEIROS ABANDONADOS PELAS AUTORIDADES PORTUGUESAS

Século – Qual o número de portugueses seus companheiros de cativeiro nos campos de concentração de Cabo Delgado?
Cap. Luís Fernandes – Dos presos pelas autoridades militares de Lourenço Marques, éramos sete. Mas, para além de nós, havia nas prisões e campos de concentração da Frelimo muitos ex-militares portugueses, principalmente elementos de tropas especiais, directamente detidos por guerrilheiros ainda no período em que a única soberania que se exercia oficialmente em Moçambique era a de Portugal, sem que isso obstasse o total abandono a que nos votaram na altura da independência em circunstâncias deploráveis, que facilmente se imaginam.
Acho que não serão necessários grandes raciocínios para classificar esta situação como escandalosa, pois que para além dos aspectos humano, político e patriótico que encerra, denuncia uma aberração jurídica que, por si só, define uma capitulação total de uma autoridade que se recusava a existir por abdicar dos seus direitos e deveres para com os cidadãos que representava.
Século – Punham-vos ao corrente das “démarches” que entretanto se promoviam com vista à vossa libertação?
Cap. Luís Fernandes – De modo algum. Para que faça uma ideia da nossa existência, peço-lhe que recorde as imagens do filme “O Planeta dos Macacos” e dimensione a nossa vivência à dos extraterrestres desvinculados de qualquer rumor da civilização. Para além de tudo o mais, tínhamos os responsáveis da Frelimo pela nossa vigilância que gaguejavam, e muito mal, o português, sendo carcereiros cuja missão era a de nos dificultar a todo o momento a vida e não segredar-nos palavras de esperança.

TRABALHOS FORÇADOS SEM OBJECTIVOS DE RENTABILIDADE – EVACUAÇÃO DE TÁXI AÉREO

Século – Pode concretizar o tipo de regime a que vos sujeitavam os homens da Frelimo?
Cap. Luís Fernandes – Éramos sujeitos a um regime de trabalhos forçados da mais diversa ordem, principalmente no domínio agrícola. É evidente, mesmo para quem desconheça as realidades locais, que o estilo de produção é do mais primitivo possível, sendo o trabalho totalmente manual, de resto de pouca rentabilidade económica, até porque os trabalhos a que nos sujeitavam eram destinados mais a tornar-nos a vida insuportável do que a visar objectivos rentáveis.
Século – Quando se verificou o vosso regresso a Lisboa?
Cap. Luís Fernandes – O nosso regresso realizou-se após a deslocação do Secretário de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros a Lourenço Marques. Fomos então, (…) de Porto Amélia para a Beira, onde embarcámos com destino a Lisboa, escalando em Luanda.

UM POLÍCIA ESQUECIDO EM PORTO AMÉLIA

Século – Havia ainda em Porto Amélia (Pemba) algum elemento da P.S.P. portuguesa?
Cap. Luís Fernandes – Não. O único polícia português que lá se encontrava e encontra ainda, era um agente de origem europeia e natural de Portugal, detido pela Frelimo e por esta muito mal tratado. Convém salientar que o referido agente foi abandonado por camaradas seus da P.S.P., que regressaram a Portugal findo o contrato com o governo de Moçambique, em Dezembro do ano passado, sem exigirem o seu repatriamento.
Século – Já não era, portanto, aquando da vossa libertação, embaixador de Portugal em Moçambique, o dr. Albertino de Almeida?
Cap. Luís Fernandes – Não. Albertino de Almeida que não é, aliás diplomata de carreira mas apenas um advogado, já não se encontrava à frente da Embaixada de Portugal em Moçambique.
De resto, considero oportuno referir que o advogado Albertino de Almeida sempre foi um elemento da confiança do Partido Comunista Português, tendo sido em Angola colaborador directo de Lopo do Nascimento, do M.P.L.A. e talvez por isso se compreenda que quando embaixador de Portugal em Moçambique jamais tivesse tomado uma atitude a favor dos prisioneiros portugueses, como ainda impediu os funcionários consulares de promoverem qualquer diligência no sentido de melhorar a situação dos cidadãos portugueses encarcerados pela SNASP, que são em número superior a três centenas, não obstante as declarações em contrário proferidas pelo ministro Vítor Crespo.

O FURRIEL MOTA DOS COMANDOS AINDA PRESO EM MOÇAMBIQUE

Século – Quando do regresso a Lisboa foram alvo de interesse por parte da Imprensa portuguesa?
Cap. Luís Fernandes – A nossa chegada quase passou despercebida, não tendo havido por parte da Imprensa portuguesa qualquer interesse em saber o que tínhamos passado e o que sucedia ainda aos muitos portugueses detidos em Moçambique, sujeitos a um regime de desgaste físico e psíquico que os visa aniquilar.
Século – Colocamos o nosso espaço ao seu dispor para o caso de pretender referir qualquer assunto que não tenha sido abordado ao longo deste diálogo.
Cap. Luís Fernandes – Gostaria de frisar que há ainda em Moçambique muitos cidadãos portugueses detidos depois da independência daquele território. Há também um caso escandaloso que é o do furriel Mota, dos Comandos, preso pela Frelimo pouco depois da passagem à disponibilidade, antes da independência de Moçambique, portanto ainda sob a soberania portuguesa, o qual se encontra ainda num campo de concentração, ao que suponho algures em Cabo Delgado. Urge que as autoridades diplomáticas e governamentais do nosso País actuem rapidamente, com firmeza e energia, no sentido de serem libertados todos os nossos compatriotas.


Texto de Carlos Didier
In O Século de Joanesburgo, 19.04.1976, pág. 15"

O vento mudou e ele virou...

Ou o "viracasaquismo" no seu melhor...

Ontem lembrei-me muito do Amândio César. Contador de histórias ímpar. Com uma memória invejável. Igual, igual (para não dizer melhor) só me lembro do António Manuel Couto Viana. E eu, mais novo, e com a minha memória neste estado.(não é justo)

Bem este pequeno intróito tem a ver com um personagem bem desconhecido quer nos meios nacionalistas quer até nos do "reviralho". Mas que teve a sua importância.

Falo do advogado e escritor Dr. Virgílio Godinho (Prémio Ricardo Malheiros de 1942).

E quem era o indivíduo.

Estudou em Coimbra. Nunca se aproximou muito dos Integralistas. No entanto frequentava assiduamente os ambientes católicos. Ajudou Rolão Preto a formar os "Camisas Azuis" portugueses, de quem foi um dos principais apoiantes. O seu braço começou a ser levantado assiduamente.

No entanto e com a sua personalidade pouco dada a papéis subalternos, decide, por volta dos meados de 1941, criar um novo movimento. O Movimento Nacional-Corporativista dos Trabalhadores Portugueses. Igualzinho ao NSDAP, só que em vez de socialista se lia corporativista. Estava, na época por Coimbra. No entanto em 1942 já o movimento está bem implantado não só em Coimbra mas também em Lisboa, Porto, Barreiro e Covilhã (dois dos principais pólos operários portugueses da época). Conta com muitos apoios. Amândio César também por lá anda. Luís de Quadros também, e etc.
Nessa altura Hitler era poderoso e parecia invencível.

Só que o "vento mudou e ele virou".

Enfim a rotina habitual nos sem coluna vertebral. E para onde?, para um salazarismo versão soft? para a Acção Católica? Não nada disso. Foi logo para os que ele pensava serem os vencedores de amanhã. Vêmo-lo frenético em tudo o que é democracia, oposição, chega a ligar-se aos comunistas (que felizmente tinham vergonha e lá o escorraçaram um bocadinho).

Em 1958 vemos o nosso homem com Humberto Delgado (um dia conto-vos umas histórias de um dos mais fiéis de Delgado - o dr. Rodrigo de Abreu). Ainda frenético. Dizendo mal de Salazar, da Democracia Orgância pela qual se tinha tanto batido. A fé católica já tinha ido também às urtigas. (diz-se que passou a usar avental...). Em pleno marcelismo tenta uma aproximação à União Nova (designação que Marcelo e sus muchachos queriam colocar à antiga União Nacional de Salazar, até chegarem à versão final de ANP). Mas nem esse albergue espanhol o aceita. Vai então para o Congresso da Oposição Democrática de Aveiro, como representante do PC de Castelo Branco. Como vêem carreira bonita!

Enfim um regabofe. Ou seja, como diria Manuel Múrias (pai): "ele foi nosso, hoje é deles e amanhã (se não tivermos vergonha) será outra vez nosso".

quinta-feira, setembro 13, 2007

Prisão do Luis Fernandes

Para acabar, para já, com esta saga sobre os acontecimentos de Moçambique e relaccionados, quero falar hoje da prisão do nosso muito Luís Fernandes.

O Luís já tinha sido vítima de represálias aquando da sua tomada de posição no jornal Expresso (Maio 74). Em 7 de Setenbro encontrava-se em Lisboa. Pouco tempo depois avança para Moçambique, enquanto o Comandaante das Operações (um Coronel) aguardava, na África do Sul, para entrar em Moçambique de acordo com o desenvolvimento das acções do nosso Luís.

Entrando (semi-clandestinamente) em Moçambique por via férrea é transportado para Lourenço Marques (como ajudante de camionista). Na sua bagagem o seu uniforme. Várias vezes parado pelo bloqueio frelimista e dos mfa, consegue, contudo, chegar à capital de Moçambique, onde inicia (de imediato) os seus contactos. Traído por alguém é preso pelo MFA em 19 de Outubro de 74. É interrogado pelo famoso Capitão Camilo (Hoje Major General desta tropa que temos, e nomeado - por Paulo Portas !!!! - vice presidente da liga dos combatentes.

Dois dias depois (e já resultado da sua acção) ocorre a revolta dos Comandos, que eles tiveram grande dificuldade em travar.
Com ele livre e junto dos GE e GEP seria muito difícil ao mfa aguentar-se!

O resto da história é conhecida. Luís Fernandes é entregue (pelas FFAA "portuguesas"???) à Frelimo. E transportado em avião militar português para as bases da Frelimo, juntamente com Joana Simeão e etc. A ordem de entrega à frelimo é também do mfa Camilo. (o amigo do Portas!!! - Paulo, que não Miguel...).Pela primeira vez na História de Portugal um Oficial do nosso exército é entregue ao inimigo.

E só em Janeiro de 1976, depois de passar o indiscritível, é que o Luís é solto (depois de um período de "engorda e restabelecimento" propiciado pela frelimo para evitar demasiadas críticas internacionais. Regressado a Lisboa, poucos dias depois está já em Madrid, parta continuar o combate, apesar de bastante diminuído fisicamente. Porque moralmente nunca o conseguiram abater, pese embora a quantidade de fuzilamentos a que assistiu.

E, já em Madrid, dispôs-se a continuar de imediato o seu combate. Fosse onde fosse e para o que fosse. Foi aí que eu (acabadinho de regressar de umas coisas) o reencontrei e pude de novo abraçá-lo comovidamente!

quarta-feira, setembro 12, 2007

Ter opinião custa muito!

Ao longo destes meses temos sido bombardeados por um caso mediático que tem a ver com uma criança inglesa.

Para mim a única coisa que está em jogo (e a única verdadeiramente importante) é que há (ou houve) um drama terrível. O da Criança.

O resto cabe às autoridades especializadas descobrir, e fazer punir. E assim deveria ser.

Só que nós vivemos num mundo mediático. Os "media, ou mídia..." quais pitbulls desvairados não largam a presa. Em vez de serem (como se auto-proclamam) órgãos de informação, são (todos eles) empresas que precisam de facturar. Para isso precisam de casos destes. (Casa Pia - Incêndios - GNR Sta Comba Dão, etc.).

E criam o tal alarme social imprescindível ao nosso querido Ministério Público.

São acima de tudo órgãos de manipulação (manipulados) de especulação (manipulados) de julgamento social (manipulados).
E quando não são manipulados às vezes até inventam (já aconteceu - e acima de tudo ficou provado - pelo menos nos EUA).

Jornal houve nos EUA (do Sr. Hearst) que tudo fez para haver a Guerra contra os espanhóis em Cuba, para aumentar exponencialmente as suas vendas e concomitantes receitas. Desde sempre foi assim, por muito que custe aos nossos "independentes e probos" jornalistas. Vende tem emprego. Não vende - rua. Tão simples quanto isto.

Agora não se armem em puras donzelas ofendidas por piadas carroceiras. Vendem, ponto final. Tal como os vendedores de rabanetes, de cafés ou de telemóveis.

Fazer passar uma pessoa - ou neste caso um casal - de bestial a besta. é fácil. Basta sugerir e logo todos se voltam contra o objecto da sua sanha. E compram, e compram para saberem mais, sempre mais.

Não tenho capacidade nem conhecimentos para ter qualquer opinião neste caso. Nem eu nem 99,9999999% dos portugueses.

No entanto façam uma "sondagem". Garanto-vos que todos vão ter opinião!

E continuamos assim.

Nota desanimada: Desde um caso que teve a ver com um jovem de "extrema direita" (condenado a pesada pena) que perdi a virgindade. Acredito tanto na capacidade da actual PJ como acredito no Pai Natal. Mas garanto que eles apresentam um culpado. Faz-me lembrar o atentado bombista contra Salazar junto da casa do Pai de Freitas do Amaral. Três polícias investigaram e todas apresentaram o grupo dos culpados (com confissão e tudo). Só que eram três grupos diferentes, e só um deles (o posterirmente julgado) é que era o responsável. Ou seja, não é de agora!

Viriato do Niassa - 3















No último postal omiti (e muito me penalizo por isso) o nome de dois outros heróis portugueses que perderam a vida no mesmo local e data de Daniel Roxo.

São eles José Correia Pinto Ribeiro (Carnaval), ex - GEP, paraquedista trazido da Guiné pelo Coronel Costa Campos. Foi o principal operacional nas operações mandioca, em Moçambique. O outro é Ponciano Silva Soeiro, ex-comando e operacional dos Flechas. Eram três dos melhores comandos do Batalhão Bufalo (n.º 32).

Jazem hoje juntos em Pretória.

terça-feira, setembro 11, 2007

Viriato do Niassa - 2



Hoje quero recordar Daniel Roxo, português grande entre os grandes.

Transmontano de nascimento doou-se completamente à defesa da Pátria.

Morreu em território português de Angola continuando a luta onde o deixaram - no Batalhão 32 do Exército Sul Africano. Ele que foi sempre o Comandante aceitou as divisas de Sargento e decidiu (como tantos outros da sua estirpe) continuar o combate.

A sua acção em combate foi épica. A ele e a outros poucos portugueses se deve a grande vitória da ponte 14 (Dezembro de 1975 - no rio Nhia) em que milhares de cubanos e MPLA foram clamorosamente derrotados pelo Batalhão 32. Durante a batalha os portugueses do Batalhão 32 sofreram quatro mortos. Os Cubanos e MPLA perderam mais de 400 homens, embora o número exacto seja difícil de determinar pois, como a BBC mais tarde informou, camiões carregados de cadáveres estavam constantemente a sair da área em direcção ao norte. Entre os Cubanos mortos estava o comandante da força expedicionária daquele país, o Comandante Raul Diaz Arguelles, grande herói da Cuba de Fidel. E note-se sem a intervenção de meios aéreos! Só com apoio da artilharia.

Foi cronologicamente a última grande batalha em que soldados portugueses (no século XX) se bateram. E bem!

Trata-se de uma batalha que nas nossas Academias Militares não é estudada (nem sequer conhecida), mas que pelas inovações tácticas e emprego de pequeníssimos grupos de comandos deu resultados bem inesperados (para os cubanos, é claro). No entanto esta batalha é estudada (e bem) nas academias russas, britânicas e americanas (algumas).

Poucos meses depois o nosso Daniel Roxo morria em combate. Antes contudo tinha já recebido a maior condecoração sul africana (equivalente à nossa Torre e Espada). Só no primeiro reconhecimento abateu (sozinho) 11 inimigos a tiro.

Durante uma patrulha perto do rio Okavango, o seu Wolf (veículo anti minas semi blindado) rebentou uma mina e foi virado ao contrario, matando um homem e esmagando Roxo debaixo dele. O resto da tripulação tentou levantar o veiculo para o libertar mas era demasiado pesado. Breytenbach, (antigo comandante dos Búfalos, no seu livro (Eles vivem pela Espada - They Live by the Sword, pp. 105) escreveu:

Danny Roxo, mantendo-se com o seu carácter intrépido, decidiu tirar o melhor partido das coisas, acendendo um cigarro e fumando-o calmamente até que este acabou, e então morreu - ainda esmagado debaixo do Wolf. Ele não se tinha queixado uma única vez, não tinha dado um único gemido ou grito, apesar das dores de certeza serem enormes.

Assim morreu o Sargento Danny Roxo, um homem que se tinha tornado numa lenda nas Forças de Segurança Portuguesas em Moçambique, e que rapidamente se tinha tornado noutra lenda nas Forças Especiais Sul Africanas.

Viriato do Niassa




POEMA DE LUTO PESADO – II

(Morreu a combater por um Portugal de Portugal – Além-Mar-em-África, em fins d’Agosto de 1976, por ter caído numa armadilha de fabrico soviético, quando acudia em salvação de um dos seus homens)

Ao Abel Tavares de Almeida, com aquele abraço!...

O teu habitat há-de sempre ser à prova de devassa.
Está nesse mato
Mulato
Em que assentaste praça,
E que já hoje, de raiz, te abraça
— Viriato
Do Niassa!

Ao peso de capa de capim, que te revista,
Ou sob o tórrido tampão de terra que assista
À tua ausência
— É de pé, e bem a prumo, que o teu corpo agora jaz!

E, ao terrorista
Sem rumo,
Ainda hoje impões tenência
E passo atrás!

Até ao fim, fizeste a guerra
Por amor de um país chocho,
E frouxo,
Hoje por hoje entregue À cobardia.

(Ouves-me aí, Daniel,
DANIEL ROXO?...

— Esta pobre terra não te merecia!)

Mas, lá do regaço — ingrato —
Desse mato tropical,
Em que tu, afinal, ficaste intacto
— Já nem a própria morte te rechassa,
Viriato
Do Niassa!

E daí que eu te cante
E que eu te conte,
Comandante,
No horizonte d'este instante
Sem horizontes defronte;
E que daqui em diante
Não me cale —
Em recado encomendado
Para o solo, sacral
E tão sagrado,
Ao colo do qual
Já tu estás soldado.

Irado,
Absorto e reclinado
Sobre a sombra do teu corpo
Ou aos pés da tua alma
Ajoelhado,
Eu sei que estou, afinal,
Perante o desconforto,
Sem igual,
De ver baixar, ao teu coval,
Portugal amortalhado!

Recolha, agora, à sombra lisa d’uma lousa.
E, na asa abrasadora d’uma brisa,
Em paz repousa
Do esforço quinto-imperial,
Que tens levado.

Dá longas tréguas de sono
A esse teu corpo moço
— De colono
E de colosso;
De soldado
Ao solo dado!...

Rodrigo Emílio

segunda-feira, setembro 10, 2007

E o Jardim vinha ou não vinha?



É claro que nunca iria!

Sempre foi a nossa opinião, conhecidas que eram as suas esperanças de colaboração com a Frelimo e com Machel. Ele achava que ainda teria um papel relevante em Moçambique.

E tantos e tantos morreram com essa esperança ... Inocentes e crédulos.

Mas se nós tinhamos fundadas certezas, faltavam-nos as provas. Mas esse "grande português"? (Jaime N Pinto dixit) não estava pelos ajustes. Outros "valores" mais altos se apresentavam...

E como nos surgem as provas.

Já falei de um velho e valoroso Camarada Carlos Veríssimo Veiga que se "arrepiou" com as atitudes de Jardim. No entanto continuou com ele (a ver o que dava, disse-me na véspera da minha partida de Lourenço Marques para Lisboa). Pois o nosso Carlos viu o que se passou. E horrorizou-se! E escolheu - e quanto a mim bem - o único caminho que lhe restava, vir para Madrid, para junto dos seus camaradas (não se esquecendo, contudo de trazer vasta documentação "secreta" daqueles dias).
Eu nunca mais o vi desde Setembro de 73, mas tive a sorte de ler esses documentos... Ou seja as cartas de Jardim para os seus contactos para Moçambique no período anterior, decorrente e posterior ao 7 de Setembro.

Poucos anos depois CVV terá eventualmente pago com a vida este seu acto. (é só uma mera opinião minha, não tenho qualquer prova que corrobore esta afirmação). CVV tinha vasta experiência na luta política. Era um operacional. Tinha sido dos melhores alunos de um curso que os camaradas da OAS ministraram em Portugal a jovens nacionalistas nos anos 60. Sabia avaliar riscos, enfrentar situações complicadas, tinha as técnicas de segurança bem estudadas e sabia aplicá-las. Contudo caiu (aparentemente) como um patinho numa emboscada numa estrada da Namíbia feita (oficialmente) por um grupo de banditagem e abatido a tiro. Será que ele pararia e sairia do carro se não fosse gente conhecida?

Não quero tirar qualquer conclusão. Acho muito estranho, apenas!

O que aconteceu a 7 de Setembro



Nesse dia, Mário Soares e Samora Machel concluiram em Lusaca o calendário para a independência do território. O ministro dos negócios estrangeiros português (Mário Soares), sempre pressuroso em agradar aos seus interlocutores, alargou-se em generosidades e insistiu em não apresentar quaisquer condições que aquietassem o terror que se ia apossando de todos os moçambicanos hostis à entrega do poder a um movimento armado, ultraminoritário e comunista. Divulgado o acordo para a transmissão de poderes, realizou-se nos arrabaldes de Lourenço Marques um ajuntamento da FRELIMO, no termo do qual se deram largas ao ódio anti-português. Pontificaram nas arruaças membros do grupo "Democratas de Moçambique", maioritariamente ligados ao advogado e milionário Almeida Santos.

A bandeira portuguesa foi arrastada num camião pelas ruas perante a população. Foi o rastilho. Sem que aqueles que estavam a preparar activamente a resposta dessem por isso, ou sequer a planeassem milhares de pessoa de todas as etnias ocuparam o aeroporto, a estação do Rádio Clube de Moçambique, as redacções dos jornais e conglomeraram-se numa imensa massa humana nas principais artérias da capital. As autoridades que tinham tomado conta "disto" atacaram de imediato os portugueses revoltados, com ameaças muito explícitas. O PS e o PCP emitiam comunicados que não deixavam qualquer margem para contemporizações. O PS afirmava sem rebuço: "não pode admitir-se que uma minoria de reaccionários impeça o caminho do povo de Moçambique para a sua própria libertação. (...) A descolonização portuguesa constitui uma forma nova, original e revolucionária, sem paralelo em experiências estranhas, de formar uma aliança de povos senhores dos próprios destinos e livres da ingerência das superpotências" (in República, 10.09.1974). O PS ainda fazia ainda parelha com o PCP nesse conturbado Setembro em que Spínola, cada vez mais patético do alto da sua arrogância autista, pedia que a "Maioria Silenciosa" se pronunciasse.

Samora Machel e alguma "tropa fandanga" portuguesa puseram-se de acordo e decidiram agir. Spínola enviou ameaças aos líderes da revolta portuguesa, insinuando que se fosse preciso mandava a aviação bombardear o Rádio Clube de Moçambique. Diz-se (Jorge Jardim, in Moçambique Terra Queimada e Clotilde Mesquitela- 7 de Setembro) que Soares terá pronunciado a terrível ameaça: "se for preciso, atirem-nos [aos revoltosos] ao mar".

A jornaleiragem de Lisboa tentou por todos os meios escamotear a dimensão do movimento, imputando-o a uma minoria sem expressão. Contudo, a revolta foi colectiva, cobrindo a quase totalidade das minorias branca e asiática, a quase totalidade dos miscigenados e vastos sectores da população negra. A liderança do movimento englobava muitos dirigentes negros importantes - Joana Simeão (Macua), Kavandame (Maconde), o pastor Uria Simango, mas também Grilo (ex PCP), Neves Anacleto (avô do Louçã), etc. Ou seja muita gente - chefia nenhuma. E quando digo que não havia chefia, significo com isso que não havia ninguém reconhecidamente capaz de agregar o autêntico "melting pot" surgido expontaneamente nessa data.

A Manuel Gomes dos Santos, que comandava a RCM, faltava-lhe a capacidade política para definir rumos e estratégias. Gonçalo Mesquitela não pode assumir a direcção do movimento por ser considerado próximo do anterior regime. Ou seja toda aquela gente (menos os nossos - que já não tinham qualquer dúvida sobre ele) esperava por Jorge Jardim.

A partir do dia 9 (nesse dia chegaram tropas da Frelimo de avião, vindas da Tanzânia) e, com o apoio (ou a cumplicidade por pura omissão das FFAA "portuguesas"), começou a vingança dos comunas. Centenas de mortos. Violações. Roubos e destruições. No dia 9, transportados de avião, chegaram aos subúrbios de Lourenço Marques os primeiros efectivos da FRELIMO.

O movimento esboroava-se. Continiuava à espera do D. Sebastião: Jardim (que nunca mais vinha, pudera...)

Machel, de Dar-es-Sallam, estimava que os "vagabundos e criminosos" (A Capital, 10 de Setembro 1974) seriam esmagados, no preciso momento em que o Vitor Crespo, assumia em Lisboa as funções de Alto Comissário Geral de Moçambique.

No preiamar das matanças e desmandos, Rui Knopfli, director de A Tribuna de Lourenço Marques, açulava: "esses grupos activistas são compostos por filhos de família, ex-comandos e um sector da pequena burguesia comerciante, que por ignorância se deixaram arrastar nesta aventura".

Recordações, para que vos quero...

Ou melhor ainda, resposta a um leitor (Panzerfaust).

Pacheco Pereira, ainda bem recentemente, falou na necessidade de surgirem mais memórias dos tempos passados. Falava, é claro, da esquerda e extrema esquerda. Enumerou, na altura, uma série de memórias já publicadas (algumas bem incompletas, como as do Narciso da ARA). Da direita e extrema direita não falou. Para ele estes não são gente.

É certo que há muito pouca vontade de falar (até porque muita gente está viva, outros que mudaram de camisa, etc.). Também a omni presença na historiografia académica portuguesa da esquerda caviar não permite (ou não aconselha) publicações sobre determinados assuntos.

No entanto um jovem Investigador de uma Universidade Italiana veio a Portugal fazer uma tese académica sobre "A Extrema Direita em Portugal - 1945/1974).

Muniu-se, para isso, para além das credenciais da sua Universidade (que lhe deram acesso a muitos arquivos - PIDE, Salazar, Legião, MP, etc) de uma série de contactos que lhe permitiram entrevistas pessoais com algumas (muitas) pessoas que viveram a experiência em estudo.

Foram quase dois anos de investigação. Já li o rascunho final de alguns capítulos referentes a uma época e entidades em que algumas coisas vivi. Parece-me um trabalho de muito fôlego, bem documentado, não faccioso. Tem algumas falhas, fala de alguns factos (que bem explicados teriam melhor entendimento), mas globalmente é livro que se recomenda vivamente (apesar de algumas pessoas que vestiram "jaqueta nueva" nos seus depoimentos não contarem tudo, ou melhor dizendo, contarem à sua moda).

O trabalho (tanto quanto eu sei) está em discussão académica. Será objecto de publicação em Itália e já há uma editora que conseguiu os direitos para ser lançada (posteriormente) a tradução portuguesa. E vão ver que vão gostar muito do livro.

Depois da sua publicação em Portugal terei então oportunidade de fazer alguns acrescentos naqueles factos que vivi e presenciei. Até lá aguardemos a versão final.

E é neste livro que Luís Fernandes já conta algumas coisas. Poucas, é certo.

Mas mais importante que o período pré-abrilino será o período pós-25. Eu sei que é cedo para falar de algumas coisas, mas ficar-se-á a conhecer muitas coisas que são completamente desconhecidas para o grande público e até para os historiadores (com documentos e tudo...). E aí o Luís (e não só - recordo já outro que há muito não aparece publicamente, mas que se mantém fiel aos seus ideais) tem um papel fundamental.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Mas como é que se chegou aqui!


No seguimento do postal sobre o "Unidade" convém explicar mais algumas coisas.

O grupo que então se estava a consolidar dispunha de muitos elementos de diversas etnias, com um objectivo comum. Continuarem portugueses.

Vários jovens de diversas origens em que se destacaram os filhos Mesquitela e os filhos Cardiga, auxiliados por diversos elementos mais "musculosos" da OPVDC (Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil - uma espécie de defesa civil semi militarizada) e por não poucos camaradas já bem batidos nas lutas contra os comunas na Metrópole estavam já em confronto com os estudantes pró-comunistas da Universidade. Isto antes do 25.

Com o 25 toda a organização foi reforçada e continuou-se com o recrutamento. Ocorreram alguns choques - verbais e físicos - com os "brancos progressistas e maçónicos". E lentamente começou-se a pensar a sério em diversas actividades.

Como disse o nosso Luís Fernandes estava em Moçambique. A sua força e prestígio eram muito grandes. Também se passou a contar com o apoio e colaboração de Daniel Roxo (herói mítico do Niassa) e a quem Rodrigo Emílio dedicou um dos seus mais belos poemas (na data da sua morte provocada por uma mina na faixa de Caprivi), apelidando-o, muito acertadamente de "Viriato do Niassa".

Ora o nosso Luís cometeu um "erro" (eu por um lado considero que sim, por outro acho que o que ele fez foi muito bem, porque demonstrou uma coragem ímpar). Esse "erro" custou-lhe alguns dissabores, mas também lhe outorgou muito prestígio.

E que "erro" foi esse?

No dia 24 de Abril o nosso Luís embarcou ao fim da noite para Moçambique. Tinha estado na Metrópole em férias. Umas horas antes de partir pode avisar as hierarquias militares que o "golpe" seria nessa noite. Muito admirado ficou quando chegou ao verificar que nada tinha sido feito e que eles tinham "provisoriamente" ganho. Logo escreveu uma carta ao Expresso (publicada nos primeiros dias de Maio) em que declarava continuar com as mesmas ideias e ideais e que iria agir em conformidade. Foi a bronca das broncas. Alguém que afirmava num jornal que iria agir em conformidade com as suas ideias foi uma pedrada nos "abrilinos".

Bom, isto só para dizer que o Luís já não tinha comando de tropas no dia 7 de Setembro.

E falo disto tudo porque continuo a aguardar as esperadíssimas memórias do Luís que o Rodrigo insistiu (na última conversa que com ele tive) que fossem rapidamente publicadas. Quando elas surgirem muitas coisas verão a luz do dia pela primeira vez!