terça-feira, julho 31, 2007

Tempos de chumbo

O Novo Press - instituição por quem tenho o maior apreço e cuja leitura não dispenso - resolveu (numa perspectiva louvável) dar umas pinceladas na história da "Aginter Press". Quanto a mim, foi induzida em erro (grave) recorrendo a fontes muito pouco informadas e bastante manipuladas.

Acho que nos cabe a nós (os velhinhos) repor um pouco a verdade.

Mas voltemos (por uns instantes aos anos 60/70 do século passado). Um pouco por todo o mundo assistia-se a um combate aceso entre os nacionalistas e os comunistas.

Os soviéticos nunca (mas mesmo nunca) deixaram de ter em vista o facto de as únicas pessoas que lhes poderiam fazer frente (com armas e vontades iguais) eram os nacionalistas. Os patetas alegres ou tristes da democracia não os incomodavam por aí além. Quem não se recorda da expressão "better red than dead" que poluía os ambientes europeus dos anos 60 (e exarcebado com a guerra do Vietnam). Mas este assunto não cabe (em espaço) neste postal.

Todos aqueles que passaram por organizações militantes revolucionárias de direita ou de esquerda sabem de experiência própria que muitas vezes(mas mesmo muitas) eram utilizados (ou melhor dizendo manipulados) por serviços ditos secretos de diversas potências mundiais. Aliás essa organizações existiam para fazer (de outro modo) coisas que legalmente os governos não poderiam fazer. A história dessas situações é longa e conhecida. A inocência e voluntarismo desses militantes era muitas vezes aproveitada pelos serviços para alcançarem os fins que pretendiam (e gastando muito pouco dinheiro). A rede gládio é um exemplo. A utilização de um Lobo Cinzento para "fazer" o Papa João Paulo II é outro. Mas também poderíamos falar de Portugal (talvez um dia...).

Adiante. Em Portugal existia uma organização - a Voz do Ocidente - que difundia radiofonicamente através da Emissora Nacional a propaganda externa do Governo de Portugal. Por ela passaram grandes (enormes) vultos do pensamento europeu. Lembro-me, sem qualquer tipo de seriação, de Jacques Ploncard d'Assac, Henri Massis, Umberto Mazzoti e tantos e tantos outros. Com ela colaborava também o muito nosso Luís Fernandes.

Com a guerra do Ultramar no seu auge (e face à propaganda massiva da esquerda europeia)surge nos gabinetes do Quelhas a ideia de criar uma agência de informação que difundisse as notícias junto das centenas de publicações nacionalistas europeias. É em Setembro de 1966 que é criada a Aginter Press. (agência noticiosa). A sua sede era em Lisboa na zona da Lapa, na casa do Comandante Valentin, oficial petainista que buscou rfúgio em Portugal e que cedeu gratuitamente as instalações.

Pois boas contas faz o preto ... Logo muita gente viu as possibilidades dessa agência (que creditava nacional e internacionalmente jornalistas - disfarce muito usado em operações "discretas") e resolveu aproveitá-la (também) para outros fins.

Havia também um homem providencial em Portugal. Antigo quadro da OAS francesa, especilista em guerra de guerrilhas e clandestinidade e que formou nessas suas competências alguns militantes NR portugueses (essa especialização foi vital - uns anos depois - na luta contra a implantação de um estado comunista em Portugal). Além de mais (e não nos esqueçamos) havia uma solidariedade bem significativa e não bem organizada da comunidade nacionalista à escala internacional. Essa solidariedade estendia-se pela Europa, América Latina e mesmo Ásia. Também para ser uma organizador colectivo (no sentido das palavras de Lenine) a Aginter Press serviu. Existia na altura a WACL (Liga Mundial anti-comunista) que também tinha esse papel mas cheirava muito a americano...

Existia em Portugal a chamada "PIDE/DGS" cujas funções para além das mais conhecidas desempenhava funções de espionagem e contra espionagem (e operações encobertas, é claro) viu as potencialidades da AGINTER para todas essas actividades. Também a usou e de que maneira. Algumas das mais bem sucedidas infiltrações da nossa espionagem nos nossos inimigos africanos foram gizados na Aginter Press.

É isto (grosso modo) o que se pode dizer da Aginter. Nunca foi uma organização de mercenários ou coisa parecida. Muito da melhor gente que havia na Europa e América Latina por lá passou.

Os arquivos da Aginter foram dos primeiros a cair com o 25. Houve diversas tentativas de os neutralizar, mas desde os primeiros dias do golpe que a referida casa estava vigiada à espera de quem lá fosse. Só que os vigilantes eram (mesmo) muito pouco sabidos.

E não confundamos uma organização deste teor com as pretensas organizações de Skorzeny, Odessas e outras a que a propaganda do sistema recorria sempre que precisava.

Sobre o assunto e tanto quanto me recordo pode procurar-se nas hemerotecas um artigo publicado no Expresso (algures por Maio/junho de 1974) que relatava a vida desta agência e publicava alguns documentos apreendidos (por exemplo a ficha do Luís Fernandes) e falava também da importância da Dra Maria da Paz Barros Santos (outra grande combatente nacionalista muito, mas mesmo muito pouco conhecida)

1 comentário:

Duarte de Jesus disse...

Estou a fazer uma investigação histórica sobre a época da Aginter e gostaria de ter mais elementos interessantes sobre a figura de Dra. Maria da Paz Barros Santos da Emissora Nacional.

duartej_pt@yahoo.com