terça-feira, julho 17, 2007

Quem havia de dizer. Eu já fui "hooligan"...

ou, o que o Amândio César me fez passar...

Mas eu conto.

Quem olhar para esta carcaça decrépita e adiposa em que me transformei nunca imaginaria que eu já fui um "hooligan desportivo". Mas a verdade é que fui. Confesso. Mas acho que por bons motivos.

Um dia (anos 63 a 65)estava eu no café Aviz numa alegre cavaqueira de tertúlia quando vejo entrar o Amândio César ofegante a pedir ajuda. Saímos todos (eramos uns 6 ou 7) e vimos o que se estava a passar.

No Monumento aos Heróis da Independência, nos Restauradores, um grupo de dezenas de adeptos de um clube holandês (que naquela noite jogava contra o Benfica) tinha ocupado a referida estátua, preparando-se para hastear a bandeira do clube ou da Holanda (já não me lembro bem) no cimo do Monumento Pátrio. O Amândio decidiu logo (e muito bem) que aquilo era demais.

Para quem não conheceu o Amândio posso dizer que o mesmo era como um "panzer". Macrocéfalo, peitudo e arraçado, com uma mãos imensas. A sua voz era como um "órgão de estaline". Tronitroante e avassaladora. Com uma coragem física enorme.

Decidiu-se logo pelo assalto, seguido de perto por 3 ou 4 jovens e 2 ou 3 menos jovens. Foi épico. Tivemos a sorte de muitos portuguesas que por ali passavam se terem aliado a nós. É óbvio que a bandeira foi logo arrancada,(não calculam as vertigens causadas pela descida desde lá de cima da estátua, porque para cima não custou nada) e o Monumento desocupado.

Claro acabámos todos no "Torel", que neste caso foi a esquadra da PSP do D. Maria. O que nos valeu foi o chefe da esquadra ser também ele um patriota que ao perceber as razões deste nosso assalto não só nos deu razão, como verberou acidamente os holandeses presentes.(que no fim nos apresentaram desculpas...)

Mas tudo acabou em bem. Se fosse hoje estávamos feitos. E penso que o chefe da esquadra era capaz de nos falar demoradamente da União Europeia, da liberdade, da... ou seja da treta do costume. E desconfio que desta vez íamos todos mesmo parar à PJ para sermos todos julgados como arruaceiros ou como "fascistas".

Ou seja como as coisas mudam... desde o tempo da repressão para o tempo da liberdade...

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