terça-feira, março 27, 2007

Sobe e Desce

Hoje e ao contrário dos meses anteriores tive oportunidade de passar os olhos no diário "Público". Só a primeira e a última página. Mas valeu a pena.

Sei que se trata de uma publicação propriedade de um senhor que à conta do chamado "capitalismo popular" abichou uns milhões na Bolsa (das poupanças de uns pobres diabos a quem convenceram que iam ficar ricos). Com esses milhões transformou-se no Rei dos merceeiros abrindo uma série dessas lojas (novos templos do consumo) um pouco por todo o Portugal (com excepção da Madeira que o Alberto João não deixou). Bom esse Engenheiro (este é mesmo!) Belmiro que gosta de dar razão a Lenine (os capitalistas fornecerão as cordas em que serão enforcados) transformou a folha que dá pelo nome de Público no grande alforje de "periodistas" ligados ao berloque caviar. Bem cada qual come do que gosta, por isso que se danem. Mas esse facto não me inibe de dizer uma ou duas coisas. A ignorância, a falta de cultura e o chamado etno-centrismo desta Cosmocracia em que estamos a viver, levam-os a dizer os maiores dislates e disparates, sem se aperceberem que se estão a auto definir como um grupo de incultos e ineptos.

Tudo isto vem a propósito da rubrica Sobe e Desce do periódico. O jornalista, jornaleiro (ou lá o que é) que não assina essa peça declara com grande veemência a sua ignorância total. É pena e devia ter mais cuidado.

Mas que é que diz o pequeno(a)?: Que o Japão continua incapaz de encarar os crimes de II guerra. Koizumi, o anterior primeiro ministro, afrontava todos os anos a China porque visitava o Templo de Yasukini em que estão sepultados criminosos de guerra e que o actual primeiro ministro Shinzo Abe ia pelo mesmo caminho. Grosso modo era esta a linha do raciocínio.

Bom, vou tentar enviar-lhe o livro recentemente editado em França (Chine - Japon, l' affrontement, de Valérie Piquet, Perrin, ed 2007, 220 pag, 18,50 €). Talvez assim perceba.

Mas como se calhar não sabe ler francês vou eu resumir-lhe algumas ideias.

Há um provérbio chinês que diz que uma montanha não pode albergar dois tigres. Com o despertar do gigante económico e político China, a tensão nunca mais deixou de ser uma constante entre os dois "galos, neste caso Tigres" que lutam pelo mesmo poleiro. A supremacia na Ásia.

A grande China insurge-se contra a hegemonia técnica e cultural do Japão (fruto de um sistema educativo que devia ser estudado afincadamente por todos os "pedagogos" portugueses que nos impõe o "eduquês" como forma de ensino).

O Império do Meio quer reencontrar o lugar de chefia que foi seu durante séculos e séculos. Para isso, nomeadamente socorre-se das técnicas de culpabilização que tão bons resultados tiveram para domar os europeus no pós 45. A campanha orquestrada (com ameaças à mistura) sobre a culpabilização do Japão não teve contudo os resultados esperados. Valérie Piquet, Investigadora do IFRI, explica-nos que essa força de resistência lhes provem do Shintoísmo e como tal, escudados na religião e na tradição são imunes à chantagem chinesa. Aliás Valérie Piquet cita-nos o superior shintoista do Santuário de Yasukani: "as almas dos criminosos de guerra nunca poderão ser deslocadas deste santuário. Trata-se de um assunto religioso. Além do mais não reconhecemos a noção de criminoso de guerra adoptado pelos americanos no processo de Tóquio"

Neste livro aliás ( e depois de analisar atenta e profundamente as relações entre as duas nações) a investigadora francesa mostra-nos que as acusações chinesas tiveram um resultado inesperado. O despertar da consciência nacional japonesa, que atravessa hoje toda a classe política, empresarial, religiosa e popular do Japão.

Hoje podemos dizer com toda a certeza. Mishima tu tinhas razão quando te imolaste para o Japão voltar a ser Japão e não um mero lacaio dos EUA. Hoje também tu és homenageado anualmente em Yasukani.

2 comentários:

Marcos Pinho de Escobar disse...

Excelente texto. Vou já buscar este livro. Pelo menos há um que não cai no conto da "culpabilização".

Anónimo disse...

Muito bem...

Legionário