quarta-feira, janeiro 31, 2007

E entrei eu de pantufas

Pois é. Entrei eu de pantufas na blogosfera esperando dominar melhor o "bicho" antes de dar nas vistas e eis senão quando o "Nonas" deu por mim. Até o BOS por quem tenho muita consideração me elogiou. Agora tenho mesmo que avançar. Amanhã já escreverei um texto sobre a "arte" contemporânea. Se pensam que é uma indirecta ao Berardo e à Ministra da Cultura, desenganem-se. É mesmo uma directa.
E obrigado pela atenção.

epifania - Helnwein gottfried

terça-feira, janeiro 30, 2007

Relembrando (sempre) Rodrigo Emílio.

Bom tema inicial para este blog. Vou falar de uma faceta pouco conhecida de Rodrigo Emílio – a sua ligação à música.

Tive oportunidade, há uns pares de anos, de ter em minha posse os apontamentos do grande pianista e Professsor V. N. Brederode relativos a um seu ”brilhante aluno” Rodrigo de Mello, filho.

Neles o Professor referia-se ao nosso Rodrigo como “respira e transpira música por todos os poros” ... “mas a técnica está pouco trabalhada. Precisa de trabalho, trabalho, trabalho!”

Uns meses depois pude confrontar o nosso Rodrigo com essa opinião do seu professor. Segundo me disse, a razão do seu desinteresse pelo trabalho técnico inerente à aprendizagem do instrumento, prendia-se no facto de ele próprio reconhecer que poderia ser um bom músico e um bom pianista, mas nunca um Bom Pianista. Mas que a sua aprendizagem musical não tinha sido tempo perdido e que tinha sido determinante na sua arte poética. O ritmo e a Ideia são tudo. Na Poesia e na Música.

Todo este intróito tem a ver com a releitura permanente que faço da obra do Poeta, e também quando escuto os seus poemas musicados quer pelo enorme José Campos e Sousa (também ele respira música por todos os poros) quer ainda por, pelo menos, dois compositores de música dita clássica. Temas há nessas músicas em que se reconhece imediatamente a Poesia do Rodrigo.

No século XIX e XX a polémica sobre a conjugação da Música e da Poesia foi grande. O nosso Pessoa também meteu a colherada. E se a princípio se manifestou contra Verlaine e Mallarmé depois houve uma convergência com os expoentes do simbolismo . Aliás lendo as suas Obras em Prosa, (Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1998) verificamos isso mesmo. “A Poesia é uma música que se faz com ideias, e por isso com palavras”(pag. 142); É, aliás, “à Ideia que Pessoa, tal como Mallarmé e Verlaine dá a prevalência como elemento constitutivo da música na poesia. Aliás, tal como os simbolistas Pessoa atribui à Ideia a função fundamental no discurso poético. E a páginas 501 chega a definir o poema como “um quadro musical de (em) ideias”.

Penso que Rodrigo Emílio para além da sua formação musical teve também a influência de alguns dos seus poetas franceses de estimação. Tal como Mallarmé que dizia “employez Musique dans le sens grec, au fond signifiant Idee ou rythme entre les rapports”.

“È, ao fim e ao cabo, das relações entre todos os elementos da linguagem, tanto no plano da forma de expressão como do conteúdo, que emerge a música do poema, como “uma hesitação prolongada entre o som e o sentido”, na bela definição de Paul Valèry, que tão atento foi à experiência mallarmeana da Poesia”.

Tudo tem a ver com a Língua, a prosódia, com o ritmo e com a ideia. Se houve poetas que nos ensinaram que línguas imperfeitas há muitas, e que falta a suprema, também houve aqueles que consideraram que só o verso remunera e repara os defeitos da língua. Rodrigo Emílio, também aí foi determinante. Imbuído do ensinamento heidegeriano de que o conceito corresponde à palavra e a palavra ao conceito Rodrigo Emílio deixou-nos as páginas de poesia que hoje e sempre nos continuam a encantar.

Rodrigo Emílio, continuo a sentir muito a falta da tua presença física.